O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (6) que ministros que tiverem alguma ação ilícita serão demitidos do governo.
"Quem fizer errado sabe que tem só um jeito: a pessoa será simplesmente, da forma mais educada possível, convidada a deixar o governo. E se cometer algo grave a pessoa terá que se colocar diante das investigações e da própria Justiça", afirmou.
A declaração ocorre no momento em que a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), provoca um desgaste político nesse início de governo. Ela tem sido defendida pela equipe de Lula, após as revelações de que mantém elo político com aos menos três acusados de chefiar milícias no Rio.
Lula deu a declaração na abertura da primeira reunião ministerial, que ocorre na manhã desta sexta-feira no Palácio do Planalto.
Daniela foi nomeada ministra como uma forma de contemplar a União Brasil e ampliar a presença feminina na montagem do governo.
Também foi uma retribuição pelo empenho dela e do marido na campanha do segundo turno em favor do presidente Lula. O casal foi uma das poucas lideranças a apoiar abertamente o petista na Baixada Fluminense —o marido da ministra, Waguinho, é prefeito de Belford Roxo.
Daniela foi reeleita deputada federal como a mais votada no Rio de Janeiro. Como a Folha mostrou em outubro, a campanha dela foi marcada pelo apoio irregular de oficiais da Polícia Militar e pelo ambiente hostil e armado contra adversários políticos de sua base eleitoral.
Essa é a primeira reunião ministerial de Lula. De acordo com integrantes do primeiro escalão, o objetivo do encontro é alinhar as ações do governo e deixar claro que anúncios devem ter aval do Planalto.
A ideia é que o presidente faça um alinhamento da gestão e comunicação, além de discutir as primeiras medidas a serem encampadas no início do governo.
O convite foi enviado para os 37 titulares das pastas. Também deverão participar os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT), no Senado, Jacques Wagner (PT), e no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede).
Ao mesmo tempo que deu recado aos ministros sobre eventuais investigações, Lula também prometeu uma relação de lealdade. "Estejam certos que eu estarei apoiando cada um de vocês nos momentos bons e nos momentos ruins. Não deixarei nenhum de vocês no meio da estrada. Não deixarei nenhum de vocês".
Lula também voltou a fazer um discurso dúbio em relação às disputas políticas. Ao mesmo tempo que pregou união, fez duras críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O petista afirmou que o relatório elaborado pela equipe de transição apontou um cenário de país que foi "semidestruído".
Segundo ele, boa parte das mais de 700 mil mortes da pandemia da Covid-19 ocorreram devido ao "desleixo" da antiga gestão. Além disso, também afirmou que é "difícil de ser mensurado" quanto Bolsonaro gastou para tentar se reeleger no pleito do ano passado.
Lula elogiou a classe política e disse que pretende montar o governo com escolhas técnicas, mas que não se pode deixar de observar a questão política.
"Muitos de vocês são resultados de acordos políticos, porque não adianta a gente ter o governo tecnicamente mais formado em Harvard possível e não ter um voto na Câmara dos Deputados e não ter um voto no Senado. É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda, nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso", disse.
Ele também pediu a seus ministros que deem o máximo de atenção possível a parlamentares e que todos devem ser bem tratados nos ministérios.
"É preciso que a gente saiba que é o Congresso que nos ajuda, nós não mandamos no Congresso, nós dependemos do Congresso. E, por isso, cada ministro tem que ter a paciência e a grandeza de atender bem cada deputado, cada senador que o buscar."
"Não tem importância que você divirja de um deputado ou senador. Quando a gente vai conversar, a gente não está propondo um casamento, estamos propondo aprovar uma tese ou fazer uma aliança momentânea em torno de algum assunto que interessa ao povo brasileiro", disse Lula.
O petista disse ainda que fará quantas conversas forem necessárias com lideranças, partidos políticos e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira.
"Não tem veto ideológico para conversar e não tem assunto proibido em se tratando de coisas boas para o povo brasileiro", afirmou o presidente.
O chefe do Executivo afirmou que não quer ouvir relatos de deputados e senadores que foram apresentar demandas nas pastas e levaram horas para serem recebidos.
Lula também enalteceu as diferenças presentes no governo. Isso ocorre, por exemplo, na área econômica, em que os ministros da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, e do Planejamento, Simone Tebet, têm uma visão mais liberal, enquanto os chefes das pastas da Fazenda e da Gestão, Fernando Haddad e Esther Dweck, respectivamente, são mais favoráveis à intervenção do Estado.
Da mesma forma, fez um aceno ao agronegócio ao exaltar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que tem uma visão oposta à da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Lula também citou obras inacabadas na área da educação e a demora em hospitais para atendimentos e fez uma referência direto aos ministros que respondem sobre os dois setores. Segundo ele, a "reconstrução" do país passa por essas duas áreas. Além disso, prometeu fazer uma "revolução cultural" no Brasil.
O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), também usou a palavra e aproveitou a oportunidade para criticar Bolsonaro. Ele disse que, em quase 50 anos de vida pública, nunca viu um político usar tanto a máquina pública para tentar se reeleger.
Após o discurso dos dois, a reunião foi fechada para a imprensa.