terça-feira, 3 de setembro de 2024

Como o cérebro se comporta quando estamos doentes, FSP (muito interessante)

 

Francisco José Esteban Ruiz
The Conversation * | BBC News Brasil

Quando nos dizem que vamos pegar uma gripe, a primeira coisa em que pensamos são nos sintomas físicos: dores musculares, tosse e febre. No entanto, o que realmente nos faz sentir mal é o cansaço extremo, a apatia, a irritabilidade e aquele nevoeiro cerebral que parece que vai permanecer para sempre.

Este conjunto de sintomas é conhecido como comportamento de doença —e, embora desagradável, tem uma finalidade importante.

Mulher sentada em sofá assoando nariz com lenço de papel, e segurando uma xícara com a outra mão
Estudos mostram que o corpo redireciona seus recursos energéticos para combater infecções bacterianas ou virais - Getty Images

Comportamento de doença

Descobriu-se que os sintomas que apresentamos durante uma infecção viral ou bacteriana não são simplesmente efeitos colaterais da doença, mas têm uma função benéfica: eles permitem que nosso corpo redirecione sua energia para combater os patógenos que nos invadiram. Em outras palavras, nos sentimos mal para que possamos ficar bem.

No entanto, o comportamento de doença também pode ser um efeito colateral indesejado em pacientes com câncer ou doenças autoimunes.

Essas pessoas são tratadas com medicamentos que incluem moléculas imunológicas conhecidas como interferons.

Os interferons são produzidos e liberados pelas células do nosso sistema imunológico quando sofremos uma infecção, mas seu uso terapêutico pode desencadear estes sintomas desagradáveis.

A barreira hematoencefálica

Mas como a doença afeta a função cerebral e nosso estado mental?

Para tentar responder esta pergunta, devemos primeiro apresentar a barreira hematoencefálica, uma estrutura complexa cuja principal função é proteger as células do cérebro.

A barreira hematoencefálica é um sistema de proteção que impede a entrada da maioria dos patógenos e moléculas imunológicas no cérebro.

Durante muito tempo, pensou-se que esta barreira também bloqueava os sinais do sistema imunológico. Porém, hoje sabemos da existência de toda uma série de mecanismos que permitem que certos mensageiros atravessem a barreira e influenciem no comportamento.

O que os camundongos nos dizem

Para esclarecer como uma infecção pode levar ao comportamento de doença, um grupo de pesquisa alemão realizou um estudo no qual expôs camundongos a um vírus que causa uma patologia breve.

A seguir, eles avaliaram os efeitos do patógeno no comportamento, usando um teste padrão para detectar depressão em roedores. Este teste, conhecido como labirinto aquático de Morris, consiste em colocar os animais em um recipiente com água onde devem nadar até encontrar uma plataforma que lhes permita sair.

Em geral, camundongos saudáveis costumam lutar até conseguir, mas roedores deprimidos rapidamente desistem e começam a boiar. Aí vem a parte mais interessante: os camundongos infectados com o vírus passaram quase o dobro do tempo boiando, sugerindo que o vírus estava alterando seu comportamento; ou seja, quando estavam doentes, ficavam visivelmente deprimidos.

Neste estudo, foi detectado que o vírus induzia os camundongos a produzir um tipo de interferon, o interferon-β, uma molécula imunológica que, por sua vez, estimula outras moléculas receptoras que estão localizadas em estruturas que fazem parte da barreira hematoencefálica.

Cientista de óculos olhando para camundongos em laboratório
Em um estudo, camundongos foram expostos a um vírus para os cientistas entenderem o comportamento da doença - Getty Images

Genética e comportamento de doença

Para determinar se estes receptores localizados na barreira hematoencefálica desencadeavam o comportamento de doença, os pesquisadores compararam camundongos normais com animais geneticamente modificados que não possuíam estes receptores.

Depois, eles ativaram as mesmas respostas imunológicas nos camundongos que os vírus —e os submeteram ao teste de flutuação. Nele, os camundongos modificados demoraram aproximadamente 50% menos tempo para encontrar a plataforma do que os roedores normais, sugerindo que os primeiros são muito menos vulneráveis à depressão, pois não carregam o receptor.

O papel da CXCL10 no cérebro

Como já mencionamos, os pesquisadores conseguiram identificar duas partes de um mecanismo que transmite sinais imunológicos por meio da barreira hematoencefálica: o interferon-β e os receptores que ele estimula. Mas ainda era necessário determinar qual molécula, nesta sinalização em cascata, causava as alterações cerebrais.

