quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Precisamos demonstrar efetivamente como temos atuado na questão Ambiental, defende Arnaldo Jardim, do blog

 O setor agropecuário mais uma vez mostrou sua força e sua capacidade em 2020 enfrentando a pandemia. Esta é a avaliação do deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente Sudeste da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e líder do Cidadania na Câmara dos Deputados.

O parlamentar aborda ainda a questão da sustentabilidade na produção, tema determinante para a manutenção das exportações brasileiras para o mundo. Também traz as perspectivas para o mercado internacional e defende a manutenção de medidas sanitárias para que o produto brasileiro não enfrente barreiras em outros países.

"O Agro destacou-se no enfrentamento da pandemia por termos o caracterizado como um serviço essencial, o que nos permitiu continuar a produzir e fazer escoar a produção. Tivemos ainda, no mercado internacional, uma condição favorável às exportações de proteína, assim como às exportações de grãos. Isso tudo fez com que o Agro se destacasse", destaca na entrevista a seguir:

Como o Agro enfrentou a pandemia em 2020?

O Agro destacou-se no enfrentamento da pandemia por termos o caracterizado como um serviço essencial, o que nos permitiu continuar a produzir e fazer escoar a produção. Tivemos ainda, no mercado internacional, uma condição favorável às exportações de proteína, assim como às exportações de grãos. Isso tudo, aliado ao momento de câmbio favorável, fez com que o Agro se destacasse pelo seu vigor no momento da pandemia. E limitações sanitárias que acabaram sendo adotadas, não se transformaram em entraves ao trabalho, muito pelo contrário! O Agro se expandiu de uma forma muito significativa,  aumentamos a produção! Devemos agora manter esse clima favorável para o ano próximo, o Agro destacando-se como o setor mais resistente e melhor posicionado para ajudar na retomada do crescimento. A exportação brasileira do agronegócio atingiu US$ 77,9 bilhões de janeiro a setembro deste ano, alta de 7,5% em comparação com igual período do ano passado. As importações totalizaram US$ 9,2 bilhões. Desta forma, o agronegócio obteve um superávit recorde de US$ 68,7 bilhões para o acumulado de nove meses. Destaco ainda que conseguimos avançar em algumas questões que terão, no ano que vem, impacto muito positivo para o Setor, particularmente, a nova Lei de financiamento (13.986/20).

O Brasil se consolidou como o maior exportador de proteína animal (carnes) do mundo! Continuará assim?

Realmente o Brasil se consolidou como o maior exportador de carne bovina do mundo, o segundo de frangos e o quarto de suínos. É certo que a peste suína na China e em outros países asiáticos nos ajudou a consolidar essa posição, mas estou convencido de que estamos bem lastreados para mantermos essa posição. Destacam-se duas questões. Primeiro, a defesa permanente da sanidade animal. Nos três setores de carne tivemos importantes avanços no combate à febre aftosa de bovinos, combate à gripe aviária e à peste suína, entre outras doenças. É absolutamente importante manter essas medidas de defesa animal e vegetal e, para tanto, precisamos estruturar a defesa sanitária de uma forma que o setor, acredito eu, tenha mais autonomia, mais agilidade e autofinanciamento. Acho que precisamos fazer isso em cada um dos Estados. No próprio Estado de São Paulo isso é necessário. Entretanto a proposta de reformulação do Setor de Defesa Sanitária apresentada por São Paulo, no meu entender, é frágil e não compreende a delicadeza dessa questão, trazendo ameaças com relação ao Fundo de Defesa, que em minha opinião deve ser preservado. O fato é que toda a questão referente à inspeção precisa melhorar. Há muito tempo, entendemos que esse trabalho precisa ser fortalecido, precisamos de formas mais criativas de realizar esse trabalho - que não seja estritamente pelo sistema, como hoje funciona. É preciso uma reformulação da Defesa Animal no País e em cada um dos Estados, o sistema precisa ser aperfeiçoado. 

A questão ambiental foi a maior polêmica, como tratar disto?

