sábado, 30 de março de 2019

Esculhambações, FSP

Esculhambações

O presidente Bolsonaro e o prefeito Crivella na ordem do dia

De bom, Crivella só fez uma coisa até agora: o tombamento de oito pinturas a óleo de Lino Bravo e Nilton Bravo, pai e filho, que enfeitam paredes de bares e adegas como o Ponto da Galera, no Bairro de Fátima, e a Flor de Coimbra, na Lapa. Reza a lenda que Lino e Nilton (este conhecido como o “Michelangelo dos Botecos”) trabalhavam nos painéis ao mesmo tempo; o pai canhoto começava a pintar de um lado e o filho destro, de outro; terminavam a obra juntos.
Cá para nós, a iniciativa de proteger as pinturas não deve ter partido de Crivella. Se alguma vez na vida ele entrou num botequim, foi por engano ou por total desespero de causa.
Como nada fez para melhorar ou preservar a cidade e está destruindo a saúde, a educação, o transporte e o lazer do carioca, será lembrado por frases desastradas, mas que no fundo revelam quem ele é debaixo da pele de cordeiro. 
“Fala com a Márcia” foi ouvida em julho de 2018, num encontro secreto dentro do Palácio da Cidade com pastores e líderes evangélicos. Era a senha para conseguir benefícios de atendimento em hospitais. Motivou uma CPI, virou marchinha carnavalesca e transformou Márcia Nunes, que há anos trabalha como faz-tudo do prefeito-bispo, em celebridade.
Na semana passada, o prefeito —que está ameaçado de impeachment— fez um discurso no qual afirmou que o Rio “é uma esculhambação completa”. De origem chula, o termo é sinônimo de anarquia, desordem, confusão, bagunça e outros impublicáveis. Se somos uma esculhambação, por que diabos Crivella quer concorrer à reeleição?
Bolsonaro deveria esticar a comemoração ao golpe militar (perdão, à revolução democrática) de 1964. Começando em 31 de março, o oba-oba só acabaria em 1º de abril, o dia da gafe, dos tolos, dos aproveitadores e da mentira. Ou das fake news, se você as preferir.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

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