Precisamos considerar a possibilidade de Jair Bolsonaro não terminar o seu mandato. Não torço para que isso aconteça. O cenário mais verossímil para uma eventual saída requer uma forte piora da situação econômica, e a última coisa de que o país precisa é um novo mergulho recessivo. O mito, porém, dá a nítida impressão de que faz tudo a seu alcance para sabotar a si mesmo.
A equação geral do governo Bolsonaro era relativamente simples. Se fizesse uma reforma da Previdência razoável, haveria condições para uma retomada mais consistente do crescimento, com a volta de investimentos privados e aumento da arrecadação. E, quando o país está crescendo, fica menos difícil discutir e aprovar outras reformas potencialmente polêmicas, como a tributária. Poderia ser o início de um círculo virtuoso.
O que vimos nestes quase três meses de administração, entretanto, foi que o presidente fez mais do que a oposição para detonar a proposta de seu ministro da Economia. Primeiro ele sugeriu que a idade mínima de 62 anos para as mulheres era excessiva, depois, ao conceder uma generosa reestruturação de carreira para os militares, destruiu o discurso de que a reforma cortaria privilégios.
No plano da articulação no Congresso, não apenas não fez nada com vistas à aprovação do projeto, que precisa do apoio de três quintos dos parlamentares, como se recusa a negociar com o Legislativo, insistindo na tese de que não cederá à velha política.
O chamado mercado, que, por alguma razão obscura, julgara que Bolsonaro era confiável para tocar uma agenda liberal, vai se dando conta de que as coisas podem não ser tão simples. Se a percepção de que a reforma não virá se consolidar, o dólar dispara, os juros sobem etc., nos lançando num cenário em que a defenestração de Bolsonaro se torna uma variável a considerar. O vice Hamilton Mourão está há meses se contendo, posando de razoável e confiável.
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