Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo
19 de outubro de 2021 | 08h34
Atualizado 19 de outubro de 2021 | 11h34
A B3 acaba de fechar a aquisição da empresa de tecnologia Neoway, especializada em exploração e análise de dados, ou “big data analytics”. Em uma negociação disputada, a Bolsa brasileira vai desembolsar R$ 1,8 bilhão pela empresa, que irá adicionar uma nova fonte de receitas à companhia, mergulhando em um mercado de R$ 4 bilhões ao ano no Brasil e com alto potencial de crescimento.
A transação marca a maior aquisição da companhia desde 2017, quando foi concluída a compra da Cetip pela BM&FBovespa. A Neoway também estava na mira da Serasa Experian, que acabou vencida na disputa pelo ativo.
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“Já fazemos o uso tradicional de dados, mas não exploramos o potencial de muitos dados que temos, dentro do que podemos fazer de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados e cruzar com dados públicos”, afirmou o presidente da B3, Gilson Finkelzstain, ao Estadão. Segundo o executivo a Bolsa ainda vê oportunidades de crescimento nesse mercado e segue interessada em aquisições, seja de controle ou de uma participação minoritária.
A Neoway é uma empresa catarinense fundada em 2002, uma das maiores no segmento de análise de big data e inteligência artificial para negócios do País. Ela coleta e cruza dados de um determinado mercado, que podem ser úteis, por exemplo, para empresas otimizarem vendas, otimizarem processos ou a diminuírem seus riscos.
Com esses dados, uma companhia pode até mesmo entender melhor seus clientes para tomar a decisão sobre uma estratégia de marketing ou lançamento de um novo produto. Esses pacotes de dados são vendidos conforme a necessidade do cliente.
E a demanda por esse tipo de produto vem aumentando, levando a um crescimento anual da empresa da ordem de 15% a 20% ao ano. Para 2022, a previsão da Neoway, que possui hoje uma base com 500 clientes, é de faturamento de R$ 190 milhões. A Bolsa é cliente da Neoway desde 2014.
Além de essa aquisição marcar o maior movimento desde a compra da Cetip pela BM&FBovespa, transação que criou a B3, ela demonstra o apetite da companhia em diversificação em negócios adjacentes ao seu principal negócio, de olho em tecnologia.
Neste ano, no mesmo setor, já tinha anunciado um aporte de R$ 600 milhões na TFS Soluções em Software, subsidiária da Totvs, ficando com uma participação minoritária de 37,5% na empresa.
Há espaço para mais
O uso de dados já é algo explorado por Bolsas de Valores estrangeiras. Segundo o executivo, a B3, ao contrário das demais Bolsas, possui diferentes frentes de negócios, que vão além da renda variável e da renda fixa, como a área de financiamentos de automóveis e do setor imobiliário.
Do lado estratégico, Finkelsztain diz que, além de trazer uma nova frente de crescimento, a Neoway adicionará à Bolsa uma fonte de receita recorrente e que não depende de volumes de negociação do mercado acionário.
A B3 ainda vê oportunidades de crescer em novas verticais além da análise de dados. “Dentro da nossa estratégia de crescimento queremos também crescer em seguros, em mercado de carbono e recebíveis de cartões”, enumera o executivo.
Ainda na estratégia de avançar em novas frentes adjacentes ao seu negócio-chave, a Bolsa também analisa oportunidades com o viés mais digital, como em criptoativos e na tokenização, que tratam da representação digital e criptografada de um ativo, mercado em pleno crescimento por conta da tecnologia do blockchain.
A transação será paga integralmente com dinheiro e ainda precisará passar pelo aval dos acionistas da companhia, além da chancela dos reguladores, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
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