sábado, 13 de outubro de 2018

Em busca de um voto honesto, FSP


Escrevi alguns dias atrás uma coluna mostrando que existem sistemas de votação que tornam menos prováveis situações de forte polarização como a que vivemos agora. À guisa de exemplo, citei a contagem de Borda, em que o eleitor ranqueia os candidatos por ordem de preferência. Ato contínuo, alguns leitores me escreveram, recriminando-me por ter escolhido um exemplo ruim. Há coisa melhor no mercado, asseguraram-me.
O sistema de Borda, em que pese eliminar alguns problemas do voto uninominal, é muito vulnerável às manipulações da escolha estratégica. O eleitor fatalmente coloca seu candidato favorito em primeiro lugar, dando-lhe a pontuação máxima, e reserva a última posição para o rival com maior chance de vencer, atribuindo-lhe o escore mínimo.
Com isso, candidatos muitas vezes inexpressivos (pense num Eymael) ficam em posições intermediárias —e pontuam bem— porque não são vistos como ameaça. Não é impossível que um deles triunfe, embora não reflita a preferência real de quase ninguém. Alertado para esses problemas, o matemático Jean-Charles de Borda (1733-1799) proclamou “meu sistema é para homens honestos”.
Alternativas mais condizentes com a moralidade média da humanidade são os sistemas cardinais. O mais simples é a votação por aprovação. Nela, o eleitor vota em todos os candidatos que aprovar —isso reduz bem o incentivo a escolhas estratégicas—e contam-se os sufrágios. Depois, para imprimir a marca da preferência popular (não só o não veto), pode-se submeter os dois mais votados a um segundo turno convencional.
Sistemas mais sofisticados de votação, cada qual com seu mix de pontos positivos e negativos, é o que não falta. Vários estão sendo testados em eleições reais ao redor do mundo. É algo em que vale a pena ficarmos de olho. A democracia, sejam os homens honestos ou não, é a melhor maneira que já encontramos para nos autogovernar.
Hélio Schwartsman
Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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