A questão ambiental veio para ficar, essa é a minha convicção. Muitas vezes, assumimos, nos debates em torno do tema, uma posição muito defensiva. Sou a favor de que passemos a ter uma atitude mais propositiva no que diz respeito à responsabilidade ambiental. Para isso, não cabe  posicionamento do tipo: "nós somos vítimas de uma conspiração". Entendo ser um discurso frágil, que não nos ajuda a enfrentar adequadamente essa questão.

O que precisamos é demonstrar, efetivamente, como temos atuado na questão Ambiental. Escrevi, inclusive, um artigo, que me permito lembrá-lo aqui, sobre a nossa agricultura sustentável. Destaco aspectos muito positivos do compromisso com a sustentabilidade que tem o nosso setor produtivo.

Relembro a questão de uma legislação rigorosa que temos como o Código Florestal extensamente debatido com a sociedade e que não tem paralelo em qualquer País no mundo.

Também alerto que devemos fazer a lição de casa. Os pecadilhos que temos precisam ser enfrentados, para que nossas virtudes, que são muitas e fortes, possam ter maior destaque. Portanto, precisamos incorporar, definitivamente, o compromisso com a Sustentabilidade e, principalmente, divulgar mais amplamente o que o Setor já vem fazendo há muito tempo nesse sentido.

Qual aperfeiçoamentos devemos fazer para manter o Setor Agro como o mais dinâmico do País?

O Setor Agro enfrenta ainda preconceitos como vimos na questão anterior. Dizem que somos predatórios. Não, não somos! Somos comprometidos com a Sustentabilidade! Dizem que temos relações antiquadas. Não, não temos! Temos relações modernas de produção e, a própria lei de integração demonstra isso - cadeias como a Consecana são exemplos importantes dessa relação harmônica dentro do Setor. Além disso, o grau de formalização do trabalho no campo é superior ao que temos nas grandes cidades, ou seja, nos grandes centros urbanos a informalidade do trabalho é muito superior ao que temos no Setor Agro. Outra preocupação que tenho é em relação à Inovação. Repensar, redefinir, fortalecer o papel da Embrapa, estabelecer novas formas de parcerias entre ela e o setores de pesquisa, tanto da iniciativa privada como das instituições de ensino. Dar uma sacudida positiva na Embrapa, integrando-a com os institutos de pesquisas estaduais, nosso caso em São Paulo é muito emblemático, nossos Institutos precisam também adquirir esta dinâmica. Então, manter o Setor de Inovação prestigiado, fortalecido para que possamos continuar buscando maior produtividade. Por outro lado, avançarmos de uma forma muito significativa na logística. O Setor tem que se preocupar com a sua logística de armazenamento e escoamento, razão pela qual, eu, designado pela FPA, estou relatando projetos tais como: "o Novo Marco Regulatório sobre Concessões e PPP's" e também deverei relatar a nova proposta sobre "Debêntures", para que nós possamos ter maiores investimentos no segmento de Logística. Outro aspecto ainda a se destacar é a necessidade de termos maior apoio. O Governo precisa, apoiar o segmento privado na busca por mercados internacionais. Algumas vezes tivemos desvios, como as polêmicas que dificultaram a relação com a China e com Países Árabes. A nossa política externa tem que ser agressiva, sim, porém essencialmente pragmática buscando ampliar a presença do País nos Fóruns de Comércio Internacional. Por derradeiro, precisamos aperfeiçoar ainda mais os mecanismos de financiamento do Setor. Festejo tudo aquilo que conseguimos com a Nova Lei do Agro de financiamento e me permito destacar o Projeto de Lei que apresentei que institui os Fundos de Investimentos para Setor Agropecuário (Fiagro), como uma medida importante para ampliar as alternativas de financiamento, ao mesmo tempo que preserva a política de juros controlados para os Pequenos e Médio Produtores.

Seus desejos para 2021, quais são?                     

