Com 96,42% das urnas apuradas, candidato do PSL tem 46,62% dos votos e petista, 28,5%
Igor Gielow
SÃO PAULO
O deputado fluminense Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) se enfrentarão no segundo turno da eleição para presidente, no próximo dia 28.
A onda de apoios que impulsionou Bolsonaro, 63, na última semana antes do primeiro turno espraiou-se, mas não foi suficiente para finalizar o jogo neste domingo (7). Ele tem 46,66% dos votos válidos, com 96,42% das urnas apuradas. Uma série de candidatos associados a seu nome nos estados teve desempenho superior ao que as pesquisas indicavam.
Datafolha havia feito a projeção meia hora antes, com 87,91% das urnas apuradas.
Já Haddad, 55, amealhou até agora 28,5% dos votos válidos, conquistando endosso significativo na região Nordeste, berço do homem que o colocou na corrida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Será o sexto segundo turno em oito eleições presidenciais desde a redemocratização de 1985.
Se de 1994 a 2014 o que estava em jogo era avalizar ou rejeitar a gestão anterior, agora tanto Bolsonaro como Haddad são opositores ferrenhos da agônica e impopular Presidência de Michel Temer (MDB). O segundo turno, porém, vai se dar entre os dois candidatos de maior rejeição pelo eleitorado.
O deputado conseguiu associar-se à figura da novidade na política, mesmo sendo congressista desde 1991, e ganhou para si o rótulo de combatente principal contra o PT. Promete “quebrar o sistema”, sem dizer exatamente como o fará, apoiando-se na rejeição da política tradicional —algo que vai além de Lula, mas o inclui.
Já o ex-prefeito apresenta-se como um redentor de políticas de seu partido durante a era Lula, buscando esquivar-se do desastre econômico legado por Dilma Rousseff (PT), impedida e substituída por seu vice, Temer, em 2016.
Essa particularidade explica o fiasco experimentado pelo PSDB nessa eleição. O partido apoiou o impeachment e aliou-se a Temer até o ano passado, mesmo contra a vontade de seu candidato, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin.
De porta-estandarte do combate à corrupção protagonizada pelo PT, simbolizado pela Operação Lava Jato, a sigla viu o seu quase vencedor de 2014, Aécio Neves, ser envolvido em investigações policiais.
O papel de bastião do antipetismo foi conquistado por Bolsonaro. Com tudo isso, Alckmin teve o pior desempenho da história do partido em eleições presidenciais, com 4,81% dos válidos até agora.
O ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT) provou resiliência ao longo da corrida, mas a prevalência do PT e de Bolsonaro no seu reduto, o Nordeste, limitaram sua capacidade de ultrapassar Haddad como nome da esquerda —apesar de simulações de segundo turno o colocarem em posição mais confortável que a do petista. Tem 12,52% dos válidos até agora.
O voto mudancista vencedor neste domingo já foi representado em algum momento por Marina Silva, mas a candidata da Rede teve sua pior derrota nos três pleitos que disputou: mero 1% dos válidos. Foi ultrapassada por um neófito, João Amoêdo (Novo), com 2,57%, e por Cabo Daciolo, com 1,25%.
Henrique Meirelles (MDB), badalado ex-ministro da Fazenda, não teve como tirar a bola de chumbo representada por Temer de seu pé e amargou um sexto lugar, com 1,21%. Alvaro Dias (Podemos), que fez da defesa da Lava Jato sua bandeira, conquistou somente 0,86%.
O círculo eleitoral brasileiro, de certa forma, traz o país de novo a 1989. Lula, inelegível por ter sido condenado em segunda instância por corrupção, lançou Haddad como seu preposto após esticar até onde pôde a corda de sua candidatura na Justiça.
Se Haddad é um ator tradicional, apesar de ter sido um prefeito mal avaliado e derrotado em primeiro turno em 2016, Bolsonaro representa o surpreendente nessa campanha.
Ele coleciona polêmicas que lhe valem as pechas de fascista e radical, sendo réu por incitação ao estupro e um apologista da ditadura militar (1964-85). Seu ídolo político é o único torturador do período reconhecido assim pela Justiça, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015.
Nada disso impediu que sua campanha baseada em uso intensivo de redes sociais e grupos de mensagens instantâneas, a partir de 2015, o tornasse impenetrável a críticas dos apoiadores. Sem estrutura partidária ou tempo significativo de propaganda gratuita, virou fenômeno.
Cercou-se de colaboradores oriundos do Exército e de setores conservadores e admite sua ignorância sobre assuntos econômicos. Para tanto, escalou um economista ultraliberal, Paulo Guedes, para ser seu fiador junto aos mercados —mesmo com desconfianças, foi bem-sucedido dada a alergia que o mundo financeiro tem do PT.
Por fim, ou talvez para começar, houve o atentado de 6 de setembro.Ferido gravemente por uma facada no abdômen, Bolsonaro deixou fisicamente a campanha até o fim. Isso desorganizou a estratégia dos adversários de atacá-lo, embora seja incerto se isso se reverteria em apoio a nomes como Alckmin.
Bolsonaro só foi visto em parcas entrevistas e vídeos gravados para a internet, evitando a exposição ao contraditório em debates —só participou de dois.
Agora, terá tempo de exposição igual na propaganda gratuita e deverá enfrentar embates diretos com Haddad. A sabedoria convencional diria que será o tira-teima para a estratégia inusual de Bolsonaro, mas ela não foi boa conselheira até aqui neste 2018.
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