quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

As novidades da vacina e da nova coalizão política, Celso Ming, O Estado de S.Paulo


03 de fevereiro de 2021 | 20h36

Há muita neblina ao longo do caminho da economia brasileira. Mas, pelo lado mais urgente, as incertezas parecem perder forças. As novas cepas do coronavírus vêm prostrando experimentados analistas. Até o momento, o Brasil imunizou cerca de 2,7 milhões de pessoas (1,3% da população). As disponibilidades de vacina são uma insignificância. Mas, hoje, a situação não está tão ruim como há duas semanas.

 A Sputnik V, produzida pelo Instituto Gamaleya da Rússia, sobre a qual reinava desconhecimento, revelou um grande nível de eficácia, de 91,6%. É um grande passo para que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorize sua aplicação por aqui. 

O laboratório União Química já começou sua produção no Brasil e pretende importar 10 milhões de doses até março. Isso não chega a compensar os efeitos da má administração da política nacional de enfrentamento à covid-19, mas é avanço não desprezível.

Ainda há muita confusão na União Europeia, que enfrenta acusações de imprevidência e bate-cabeças entre dirigentes e laboratórios. Mas, os Estados Unidos, país mais atingido, já intensificam a vacinação em massa. O presidente Joe Biden avisa que, até o fim deste ano, toda a população estará vacinada.

Johnson & Johnson também finalizou o seu produto. E assim se espera de outros laboratórios. A tabela mostra as 16 vacinas que estão na terceira fase do desenvolvimento de testes em humanos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

A área de política interna passa por rearranjos. O principal deles é o restabelecimento do chamado presidencialismo de coalizão. É a troca precária de compromissos, favores e esquemas de aliciamento, que contraria o discurso eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, mas pode costurar um acordo mínimo em direção a certo equilíbrio do Orçamento e ao andamento das reformas, ainda que não haja compromisso do chamado Centrão nessa direção.

Congresso Nacional
O retorno do presidencialismo de coalizão pode costurar um acordo mínimo em direção a certo equilíbrio do Orçamento e ao andamento das reformas. Foto: Dida Sampaio/Estadão

A percepção da baixa qualidade desse constructo político vem desde o restabelecimento do jogo democrático em 1985. Para o presidente Bolsonaro, trata-se de opção em direção à sobrevivência, que vinha ameaçada pela administração incompetente no combate à pandemia. Para os políticos, foi a melhor forma de tirar proveito em seu benefício das fragilidades do governo. 

De qualquer maneira, de um lado e de outro, tanto o diagnóstico como o prognóstico das atuais relações de poder são de precariedades – a menos que a covid-19 seja derrotada e que a atividade econômica e o emprego se recuperem. E isso, enfim, tem a ver com a vacina.

 CONFIRA

>>>  A alta do petróleo

Os preços do petróleo subiram mais de 11% apenas neste início do ano. O lado bom é o de que refletem certa recuperação da atividade econômica no mundo. E mais receitas em dólares, uma vez que o Brasil já é exportador líquido de petróleo. O lado ruim é o impacto sobre os preços. A alta onera o transporte, movido a diesel e gasolina, e a produção de energia elétrica nas usinas térmicas. É mais pressão sobre a inflação e sobre os preços no atacado, que mais cedo ou mais tarde puxarão para cima os juros.

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA


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