quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O que a política brasileira tem a aprender com o Sun Tzu: a arte da ‘não-guerra’, OESP

 Eloy Oliveira*

20 de outubro de 2021 | 12h40

Eloy Oliveira. FOTO: DIVULGAÇÃO

Muitas pessoas citam a Arte da Guerra, sem, contudo, realmente terem lido a obra na integralidade. A Arte da Guerra é uma obra atribuída a Sun Tzu, escrita na China há aproximadamente 2.500 anos. Curiosamente, só se tem notícia do livro fora do Oriente em 1782, quando foi traduzido para o Francês por um missionário jesuíta. Desde então, o livro tornou-se uma febre mundial. Seus ensinamentos simples e em forma de manual já foram aplicados a todo e qualquer tipo de atividade, dos negócios, à vida pessoal, passando pelo xadrez e até mesmo culinária. O que mais surpreende é como os ensinamentos de Sun Tzu foram distorcidos ao longo do tempo; possivelmente pelo excesso de interpretações sucessivas.

Prepare-se para uma grande revelação: A Arte da Guerra de Sun Tzu, na verdade, é um manual de como evitar a Guerra; é um manual da “Não-Guerra”. E exatamente por isso ele se torna ainda mais importante nos tempos atuais de tantos conflitos. Logo no início do livro, Sun Tzu alerta que “nunca houve uma guerra prolongada da qual um país se beneficiou” e, mais adiante, complementa que o “ápice da habilidade é subjugar seu inimigo sem combate”. Nos 13 capítulos que compõem o livro são ressaltados, diversas vezes, esses ensinamentos de que o confronto direto é sempre a pior opção possível e deve ser evitado a todo custo. Uma citação que traz a essência do livro é: “Existem estradas que não devem ser seguidas, exércitos que não devem ser atacados, cidades que não devem ser sitiadas, posições que não devem ser contestadas, ordens do soberano que não devem ser obedecidas”.

Como a política brasileira está precisando de uma verdadeira aula de Sun Tzu! Vivemos um tempo em que as pessoas exaltam a necessidade do combate direto e do conflito. Partidos políticos não conseguem chegar a consenso, nem mesmo sobre quem devem apoiar internamente. Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em total desalinhamento, discutindo por filigranas. Toda essa desarmonia tem consequências graves para a economia nacional e para a vida de todos (e, aliás, Sun Tzu já alertava para esse efeitos econômicos nocivos advindos do conflito).

As cenas que temos visto na CPI da COVID-19 nestes últimos meses ilustram exatamente o que Sun Tzu não gostaria de ver. Senadores digladiando aos berros. Ofensas mútuas quase chegando as vias de fato. Os depoentes e investigados não deixam por menos, como o caricatural Luciano Hang, que fez provocações antes, durante e depois do seu depoimento da CPI recentemente.

Em certo ponto Sun Tzu reconta uma conversa com um discípulo de Confúcio na qual indaga:  “Você levaria para te ajudar um homem que está pronto para enfrentar um tigre ou atravessar um rio, sem se importar se viveria ou morreria?” e conclui “esse tipo de homem não se deve escolher. Eu certamente levaria alguém que aborda as dificuldades com a devida cautela e que prefere ter sucesso pela estratégia”. Ações temerárias e mal calculadas normalmente não levam a bons resultados. Na política, então, elas costumam ser desastrosas. Sejamos mais cautelosos e sábios, assim como Sun Tzu.

*Eloy Oliveira é pesquisador em Gestão Pública e membro do Conselho do Instituto República.org

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