domingo, 10 de julho de 2022

Máquina tucana, EDITORIAL fsp

 Na corrida ao Palácio dos Bandeirantes, nenhum candidato dispõe de recursos tão formidáveis como os do governador Rodrigo Garcia (PSDB) no exercício do cargo, que assumiu após a renúncia do correligionário João Doria, em março.

Como outros estados, São Paulo foi beneficiado por um extraordinário aumento de receitas nos últimos dois anos, graças à alta dos combustíveis e das tarifas de energia e ao socorro recebido da União no primeiro ano da pandemia.

Isso permitiu que os governadores chegassem ao período eleitoral com os cofres abarrotados. No fim do ano passado, havia quase R$ 70 bilhões disponíveis no caixa do governo paulista, quantia 58% maior do que a registrada um ano antes.

Administradores prudentes devem gerir a bonança com parcimônia, precavendo-se para ter recursos à mão em caso de piora. Os irresponsáveis farão como Jair Bolsonaro (PL), que gasta tudo o que pode para tentar se reeleger.

Ainda não se sabe com qual figurino Garcia irá se apresentar ao eleitorado, mas surgiram sinais preocupantes nos últimos dias.

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Há uma semana, o governador anunciou o congelamento das tarifas de pedágio nas rodovias estaduais, por tempo indeterminado. Para evitar desequilíbrios nos contratos das estradas, o estado pagará indenizações às concessionárias enquanto o congelamento durar.

Divulgado há poucos dias, um relatório do Tribunal de Contas do Estado sobre o exercício do ano passado encontrou indícios de descontrole no uso de verbas reservadas para projetos apadrinhados por aliados do governador.

Em São Paulo, cada deputado estadual tem o direito de apresentar emendas no valor de até R$ 5 milhões durante a discussão do Orçamento anual. Os critérios são isonômicos, e os repasses, obrigatórios, para evitar favorecimentos.

Mas também vigora no estado um mecanismo informal de distribuição de verbas para barganhas com aliados, conhecido como emendas voluntárias, em que não há regras claras nem transparência na prestação de contas.

Segundo o TCE, até julho do ano passado o governo estadual se comprometeu com o repasse de R$ 1,3 bilhão para indicações por esse sistema, que dá preferência a quem se alinhar com o governador.

Questionado pelo órgão de controle, o estado informou ter enviado R$ 308 milhões a municípios do interior do estado e nada declarou sobre o que foi feito com o restante do dinheiro.

Numa disputa eleitoral como a deste ano, que tem tudo para ser acirrada, o controle dessas verbas pode fazer diferença. Que elas possam ser manipulados com tanta informalidade é um escárnio que exigirá atenção redobrada.

editoriais@grupofolha.com.br

Ruy Castro E aquela do Ivan Lessa? FSP

 

Ivan Lessa (1935-2012), jornalista, escritor, fã de Billy Eckstine e informal pensador social, foi autor nos anos 1970 de frases que nos fazem dolorosamente entender o que somos e por quê. Uma: "De 15 em 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos 15 anos anteriores." Outra: "O brasileiro é um povo com os pés no chão. E as mãos também." E, quando os militares bradaram "Brasil, ame-o ou deixe-o", Ivan completou: "O último a sair apague a luz do aeroporto."

Ninguém mais crítico da nossa realidade do que Ivan. "O Brasil tem 8.511.965 quilômetros quadrados por sete palmos de profundidade." "Três em cada cinco índios são cada vez mais um só. Os outros dois também." "Amar é... ser a primeira a reconhecer o corpo dele no Instituto Médico Legal." "Cada vez que um nordestino não consegue dar de comer aos filhos, alguém o acusa de alimentar debates estéreis." "Todo cidadão tem o direito de ser presumido culpado até que sua execução seja efetuada."

"Se Deus é brasileiro, então tudo é permitido aos estrangeiros." "Em São Paulo, área de lazer é como eles chamam o resto do país." "Nunca conte com o ovo no cu de uma galinha brasileira." "Num país em que o futuro a Deus pertence, os agnósticos perguntam: ‘E o passado? Quem vai se responsabilizar por ele?’". "Baiano não dá bandeira. Hasteia." E o famoso "Baiano não nasce. Estreia."

Quem mais sofisticado para descobrir novos sentidos nas frases feitas? "Na Idade da Pedra, todas as frases eram lapidares." "A morte é um estado de espírito." "Marat e Charlotte Corday inventaram o banho de sangue." "Freud, ao morrer, descobriu o que havia além do princípio do prazer." "O sol nasce para todos. Já o crepúsculo é meio classe média." "A relatividade é a forma mais elevada de absolutismo." "A terra de ninguém é sempre disputada por duas ou mais facções."

E, já antevendo o futuro próximo, "Num estado de direito, nem sempre a esquerda é sinistra."

Ivan Lessa (esq.) e Ruy Castro no Leblon, no Rio, em 2006 - Heloisa Seixas

Vídeo mostra momento em que bolsonarista invade festa e atira contra militante petista, FSP

 Uma câmera de segurança registrou o momento em que um policial penal bolsonarista invadiu uma festa de aniversário e atirou contra o guarda civil e militante petista Marcelo de Arruda, que comemorava seu aniversário de 50 anos em festa temática a favor do PT.


O crime aconteceu na noite de sábado (9), em Foz do Iguaçu (PR). Arruda, que também estava armado, reagiu e feriu Jorge José da Rocha Guaranho.

O militante petista Marcelo Arruda, guarda municipal em Foz do Iguaçu, foi assassinado
O militante petista Marcelo de Arruda - Reprodução Twitter Gleisi Hoffmann

Segundo o boletim de ocorrência, a confusão começou quando Guaranho passou diante do local onde ocorria a festa e gritou "aqui é Bolsonaro". Houve discussão, e Guaranho disse que retornaria.

De acordo com testemunhas, Marcelo então foi ao seu carro e pegou sua arma. Depois, Guaranho retornou e houve troca de tiros.​

Marcelo era guarda municipal e tesoureiro do partido. O crime ocorre em meio a episódios de violência e tensão que se acumulam na pré-campanha eleitoral no Brasil.