Em seu recente livro, "How to Avoid a Climate Disaster" (Como evitar o desastre climático), Bill Gates define o “ágio verde” (“green premium”) como a diferença de custo entre fazer algo (produto, serviço ou atividade) da maneira tradicional (com emissão de carbono) e fazer o mesmo de forma limpa, “verde”.
Organismos multilaterais e governos de países desenvolvidos têm forçado as empresas a implementar uma transição rápida para o mundo verde. Do lado privado, a mudança no comportamento do consumidor de países ricos e o ESG também contribuem na mesma direção.
A transição energética –cuja meta é alcançar zero emissões líquidas em 2050–, é o maior desafio que a humanidade já teve, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). Poucos, no entanto, compreendem a magnitude dos sacrifícios necessários para chegarmos lá.
O ágio verde ainda é muito alto, e o encarecimento dos produtos frequentemente os torna inacessíveis para a população de mais baixa renda. A fabricação de aço mais limpo custa 30% mais caro, e o querosene de aviação mais limpo custa mais que o dobro que o tradicional.
Os ambientalistas argumentam que este é um preço baixo a pagar para salvar a humanidade da catástrofe das mudanças climáticas. Mas não são os ambientalistas da ONU que pagam este “imposto verde”. Ao contrário dos pobres no Brasil e em países subdesenvolvidos, a população de países ricos pode se dar ao luxo de pagar mais caro.
Neste ano, a volta à normalidade econômica em um cenário ainda com rupturas das cadeias de suprimento por conta da pandemia revelou a fragilidade da transição: irrompeu uma crise energética global. A crise elevou os preços do carvão, gás natural e petróleo, que por sua vez encarecem quase todos os produtos e aumentam o ágio verde. É o greenflation (inflação dos produtos verdes).
A China tem sofrido com cortes de energia elétrica e racionamento; quase 150 mil empresas em Guangdong sofreram cortes em setembro. O crescimento econômico chinês, pujante no primeiro semestre, desacelerou significativamente neste terceiro trimestre, para 4,9%.
A Europa está sob ameaça de apagões e diminuição de produção, em particular com a chegada do inverno. A crise hídrica no Brasil está conectada com a escassez de energia na Europa e Ásia. O Brasil tem importado uma quantidade recorde de gás natural liquefeito, contribuindo com a alta de preços internacionais e a alta nas tarifas de energia por aqui. Ironicamente, o mundo está no momento dependendo de mais combustíveis fósseis.
Porém, a despeito dos aumentos de preços dos combustíveis fósseis, não há aumento correspondente na sua produção. Nos últimos dez anos, os investimentos em exploração e produção das maiores petroleiras caíram à metade e migraram para a transição para energia renovável.
As energias solar e eólica são intermitentes e difíceis de armazenar. E são muito deficientes em uma métrica importante: o EROI (uma comparação entre energia economizada e energia utilizada). Por exemplo, é preciso muito alumínio, cobre e outros metais –que consomem muita energia em sua fabricação– para fabricar turbinas eólicas e painéis solares.
Está claro que a transição rápida para a economia de baixo carbono será conturbada e pode não ocorrer no prazo almejado pelos organismos multilaterais. Quando se mexe na matriz energética, algo complexo e interdependente, de cima pra baixo, de forma brusca, aumenta o risco e a fragilidade do sistema. Isso ficou explicitado pela crise global. Enquanto não se superam os imensos desafios tecnológicos para energia renovável acessível, uma solução pode ser a energia nuclear. A ver qual será a visão dos ESGistas.
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