Como grande parte de suas congêneres, a Alesp padece de governismo crônico, e um acirramento do debate programático fará bem à administração estadual
A disputa pelo comando da Assembleia Legislativa de São Paulo deixou neste ano a modorra de edições anteriores, embora até aqui se observe mais barulho do que embate de ideias e agendas.
A novidade é Janaina Paschoal, do PSL de Jair Bolsonaro, eleita deputada estadual com o recorde de pouco mais de 2 milhões de votos. Celebrizada por ter sido uma das autoras do pedido de impeachment da petista Dilma Rousseff, a advogada se lançou ao pleito, marcado para 15 de março, com um previsível discurso moralizador.
Seu partido obteve 15 das 94 cadeiras da Alesp, mas encontra severas dificuldades para agregar apoios.
Como ocorre no plano nacional, a virulência nas redes sociais e o bom desempenho nas urnas não se fazem acompanhar de habilidade para a costura política.
Janaina Paschoal e o PSL certamente não angariaram simpatias com a agressiva pressão desencadeada por militantes virtuais sobre os parlamentares, à base de termos chulos e ofensas pessoais. Trata-se de estratégia nociva, obviamente, para quem pretende de fato exercer o comando.
O favorito na contenda é Cauê Macris (PSDB), que busca mais dois anos na presidência da assembleia. Seus acertos de bastidores parecem bem encaminhados, assim como o apoio do governador João Doria, também tucano. No entanto uma eventual vitória não ocorrerá sem desgastes.
Um exemplo é a recente controvérsia em torno de um projeto do Executivo em favor dos agentes fiscais de renda do estado. Como noticiou esta Folha, o texto deu munição a questionamentos do PSL, uma vez que essa categoria, da elite do funcionalismo estadual, se destacou entre os doadores de recursos à campanha de Macris.
Segundo levantamento da Procuradoria Regional Eleitoral, 92 agentes contribuíram para a candidatura do presidente da assembleia com R$ 186 mil, equivalentes a 25% das doações recebidas.
A hegemonia do PSDB no Legislativo paulista, quase sem interrupção desde 1995, acompanha a longevidade da sigla no governo do estado. Se há méritos inegáveis a justificar uma presença tão duradoura, tampouco se podem ignorar os vícios dela decorrentes.
Como grande parte de suas congêneres, a Alesp padece de governismo crônico, que se traduz em inapetência para a contestação e a fiscalização de atos do Executivo. Tamanha boa vontade em nada contribui para a renovação de práticas e políticas públicas.
Qualquer que seja o desfecho da eleição para sua presidência, um acirramento do debate programático —que pressupõe uma oposição forte e articulada— fará bem à administração estadual.
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