quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Reeleição da bancada ruralista chega a 65%, e líder espera novas adesões em 2023, FSP

 Thiago Resende

BRASÍLIA

bancada ruralista, uma das mais influentes do Congresso, obteve uma taxa de reeleição na Câmara um pouco acima da média geral dos deputados que disputaram novamente o cargo. A Frente Parlamentar da Agropecuária tem atualmente 247 deputados e faz parte da base do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Desse total, 202 disputaram um novo mandato na Câmara. Saíram-se vitoriosos 133, ou seja, cerca de 65% de índice de reeleição. Considerando toda a composição da Câmara, essa taxa foi de 60,6%.

O presidente da bancada, Sérgio Souza (MDB-PR), que também se reelegeu, espera que novatos se associem ao grupo, que, segundo ele, pode ultrapassar a marca de 255 integrantes na próxima legislatura.

"Estamos preparando um diagnóstico, mas tudo indica que a frente parlamentar sairá reforçada", disse ele. A Câmara tem, ao todo, 513 deputados. Além de Souza, outros líderes ruralistas conseguiram renovar o mandato, como Alceu Moreira (MDB-RS), que liderou a bancada nos primeiros anos do atual governo.

Jair Bolsonaro na festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo, em agosto
Jair Bolsonaro na festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo, em agosto - Miguel Schincariol - 26.ago.22/AFP

Ambos atuaram para que o MDB declarasse apoio a Bolsonaro no segundo turno. O partido, no entanto, ficou neutro e liberou os diretórios estaduais na disputa entre o presidente e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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A terceira colocada no pleito presidencial, Simone Tebet (MDB), declarou apoio ao petista.

"Agora que a eleição ao Congresso passou, vamos entrar 100% na campanha do Bolsonaro. Isso vale para deputados estaduais, federais, governadores, agora prontos para ajudar na reeleição do presidente", disse Alceu.

Para Souza, o resultado da eleição para o Congresso impõe desafios para Lula, caso ele seja eleito presidente —embora afirme que a possibilidade de vitória do PT não existe. "É um Congresso mais forte e que quer pautas do agro, quer as causas da família; um perfil mais conservador", disse o deputado.

O novo vírus do eleitor, Maria Cristina Fernandes - Valor

 

Vitória de Lula no 2º turno passa por entender por que Bolsonaro ganhou onde a pandemia mais matou

— Foto: Arte/Valor

Fica difícil juntar lé com cré ante a notícia de que Jair Bolsonaro venceu a eleição em Manaus. Mas o desnorteio não para por aí. Nos 20 municípios de maior mortalidade pela Covid, Bolsonaro ganhou em 15. Levantamento do Valor Data mostra que se a eleição tivesse se restringido aos 194 municípios com mortalidade por Covid acima da média, o presidente estaria reeleito no primeiro turno. Neste colégio eleitoral, ele alcançou 66% dos votos, enquanto Lula, 44%.

Que país é esse? A frente ampla que, finalmente, começa a se formar em torno de Lula neste 2ª turno não deveria adiar as respostas. É um país que já não aguentava as máscaras, diz um, e já esqueceu a mortandade, diz outro. Certamente não é aquele previsto até por governistas onde cada morto produziria 100 enlutados de oposição, entre amigos e parentes. Fosse assim, Lula teria tido 68,6 milhões de votos e estaria eleito, com folga, no 1º turno.

O recado da vitória de Bolsonaro onde a pandemia mais matou

Se foi CPI da pandemia que pavimentou a candidatura da senadora Simone Tebet à Presidência, o espaço conquistado deveu-se mais ao desempenho esclarecido e destemido na campanha, confirmado ontem na recusa à neutralidade no 2º turno.

O reprise das cenas em que Bolsonaro imita um paciente terminal, zomba da vacina e dos coveiros da Covid certamente elevaram sua rejeição. Mas o tema não reverberou como se apostava. Há muitos recados no 1º turno, mas um deles parece ter sido o de que há uma parcela expressiva da população que rejeita o Estado-cerceador.

Não é apenas o “fique em casa que a economia a gente vê depois” que tem aderência, mas a percepção de que o Estado, ao regulamentar, fiscalizar e multar restringe a capacidade de as pessoas batalhar pela sobrevivência. Isso não é fascismo, mas uma visão libertária derivada de fracassos na mediação do bem comum.

Não é preciso fazer concessões à extrema direita para entender isso. Ignorar as motivações de 51 milhões de eleitores não dificulta apenas a obtenção de seu voto, mas também transforma a tarefa de governá-los e bem informá-los numa pedreira.

Bolsonaro abriu a maçaneta que tirou essas motivações do armário e não vai ser fácil encontrar a chave para recolocar cada coisa em seu lugar. Muitos dos motociclistas multados por dirigir sem capacete passaram a alegar, em seus recursos, que o presidente da República tampouco o faz.

