O prefeito Fernando Haddad parece
determinado a bater o recorde de improvisação, que se tornou desde o início uma
marca nada honrosa de seu governo. Ao contrário do que se espera dos
administradores públicos, cujas ações devem ser baseadas, sempre, em
planejamento, ele não para de tomar medidas sem base em estudos técnicos,
atabalhoadamente, como se governar a maior cidade do País e seu principal
centro econômico fosse uma brincadeira e seus atos não tivessem sérias
consequências para a população.
O exemplo mais recente disso, que bem
mostra tal comportamento irresponsável, foram as mudanças de trânsito feitas
pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) na Avenida Brigadeiro Luís
Antônio no último fim de semana. Foi eliminada uma das três faixas no sentido
centro e acrescentada uma em direção ao bairro dos Jardins, por onde antes só
circulavam ônibus. Com isso, no trecho entre as Ruas Groenlândia e dos
Ingleses, aquele via foi divida ao meio: os dois lados têm agora uma faixa para
carro e outra para coletivos. Antes, apenas ônibus podiam trafegar no sentido
bairro.
Segundo a Prefeitura, a medida tem o
objetivo de reduzir o índice de acidentes naquela via, onde, segundo a CET,
foram registrados 116 atropelamentos entre 2013 e o ano passado. Como se
alcançará o resultado pretendido, por esse meio, é coisa que Haddad não se deu
ao trabalho de explicar, como se não devesse uma satisfação minimamente
convincente a todos os afetados pela providência.
Afinal, como não era difícil de
prever, a mudança provoca congestionamento e os motoristas que trafegam por
essa via, no sentido centro, estão gastando uma hora para percorrer pouco mais
de três quilômetros, o que antes era feito em menos de 20 minutos. Eles se
queixam tanto da demora como da proibição de conversões como a que antes
permitia acesso à Alameda Lorena. Outra reclamação, insistente nos primeiros
dias, era contra a falta de aviso com antecedência das alterações feitas, mais
um elemento que demonstra improvisação e pressa.
O total desprezo pelos paulistanos
que estão sofrendo as consequências da mudança ficou bem expresso na resposta
de um agente da CET a uma motorista que reclamava, registrada pela reportagem
do Estado: “O mundo muda, senhora”. É verdade – ele estava muito melhor antes
dos demagógicos malabarismos que Haddad, sem um pingo de senso do ridículo, tem
o desplante de apresentar como uma “revolução” na mobilidade urbana.
Mais ainda que a insensibilidade ao
ridículo, que pode ser fatal a um homem público, o que choca no prefeito é a
falta de pudor com que expõe, como se fosse a coisa mais natural do mundo, a
improvisação – melhor seria dizer o vai da valsa – que rege os atos de seu
governo. Em entrevista à Rádio Estadão, Haddad tentou tranquilizar os afetados
por ela dizendo que a mudança feita ainda pode ser revista: “Vai causar transtorno
na primeira semana? Não tem dúvida. Agora, a gente monitora e mede. Deu certo?
Mantém. Se não deu certo, revê o projeto. São alterações simples”.
Para o prefeito os paulistanos são
cobaias. Em vez de planejar suas medidas “revolucionárias”, ele as improvisa e
submete a população a seus experimentos: se der certo, elas prosseguem, em caso
contrário são mudadas. Pouco lhe importa o alto preço que os paulistanos pagam
por isso.
O caso da Avenida Brigadeiro Luís
Antônio é café pequeno perto da licitação para a escolha dos novos
concessionários do serviço de ônibus, um negócio de R$ 166 bilhões pelo prazo
de 20 anos. O Tribunal de Contas do Município (TCM) suspendeu por 10 dias a
abertura do processo, para que a Prefeitura se manifestasse sobre uma centena
de recomendações e de questões obscuras. Um projeto mal feito, portanto. Haddad
reagiu como agora: “Era previsível. Nós podemos contar com auditores
experientes do TCM que vão apontar aperfeiçoamentos possíveis”. Foi como se
dissesse: fiz às carreiras e vocês corrigem que aceito.
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