EDISON VEIGA
27 Fevereiro 2016 | 16:00
Dona Dalva, a diarista da Vila
Matilde cuja residência – que custou R$ 150 mil – acaba de ganhar prêmio
internacional
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Em fevereiro de 2014, o teto do quarto de Dalvina Borges Ramos,
a dona Dalva, despencou sobre a cama. “Por sorte, estava no banho. Por Deus”,
diz ela. Exatos dois anos depois, a diarista de 74 anos mora na melhor casa do
mundo, de acordo com premiação anual do site ArchDaily. “Será
mesmo?”, ainda reluta em acreditar. “Eu acho minha casa diferente, mas não sei
se é a melhor. Parece casa de fazenda, chão de cimento, paredes sem aquela massinha
lisa…”
Baiana de Itaquaraí, dona Dalva mudou-se para São Paulo em 1966,
depois de morar um tempo na interiorana Pirajuí, onde trabalhava na roça. Na
capital paulista, sempre foi empregada doméstica. “Vinte anos na mesma casa,
trinta anos como diarista”, contabiliza. “Nesse tempo todo, guardei cada
moedinha que sobrava porque um dia queria ter uma casa boa.”
O dinheiro nunca chegava. Mas a iminente ruína de sua
residência, na Vila Matilde, zona leste de São Paulo, fez com que o filho, o
vendedor Marcelo Borges Ramos, de 41 anos, a convencesse de que não dava mais
para esperar: os R$ 150 mil que ela conseguira guardar precisariam bastar para
a casa nova.
Sua ex-mulher era amiga da prima da mulher de um arquiteto, isso
Marcelo sabia. Um arquiteto daria jeito em fazer caber o orçamento dentro de
tão econômica cifra. Foram lá.
Era o escritório Terra e Tuma, em Pinheiros. O arquiteto se
chama Danilo Terra – e o projeto foi conduzido por ele, em parceria com Pedro
Tuma e Fernanda Sakano. “Eles deixaram claro que tinham esse valor na poupança,
bem restrito”, recorda-se Tuma. “Achamos que era, sim, viável. Com a
consciência de que há certas dificuldades em trabalharmos com um limite
financeiro frágil, que não pode ser ultrapassado de forma alguma.”
“Mais que isso”, acrescenta Terra. “Pensamos que não era
possível que uma senhora de mais de 70 anos não conseguisse ter sua casa nova
depois de tantos anos guardando o dinheirinho dela.”
Foram quatro meses de demolição e seis meses de obra. E o
imóvel, de 95 metros quadrados, estava pronto. “Minha antiga casa estava
despencando. Você passava a mão na parede e caía areia”, compara Dalva. “Esta
eu acho que não vai desabar tão cedo. Eu me sinto segura: valeu cada moedinha
que eu guardei.” Os arquitetos garantem. “É a melhor execução de obra que a
gente tem na carreira”, diz Terra.
“Eu não sabia que ia ficar assim, diferente”, comenta dona
Dalva. “Trabalhei em um monte de casa diferente na minha vida, mas nunca tinha
visto uma assim. É gostosa, fresquinha…” Contemporânea, definem os arquitetos.
“É importante deixar claro que não se trata de um projeto de menor qualidade,
por ser mais barato. Pelo contrário: é arquitetura contemporânea, da maneira
como a gente acredita. E que funciona para qualquer um de nós”, ressalta Tuma.
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