Nos grupos qualitativos que acompanhou ao longo da campanha, Esther Solano testemunhou a reprise do discurso de Bolsonaro em pessoas que se viram cerceadas em seu direito de sair de casa para trabalhar com liberdade pelo ganha-pão da família.

A mesma intransigência pelo direito de sair de casa parece se aplicar a quem nela pode entrar. Entre as agruras enfrentadas pelos recenseadores do IBGE está a recusa da população a recebê-los e a responder a um questionário que inclui até o CPF.

O mote “da minha vida cuido eu”, que, na pandemia, abreviou a carreira política de João Doria e, por tabela, tirou seu sucessor do 2º turno em São Paulo, ainda invadiu a percepção sobre outra política pública civilizatória, as câmeras nos uniformes policiais.

A posição de Tarcísio Freitas, frontalmente contrária às câmeras, não o impediu de passar à liderança na disputa. Os 9,8 milhões de votos obtidos pelo candidato bolsonarista em São Paulo demonstram que não se trata de uma cultura restrita aos clubes de caçadores, atiradores e colecionadores.

Se as câmeras, comprovadamente, reduzem a letalidade policial e, por isso, precisam ser mantidas, lideranças comunitárias nas redes sociais se manifestaram contrariamente à iniciativa durante a campanha por desconfiarem de seu uso contra a população negra e periférica.

Essa cultura do empreendedorismo anti-Estado se manifestou no arrastão bolsonarista dos palanques estaduais e proporcionais. E ainda em estados como Minas, governado pelo mesmo espírito, vide a reeleição de Romeu Zema, o comerciante-governador que encarna o Estado e sua negação, do confinamento à revogação da reforma trabalhista.

Essa validação de uma coisa e de seu contrário invadiu a composição da Câmara, onde tanto aumentou a bancada dos sem-terra quanto a da bala. Entre os dois extremos, proliferou o pântano dos sócios do bolsonarismo, de olho na estatização dos seus prejuízos.

Se em Minas esse espírito não impediu que Lula ganhasse, é em São Paulo que se levanta um paredão contra o PT, sobretudo no interior, cujos votos se sobrepuseram aos da capital e selaram a derrota tanto de Lula quanto de Fernando Haddad.

O repúdio vai do grande empresário que resiste a abrir mão de bilionárias renúncias fiscais a pequenos e médios empreendedores que veem no petismo a tríade regulamentar, fiscalizar e multar.

O empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil, regulamentado às vésperas do 2º turno, quis incutir o espírito do empreendedorismo em quem só tem a miséria como caução.

Na adesão a Lula, com um discurso que há muito não se via na política, uma das cinco propostas de Simone foi a da bolsa-empreendedorismo para alunos do ensino médio. É pouco, mas sinaliza uma reinvenção de quem entrou no jogo a partir da pandemia. A consolidação da vantagem lulista neste segundo turno passa mais por encontrar sua pegada no tema do que pela cilada dos costumes.

Maria Cristina Fernandes é jornalista do Valor. Escreve às quintas-feiras
E-mail: mcristina.fernandes@valor.com.br


Michel Temer divulga nota ‘neutra’ e diz que apoiará candidato que defender democracia e reformas, OESP

 O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou nesta quinta-feira, 6, em nota, que vai apoiar para a Presidência da República quem “defender a democracia, cumprir rigorosamente a Constituição, promover a pacificação, mantiver as reformas já realizadas” em seu governo e propuser “ao Congresso Nacional as reformas que estão na agenda do País”. O emedebista não citou nominalmente nem Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem Jair Bolsonaro (PL), os dois candidatos que disputam o segundo turno da eleição presidencial.

Michel Temer (MDB) votou em um colégio no bairro do Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, por volta das 10h deste domingo, 2
Michel Temer (MDB) votou em um colégio no bairro do Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, por volta das 10h deste domingo, 2 

A nota do ex-presidente não dá pistas sobre fazer campanha ou colocar seu apoio em prática. O candidato do PT já disse diversas vezes que pretende rever a reforma trabalhista aprovada em 2017, durante a gestão de Temer. Quanto a Bolsonaro, uma das principais críticas de seus opositores diz respeito à defesa da democracia, diante dos ataques do atual chefe do Executivo às urnas eletrônicas e ao processo eleitoral.

Na quarta-feira, 5, em meio à onda de adesões das campanhas de Lula e Bolsonaro, interlocutores de Temer afirmaram que ele se posicionaria a favor do presidente da República, tese que mais tarde foi negada pelo emedebista. A ex-candidata do MDB ao Planalto em 2022, Simone Tebet, anunciou que vai apoiar o petista no segundo turno.