Eles descobriram que, em resposta ao interferon-β, as células dos vasos sanguíneos produzem outra molécula: a CXCL10, que possui atividade inflamatória conhecida na artrite reumatoide.

Quando mediram a atividade elétrica dos neurônios no hipocampo, parte do cérebro que ajuda a formar memórias e também influencia nossas emoções, o grupo de pesquisa descobriu que a CXCL10 alterava as respostas dos neurônios, de modo que poderia reduzir a capacidade de aprendizagem dos animais.

Assim, eles foram capazes de explicar, a nível celular e eletrofisiológico, a base do comportamento de doença.

Uma implicação importante deste trabalho é que ele abre portas para encontrar maneiras de deter o comportamento de doença em pacientes com câncer ou doenças autoimunes que recebem tratamentos com interferons.

O que está claro, no entanto, é que a sensação de estar doente não é simplesmente um incômodo sem propósito. Os sintomas que apresentamos são uma parte vital da resposta do nosso corpo às infecções, permitindo que o sistema imunológico se concentre no combate aos invasores.

* Francisco José Esteban Ruiz é professor de biologia celular na Universidade de Jaén, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

Cantora gospel presa por atos golpistas fará curso sobre democracia e pagará R$ 5.000 após acordo com PGR, FSP

 A cantora gospel bolsonarista Fernanda Rodrigues de Oliveira, conhecida como Fernanda Ôliver, fechou um acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) em que se comprometeu a pagar uma multa no valor de R$ 5.000 e a fazer um curso sobre democracia por sua participação nos atos golpistas de 8 de janeiro.

O pacto de não persecução penal foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na terça (2). Para firmar o acordo, Fernanda confessou os crimes de incitação e associação criminosa.

A cantora gospel Fernanda Ôliver, presa pelos ataques golpistas de 8 de janeiro e agora solta pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal)
A cantora gospel Fernanda Ôliver, que chegou a ser presa pelos ataques golpistas de 8 de janeiro, fechou acordo com a PGR - Reprodução/Reprodução/fernandaoliveroficial no Instagram

A cantora se comprometeu ainda a cumprir 150 horas de serviços comunitários e a não manter contas ativas em redes sociais até a conclusão dos termos estabelecidos.

Fernanda ficou conhecida como a musa dos ataques golpistas e participou do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. Ela chegou a ser presa em agosto do ano passado, e ganhou liberdade provisória em novembro. Após o acordo, foram revogadas as medidas cautelares impostas, como o uso de tornozeleiras eletrônicas.

Segundo a denúncia feita pela PGR, existem "provas suficientes de sua adesão à associação criminosa que se estabeleceu no acampamento instalado em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília".

A Procuradoria afirma ainda que, de acordo com informações da Polícia Judiciária, Fernanda fez 49 publicações em seu perfil no Instagram, e 34 em seu canal no YouTube, relacionadas aos atos antidemocráticos.

"No período das manifestações, a denunciada, inclusive, criou urna música 'Eu me Levanto' que se tornou hino entre os manifestantes, e que já obteve mais de um 1,5 milhão de visualizações no YouTube. Em um dos vídeos publicados em seu Instagram, a denunciada, acompanhada de mais 12 influenciadores, convocou apoiadores para participarem dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro", diz a PGR.

De acordo com a denúncia, ela também esteve na Esplanada dos Ministérios durante os atos de depredação dos prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto.

Em seu voto, o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do caso, diz que Fernanda se associou aos criminosos e coautores dos atos no "intuito de modificar abruptamente o regime vigente e o Estado de Direito" e subverter a "ordem política e social, gerando, ainda, animosidades entre as Forças Armadas e as instituições republicanas".

Ainda de acordo com Moraes, o acordo de não persecução penal "é medida suficiente, necessária e proporcional à reprovação e prevenção do crime, pois, dentre as condições propostas, estão a prestação de serviços; proibição de participação em redes sociais até a extinção da execução das condições do acordo e a participação em curso sobre democracia".

O voto dele foi acompanhado por unanimidade pelos ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Luiz Fux.

A PGR propôs acordos de não persecução penal aos réus do 8 de janeiro que respondem aos crimes de incitação e de associação criminosa, cujas penas máximas não ultrapassam quatro anos.

O curso sobre democracia tem duração de 12 horas em vídeo, dividido em quatro módulos de três horas.

Os réus deverão assistir às aulas em ambiente oficial, com controle de frequência e fiscalização realizada por agente do Poder Judiciário e com proibição da utilização de celular durante a projeção.

Os módulos são ministrados por procuradores do Ministério Público. O primeiro trata de democracia, o segundo e o terceiro de Estado de Direito e o quarto de golpe de Estado.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH