segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

1913: o ano em que Hitler, Trotsky, Tito, Freud e Stalin viveram na mesma cidade, BBC News

 

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Viena, 1913

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Viena, 1913.

Em janeiro de 1913, um homem cujo passaporte trazia o nome de Stavros Papadopoulos desembarcou do trem de Cracóvia na estação Terminal Norte de Viena.

De pele escura, ele usava um grande bigode de camponês e carregava uma mala de madeira muito básica.

"Ele estava sentado à mesa - escreveu a pessoa com quem iria se encontrar, anos depois - quando a porta se abriu com um estrondo e um homem desconhecido entrou."

"Ele era baixo... esguio... sua pele marrom-acinzentada coberta de marcas de varíola... Não vi nada em seus olhos que se parecesse com simpatia."

O autor dessas linhas era um intelectual russo dissidente, diretor de um jornal radical chamado Pravda (Verdade). Seu nome era Leon Trotsky.

O homem que ele descreveu não se chamava Papadopoulos.

Ele nasceu Iosif Vissarionovich Dzhugashvili, conhecido por seus amigos como Koba, e agora é lembrado como Joseph Stalin.

Fotografias de Trostky e Stalin

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Trostky à esquerda e Stalin à direita

Trotsky e Stalin eram apenas dois de uma série de homens que viviam no centro de Viena em 1913 cujas vidas estavam destinadas a moldar grande parte do século 20.

Há 110 anos, Adolf Hitler, Joseph Tito e Sigmund Freud também estiveram na cidade.

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Era um grupo heterogêneo.

Os dois revolucionários, Stalin e Trotsky, estavam fugindo. Outros tinham motivações diferentes.

Nessa altura, Sigmund Freud já estava bem estabelecido.

O psicanalista, exaltado por seus seguidores como aquele que desvendou os segredos da mente, era um homem famoso e respeitado que se tornara médico em 1881 e estabelecera sua clínica em Viena em 1886, na rua Berggasse.

Em 1913 publicou o livro "Totem e tabu: Alguns Pontos de Concordância entre a Vida Psíquica dos Selvagens e a dos Neuróticos".

O jovem Josip Broz, por sua vez, que mais tarde alcançaria a fama como o líder da Iugoslávia, marechal Tito, trabalhava na fábrica de automóveis Daimler em Wiener Neustadt, cidade ao sul de Viena, e procurava emprego, dinheiro e diversão.

Hitler e Freud

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Hitler e Freud.

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Depois, havia outro jovem, um homem de 24 anos do noroeste da Áustria, cujo sonho de estudar pintura na Academia de Belas Artes de Viena havia sido frustrado duas vezes depois de ser reprovado no vestibular e que agora estava hospedado em uma pousada na Meldermannstrasse, perto do Danúbio.

Era um certo Adolf Hitler.

Com um amigo, ele ganhou dinheiro desenhando cartões-postais dos famosos pontos turísticos de Viena e depois vendendo-os aos turistas.

Em sua majestosa evocação da cidade na época, "Thunder at Twilight", o autor austríaco Frederic Morton imaginou Hitler doutrinando seus colegas de quarto "sobre moralidade, pureza racial, a missão alemã e traição eslava, judeus, jesuítas e maçons".

"Seu cabelo jogado para trás, suas mãos sujas de tinta rasgaram o ar, sua voz subiu para um tom operístico."

"Então, tão repentinamente quanto havia começado, ele parava. Recolhia suas coisas com um ruído imperioso e caminhava em direção ao seu cubículo."

Coincidentemente, o prefeito de Viena naqueles anos, Karl Lueger, é considerado o pai do anti-semitismo político moderno.

As línguas

A cidade em 1913 era a capital do Império Austro-Húngaro, que consistia em 15 nações e mais de 50 milhões de habitantes.

"Viena era um caldeirão cultural que atraía pessoas ambiciosas de todo o Império", disse o escritor e editor Dardis McNamee à BBC.

"Menos da metade dos dois milhões de residentes da cidade eram nativos e cerca de um quarto viera da Boêmia (atual República Tcheca ocidental) e da Morávia (atual República Tcheca oriental), então o tcheco era falado ao lado do alemão em muitos lugares."

"Concerto no Musikverunde em Viena", 1913. Aquarela.

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"Concerto no Musikverunde em Viena", 1913.

Os súditos do império falavam uma dúzia de idiomas, explica ele.

"Os oficiais do exército austro-húngaro deveriam ser capazes de emitir ordens em 11 idiomas além do alemão, cada um dos quais com uma tradução oficial do Hino Nacional."

E essa mistura única criou seu próprio fenômeno cultural: o café vienense.

Os cafés

A lenda tem sua gênese nos sacos de café deixados para trás pelo exército otomano após o fracassado cerco turco de 1683.

"A cultura do café e a noção de debate e discussão nos cafés são uma parte muito importante da vida vienense agora e naquela época", disse à BBC Charles Emmerson, autor de "1913: Em Busca do Mundo Antes da Grande Guerra".

"A comunidade intelectual vienense era realmente pequena e todos se conheciam e isso proporcionava trocas além das fronteiras culturais."

Essa atmosfera, acrescentou, favorecia dissidentes políticos e fugitivos.

Café Landtmann

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O Café Landtmann, muito frequentado por Freud, segue sendo popular até o dia de hoje

"Não havia um estado central tremendamente poderoso. Se você quisesse encontrar um lugar para se esconder na Europa onde pudesse conhecer muitas outras pessoas interessantes, Viena era um bom lugar para isso."

O ponto de encontro favorito de Freud, o Café Landtmann, ainda fica no Ring, o famoso bulevar que circunda a histórica Innere Stadt da cidade.

Mas ele também frequentava o Café Central, a poucos minutos a pé, onde os bolos, os jornais, o xadrez e, sobretudo, a conversa eram as paixões dos clientes.

Entre eles, Trotsky, Lênin e Hitler.

Uma anedota famosa relata que o Conde Berchtold - na época ministro das Relações Exteriores da Áustria-Hungria -, em meio a uma acalorada disputa com um político local que argumentava que uma guerra provocaria uma revolução na Rússia, respondeu com desdém:

"E quem vai liderar tal revolução? Talvez o Sr. Bronstein [Trotsky] do Café Central?"

O Café Central após a reabertura

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O Café Central fechou no final da Segunda Guerra Mundial, mas foi reinaugurado em 1975.

"Parte do que tornava os cafés tão importantes era que 'todos' iam", disse MacNamee.

"Então houve fertilização cruzada entre disciplinas e interesses."

"Na verdade, os limites que mais tarde se tornaram tão rígidos no pensamento ocidental eram muito fluidos."

Além disso, ele enfatizou, "a onda de energia da intelectualidade judaica e da nova classe industrial tornou possível para Franz Joseph conceder-lhes plenos direitos de cidadania em 1867 e pleno acesso a escolas e universidades".

"Gustav Klimt com sua bata azul", pintado por Egon Schiele em 1913.

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"Gustav Klimt com sua bata azul", pintado por Egon Schiele em 1913.

Não esquecendo artistas como Gustav Klimt, que em 1913 pintou um dos seus últimos quadros, "A Jovem" ou "A Virgem", e causou grande polêmica com uma série de desenhos eróticos exibidos na Exposição Internacional de Gravura e Desenho de Viena.

Nesse mesmo ano, seu discípulo, o pintor e gravador austríaco Egon Schiele, deu ao mundo várias de suas pinturas mais populares, como "Amizade" e "Mulher de Meias Pretas", e escreveu ao colecionador Franz Hauer:

"Só pintar não me basta; sei que se pode usar as cores para estabelecer qualidades. Quando se vê uma árvore outonal no verão, é uma experiência intensa que envolve todo o coração e o ser; gostaria de pintar essa melancolia."

E, embora ainda fosse uma sociedade amplamente dominada por homens, várias mulheres também causaram grande impacto, principalmente a compositora, autora e editora Alma Mahler.

Em 1913, ela iniciou sua relação tumultuada e apaixonada com o artista, poeta e dramaturgo austríaco Oskar Kokoschka, que inspiraria ambos a criarem grandes obras de arte.

"Autorretrato com amante (Alma Mahler)", pintado por Oskar Kokoschka em 1913.

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"Autorretrato com amante (Alma Mahler)", pintado por Oskar Kokoschka em 1913.

Mas enquanto a cidade era, e ainda é, sinônimo de música, dança luxuosa e valsas, seu lado sombrio era especialmente sombrio.

Um grande número de cidadãos vivia em favelas e, em 1913, quase 1.500 vienenses se mataram.

Ninguém sabe se Hitler conheceu Trotsky ou se Tito conheceu Stalin.

Mas a situação inspirou obras como a peça de rádio de 2007 "Dr. Freud vai vê-lo, Sr. Hitler", de Laurence Marks e Maurice Gran, na qual eles imaginam tais encontros.

A grande guerra

Presidindo a tudo, no labiríntico Palácio Hofburg da cidade, estava o imperador Francisco José 1º, 83 anos, que reinava desde 1848, o grande ano das revoluções.

O arquiduque Franz Ferdinand, seu sucessor designado, residia no vizinho Palácio Belvedere, aguardando ansiosamente o trono.

Seu desejo de se casar com a condessa Sophie Chotek, dama de companhia da arquiduquesa, causou muita polêmica.

Como herdeiro do império, ele foi convidado a se casar com uma família real européia, mas, profundamente apaixonado, recusou, casando-se com Sophie em 1900, após concordar que seus filhos não seriam capazes de governar.

O arquiduque viu a fraqueza do império de seu pai e tentou combatê-la fortalecendo o exército e a marinha.

Em 1913 tornou-se inspetor-geral do exército, ao mesmo tempo em que um grupo na Sérvia, a Mão Negra, começou a traçar um plano contra ele.

Seu assassinato em 28 de junho de 1914 desencadearia a Primeira Guerra Mundial.

A conflagração destruiu grande parte da vida intelectual de Viena.

O império implodiu em 1918, impulsionando Hitler, Stalin, Trotsky e Tito para carreiras que marcariam a história mundial para sempre.

Entidades temem repetição de atos golpistas em São Paulo, FSP

 O vandalismo dos terroristas nas sedes dos Três Poderes em Brasília confirmou que os acampamentos golpistas na frente de quartéis do Exército são bombas-relógio deixadas por Jair Bolsonaro, como este blog antecipou.

A conivência de autoridades do Distrito Federal serve de alerta para semelhanças em São Paulo.

Instituições comprometidas com a democracia estão preocupadas com a proximidade do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) com o bolsonarismo, e a escolha do ex-policial militar Guilherme Derrite [Capitão Derrite], também identificado com o bolsonarismo, para o cargo de secretário de Segurança Pública. (*)

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (PMDB), é acusado de leniência e criticado por haver nomeado chefe da segurança Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do ex-presidente Bolsonaro.

Num paralelo com o ocorrido no DF, permanece a dúvida sobre como a PM paulista agiria diante de atos violentos estimulados por bolsonaristas.

Procurador de Justiça diz que retirar câmeras dos PMs seria licença para matar
Tarcísio de Freitas, governador eleito de São Paulo, e Luiz Antonio Marrey, procurador de Justiça - Marcos Corrêa/PR e MPSP

São Paulo convive com manifestações de golpistas na avenida Paulista. Houve lentidão para desmontar o bloqueio de estradas, provocado por inconformados com a eleição de Lula. [A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo contesta. Veja íntegra de nota da SSP no final do post.]

Assim como ocorreu no Distrito Federal, um grupo de bolsonaristas acampou em frente ao Comando Militar do Sudeste, no Ibirapuera.

Neste domingo, golpistas fecharam parcialmente a avenida 23 de Maio, em apoio ao vandalismo em Brasília.

"Manifestações perdem a legitimidade e a razão a partir do momento em que há violência, depredação ou cerceamento de direitos. Não admitiremos isso em São Paulo", disse neste domingo o governador paulista.

No mesmo dia, o ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Silva, pediu ao governador e ao secretário de Segurança Pública para desmobilizar acampamentos bolsonaristas. Ou seja, um órgão subordinado a Derrite solicita ao secretário de Segurança Pública esvaziar atos organizados por bolsonaristas.

