JOEL ACHENBACH / THE WASHINGTON POST - O ESTADO DE
S.PAULO
30 Novembro 2015 | 18h 42 - Atualizado: 30 Novembro 2015 |
18h 57
Documentário tenta desvendar os mistérios do
gênio que, há 100 anos, lançou o mundo na Teoria da Relatividade
Um dos templos da ciência de Washington é a Carnegie
Institution, na 16th Street (Rua 16), local perfeito para uma noite de
veneração a Albert Einstein. Em primeiro lugar assistimos à projeção do mais
recente especial NOVA (série de documentários científicos para a TV produzida
pela WGBH em Boston), que foi transmitido para todo o país pela PBS, serviço
público de radiodifusão, na quarta-feira, aniversário de 100 anos da Teoria da
Relatividade. Seguiu-se então um debate indispensável sobre Einstein, a
natureza do gênio, o financiamento de atividades científicas por parte do
governo e se um dia decifraremos todos os mistérios do universo.
Sem dúvida Einstein solucionou um deles, talvez tão profundo
como só um mistério pode ser. Sua Teoria Geral redefiniu a gravidade como uma
espécie de dança entre a matéria e a estrutura do espaço e do tempo.
Há um momento extremamente emocionante no documentário que
descreve essa dança de maneira eloquente: um cientista na frente de um
quadro-negro no qual a equação de Einstein é escrita com giz (aprendemos, entre
outras coisas, que a física teórica ainda é apresentada com equações rabiscadas
em quadro-negro). Trata-se de Robbert Dijkgraaf, diretor do Institute for
Advanced Study em Princeton, onde Einstein trabalhou nas duas últimas décadas
da sua vida.
A parte mais surpreendente, diz ele, é o sinal de igual, aquelas
duas pequenas linhas paralelas. Porque a equação descreve uma via de mão dupla.
“A matéria faz com que espaço e tempo se curvem. O espaço e o tempo fazem com
que a matéria se movimente.”
Ainda mais incrível, algo que o documentário reprisa várias
vezes, é que é dessa maneira que o universo realmente funciona, em toda parte,
desde o princípio dos tempos até hoje, no nosso sistema solar e nas Galáxias
distantes, e que tudo isso foi decifrado por um indivíduo que na maior parte do
tempo trabalhou solitariamente.
Não foi a sua primeira ideia revolucionária. A Teoria Especial
da Relatividade surgira dez anos antes, em 1905, quando Einstein era
funcionário do Departamento de Patentes em Berna, na Suíça, e estudava patentes
de aparelhos de cronometragem. A Teoria Especial destruiu a noção segundo a
qual há um momento fixo no tempo ou uma localização fixa no espaço. Nesse ano,
Einstein produziu quatro documentos históricos no campo da física, incluindo
aquele que mais tarde lhe propiciou o Prêmio Nobel e teve grande influência no
desenvolvimento da teoria quântica.
“O poder de uma ideia: se ela for correta, é invencível”, afirma
Dijkgraaf no final do documentário.
Ele é um dos muitos cientistas e historiadores que homenagearam
Einstein. O documentário inclui também um ator no papel do jovem cientista que
passa grande parte do tempo no filme sentado com os olhos fechados ou olhando
fixamente o espaço, envolvido em “experimentos mentais”. A ciência de Einstein
significava imaginar trens entrando em estações e pessoas em elevadores ou
mesmo perseguir um feixe de luz.
O espectador deverá criticar o fato de o ator que interpreta o
jovem Einstein passar um tempo enorme do filme enchendo seu cachimbo e
fumando-o. Há momentos em que o documentário ameaça se transformar num
comercial de tabaco. Depois da quarta ou quinta vez que o jovem enche o
artefato enquanto pondera sobre a estrutura do espaço e tempo, o público
naturalmente se pergunta: o que há exatamente dentro desse cachimbo?
Há alguns efeitos especiais geniais de feixes de luz, trenzinhos
de brinquedo, relâmpagos, um homenzinho em um elevador, buracos negros e o Big
Bang.
Durante o debate, o biógrafo de Einstein, Walter Isaacson,
qualificou o cientista como uma anomalia: “Grande parte da ciência é um
trabalho de equipe em colaboração”. O físico da universidade de Maryland, Jim
Gates, repetiu a ideia e afirmou que, no ambiente científico atual, todos os
estudiosos estão tão conectados pela internet que os gênios necessitam
manipular enormes conjuntos de dados. Gates sugeriu que futuros experimentos da
natureza básica da realidade poderão revelar que “a informação está na origem
de como essa coisa funciona”.
Gates também afirmou estar preocupado com a ascensão da
“anticiência” – a maneira como partes interessadas, quando contestadas por
novas evidências, tentam corroer o consenso científico. Isaacson encerrou a
noite deplorando a remoção gradativa, especialmente após a Segunda Guerra
Mundial, do investimento em pesquisa científica. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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