17/04/2016 09:00
O que nos trouxe até aqui foi a economia. A luta contra a
corrupção não explica o que se passa, já que dos dois lados que se enfrentam no
plenário da Câmara há envolvidos na Lava-Jato. Não há na lei do impeachment
nada que puna a má gestão econômica, mas nenhum governo resiste ao trio
inflação alta, recessão profunda e colapso fiscal.
Collor não caiu porque mentiu na campanha, nem pelo plano que
aprisionou as finanças das empresas e famílias, mas sim porque essa violência
extrema não entregou inflação baixa e produziu recessão severa. As denúncias
naquela época de desvio de dinheiro, inclusive para proveito pessoal do
presidente, deram o motivo final para o impeachment.
Este domingo, em que a presidente Dilma estará sob o ataque
político de adversários e antigos aliados, começou no primeiro trimestre do
segundo mandato. O tarifaço de energia fez a inflação dar um salto, e a
popularidade despencar. Ao final de março de 2015, o percentual de ruim e
péssimo pelo CNI Ibope havia atingido 64% e já se igualava ao pior momento do
governo Sarney. Em dezembro, já havia batido o recorde de rejeição entre todos
os presidentes da era democrática, com 70%. Em março deste ano, manteve o mesmo
patamar porque o PIB continuou afundando e impediu a recuperação.
As pedaladas aconteceram principalmente no primeiro mandato.
Elas foram um atentado à Lei de Responsabilidade Fiscal e explicam a desordem
econômica em que o país está. Dilma desrespeitou, com seu ministro da Fazenda e
secretário do Tesouro do primeiro mandato, inúmeras regras contábeis. A crônica
econômica está repleta de decisões que atentaram contra o ordenamento monetário
e fiscal do país. É justo que ela tenha que responder pelos abusos e absurdos
que cometeu. Foram tantos, que transbordaram para o segundo mandato. Foram
tantos que ameaçaram a estabilidade.
A crise econômica produzida pela gestão de Dilma levou ao
enfraquecimento político da presidente. Ela foi inábil ao gerir esta crise, mas
no primeiro mandato já havia demonstrado a mesma inabilidade de administrar a
coalizão. O que a atingiu agora foi a soma de tudo: a crise econômica corroeu o
apoio popular ao governo, os políticos começaram a se afastar, ela não teve
sabedoria para agir. O fator externo que acelerou a dinâmica da crise foi a
Lava-Jato. Nas investigações, não há indícios de proveito pessoal da presidente
Dilma – apesar de haver contra vários do seu grupo, inclusive o ex-presidente
Lula – mas sobram indícios de que houve dinheiro dos contratos da Petrobras no
financiamento da campanha presidencial, que, é bom lembrar, elegeu Dilma
Rousseff e Michel Temer. O fator Eduardo Cunha foi o gatilho. Atingido
diretamente pelas denúncias de corrupção, ele preferiu atirar. Se Cunha
sobreviver a tudo isso, o país estará encrencado.
O Brasil vive neste domingo um dia dramático sobre o qual será
preciso continuar pensando. Estamos no tempo da traição, o que nunca é um
espetáculo bonito de se ver, mas é fácil de explicar. Quando os políticos
começam a fugir de um líder impopular, há um momento em que o movimento se
acelera. Foi o que se viu nos últimos dias. Na época de Collor, até seu amigo
de primeira hora, Renan Calheiros, o traiu. Todos tentam escapar do navio que
afunda e mandam mensagens para as suas bases. Ainda mais em ano de eleição
municipal, quando se formam as alianças e apoios para a renovação dos mandatos
federais.
É tempo de complexidades. Nada é simples. Qualquer que seja o
resultado da votação de hoje, o preço que o país pagará será alto. Se a
presidente vencer, ela terá perdido a capacidade de governar; se o processo for
adiante, serão meses de sofrimento em que a família brasileira permanecerá
dolorosamente fraturada.
(Com Alvaro Gribel, de São Paulo)
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