Mike Ives, The New York Times - Life/Style, O Estado de S.Paulo
11 de outubro de 2021 | 05h00
Em todo o Brasil, as usinas de reciclagem pararam de funcionar por meses. Em Uganda, uma instalação está sem plásticos reutilizáveis. E na capital da Indonésia, luvas descartáveis e protetores faciais estão se acumulando na foz de um rio.
O crescente consumo de plásticos e embalagens durante a pandemia produziu montanhas de resíduos. Mas, como os temores da covid-19 ocasionaram paralisações nas usinas de reciclagem, bastante material reutilizável foi jogado fora ou queimado.
Ao mesmo tempo, grandes volumes de equipamentos de proteção individual, ou EPI, foram erroneamente classificados como perigosos, dizem especialistas em resíduos sólidos. Esse material muitas vezes não é permitido no lixo normal, então boa parte dele é jogado em fossas de queima ou lixões.
Especialistas dizem que, em ambos os casos, o problema é que um medo precoce - de que o coronavírus pudesse se espalhar facilmente pelas superfícies - criou um estigma persistente em torno do manuseio de lixo perfeitamente seguro. Desde então, muitos cientistas e agências governamentais descobriram que o medo da transmissão pela superfície era exagerado. Mas é difícil mudar os hábitos, especialmente em países onde as diretrizes de descarte de resíduos não foram atualizadas e as autoridades ainda estão preocupadas em combater novos surtos.
As taxas de reciclagem caíram drasticamente em todo o mundo no ano passado, em parte porque a demanda dos fabricantes também caiu. Em muitos países onde a indústria de reciclagem ainda é movida pela seleção manual, e não por máquinas, o trabalho presencial foi suspenso por temores relacionados aos vírus. Um estudo descobriu que, durante o período de suspensão, pelo menos 16 mil toneladas de material reciclável a menos do que o normal estavam em circulação, representando uma perda econômica de cerca de US $ 1,2 milhão por mês para associações de catadores.
As taxas de reciclagem agora estão voltando aos níveis pré-covid nas economias desenvolvidas, disse James Michelsen, especialista em resíduos sólidos.
Mas, em países onde a reciclagem é conduzida por coletores informais, acrescentou ele, lockdowns e surtos estão criando grandes interrupções.
Além disso, a maioria dos EPI não é perigosa, mas muitos países ainda os classificam como tal, disse Michelsen. Isso significa que luvas e máscaras usadas estão sendo agrupadas com resíduos médicos realmente perigosos.
Uma preocupação emergente é que, à medida que a inundação de material cria novas pressões sobre as autoridades locais, seringas e outros resíduos médicos realmente perigosos podem acabar nos lugares errados. E, como as seringas e os frascos de vacinas são uma mercadoria valiosa no mercado paralelo, as gangues de criminosos têm um incentivo para roubar o equipamento de vacinação e revendê-lo ilegalmente no sistema de saúde. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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