No último dia 3, o presidente da Academia Paulista de Direito (APD), Alfredo Attié, criticou neste blog o ministro da Defesa do governo Lula, José Múcio Monteiro, por afirmar que os acampamentos bolsonaristas em frente aos quartéis militares são "manifestação da democracia".

"Esse pessoal não apenas deve ser coagido a sair desses acampamentos, mas tem de ser processado criminalmente", disse Attié.

CONTROVÉRSIA SOBRE CÂMERAS

Em dezembro, um grupo de procuradores do Ministério Público de São Paulo emitiu manifestação no Órgão Especial sobre a intenção de Derritte de suprimir as câmeras usadas por policiais militares. Seria um aceno aos bolsonaristas.

O governador e o secretário aparentaram divergir sobre o uso desses equipamentos.

O programa "Olho Vivo" foi concebido pela própria PM. Um estudo da FGV, encomendado pela corporação, revelou grande diminuição da letalidade policial e da morte de policiais.

"A supressão das câmeras ou mesmo a diminuição do programa, poderá ser entendido por setor minoritário da polícia como verdadeira licença para matar", sustentam os procuradores.

"Tal orientação, mesmo que adotada de maneira dissimulada, constituiria atividade criminosa e violadora de direitos fundamentais, e em nada melhoraria a segurança pública", segundo os signatários.

O Órgão Especial é formado por 42 membros do MPSP. A manifestação foi apresentada por quatro membros natos (mais antigos), entre os quais dois ex-procuradores-gerais de Justiça, Luiz Antonio Guimarães Marrey e Rodrigo Cesar Rebello Pinho, o ex-corregedor Paulo Afonso Garrido de Paula e Plínio Antonio Brito Gentil. Outros 13 membros apoiaram a manifestação.

Em outubro, Marrey escreveu no blog que retirar as câmeras dos PMs seria "licença para matar".

O atual PGJ, Mário Sarrubbo, defende o uso das câmeras.

CORONEL QUER POPULAÇÃO ARMADA

No último dia 5, em entrevista ao "Diário da Região", de São José do Rio Preto, o coronel PM Fábio Rogério Candido disse que a implantação das câmeras "está sendo reavaliada pelo novo comando da Segurança Pública no Estado para ver quais são os aspectos positivos e negativos".

Tarcísio de Freitas devolveu a Candido o comando de 96 municípios da região de Rio Preto. Segundo o jornal, ele fora "defenestrado pelo PSDB", transferido pelo então governador tucano Rodrigo Garcia para um posto de comando na capital.

O oficial é alinhado com o bolsonarismo.

Em 2022, ele foi candidato a deputado estadual pelo PL. Foi o 7º suplente da legenda. Durante a campanha eleitoral, apoiou nas redes sociais as candidaturas de Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, Marcos Pontes e Capitão Derrite.

Candido disse ao jornal local que mantém sua posição de que a população deve ter acesso às armas. "Mas, como órgão legalista que é a Polícia Militar, temos que atender à legislação que está colocada em âmbito federal", afirmou.

Em agosto de 2021, o governador João Dória (PSDB) afastou o coronel PM Aleksander Lacerda, que convocou amigos em rede social para a manifestação de 7 de setembro em Brasília. O oficial criticou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), que se recusara a levar adiante o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

Segundo o jornalista Marcelo Godoy, do Estadão, o ato foi interpretado como "o mais forte episódio de contaminação do bolsonarismo na PM paulista".

NOTA DA SSP

A Assessoria de Imprensa e Comunicação da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo enviou ao blog a seguinte nota em resposta ao post:

O colunista Frederico Vasconcelos erra ao afirmar ter havido "lentidão para desmontar o bloqueio de estradas". As forças de segurança de São Paulo são instituições de Estado e sempre agiram com rigor para reprimir qualquer manifestação que ferisse a lei e impedisse a liberdade de locomoção dos cidadãos, minimizando os incômodos causados por esse tipo de protesto.

(*) Por erro de digitação, na versão anterior o nome do Secretário da Segurança Pública foi publicado com incorreção.