O ano de 2021 é um ano ímpar. Ano ímpar significa, no Brasil, não ter eleições. Então, desejo que tenhamos paz na política, substituindo a exacerbação dos conflitos por uma busca de convergência, especialmente no Parlamento. Depois da aprovação das Reformas Trabalhistas e Previdenciária, que possamos discutir e aprovar definitivamente a Reforma Tributária e a Reforma Administrativa.

Que possamos assim, avançando nessas Reformas estruturais, criar condições mais favorável para a retomada do crescimento econômico e melhoria das condições de vida da nossa população.

Desejo, em síntese, ver o Brasil cumprir o seu desígnio de ser uma grande Nação, medida não somente pela quantidade dos nossos números, pelo volume das nossas atividades, mas também pela qualidade de vida das pessoas e por maior justiça para todos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Em dois anos, 'onda laranja' vira frustração para o Novo; Amoêdo pede 'reflexão', OESP

  "onda laranja" ensaiada pelo partido Novo em 2018, com a estreia da sigla nas eleições gerais, chegou às disputas deste ano como uma marolinha. Nem a principal liderança do partido, o ex-presidenciável João Amoêdo, escondeu a frustração pelos 29 vereadores e um prefeito eleitos em 2020, número considerado por ele "aquém" das expectativas.

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Ex-presidenciável pelo Novo, João Amoêdo pede reflexão após baixo desempenho da sigla nas eleições 2020 Foto: katna Baran/Estadão

O clima da sigla neste pós-eleições contrasta com o de dois anos atrás, quando o partido lançou 414 candidatos e elegeu 21 parlamentares, além do governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Na corrida pela Presidência daquele ano, Amoêdo surpreendeu: terminou o 1º turno à frente de Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos), que participavam dos debates, e menos de três pontos porcentuais atrás de Geraldo Alckmin (PSDB). Neste ano, das 620 candidaturas, o Novo elegeu 29 vereadores e um prefeito, o de Joinville (SC), Adriano Silva.

"O nosso desempenho em 2020 ficou aquém daquilo que se esperava do Novo. Isso não tira o mérito e os parabéns aos eleitos, mas deve servir como alerta e reflexão", diz Amoêdo. "É importante valorizar os resultados, porém é mais importante identificar e aprender com os erros, só assim continuaremos a crescer e ser de fato uma instituição que represente a esperança de mudança para o País."

O ano foi marcado por disputas internas no Novo. A principal delas envolveu Filipe Sabará, que tentou disputar a Prefeitura de São Paulo, mas foi suspenso pela própria sigla e teve sua candidatura indeferidaSabará afirmou ter sido alvo de uma perseguição promovida por Amoêdo e por uma suposta ala "esquerdista minoritária" dentro do partido, que tem viés liberal. A situação expôs a divisão entre um grupo mais alinhado ao presidente Jair Bolsonaro, que inclui Sabará, Zema e alguns deputados; e críticos do Planalto, como Amoêdo. Um grupo de WhatsApp chamado "Tentando Salvar o Novo", que reuniu desafetos de Sabará durante a pré-campanha, contribuiu para acirrar os ânimos no diretório estadual da sigla.

Candidata a vereadora em São Paulo e alinhada a Sabará, Wafá Kadri usou as redes sociais para criticar a direção da sigla. "Jamais deixei de acreditar nas ideias do partido, mas tudo tem limite", escreveu. "Cada vez mais faz sentido apoiar candidaturas independentes. Isso acabaria com as panelinhas e caciquismo."

Imagem em conflito

Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie, os conflitos internos ajudam a entender o mau desempenho do Novo em 2020, mas a pandemia também é uma explicação. "O partido se constituiu numa perspectiva liberal, mas em 2018 essa ideia foi associada a Bolsonaro. Nos anos seguintes, ficou conflagrado por uma dificuldade de estabelecer uma identidade por causa disso. Além disso, não faz sentido falar em diminuir o Estado num momento de pandemia, em que se não fosse o Estado intervindo com auxílio emergencial e outras ações a situação estaria mais crítica. O discurso liberal perdeu espaço neste momento."

A imagem no Novo pode sair prejudicada, de acordo com Cris Monteiro, vereadora eleita em São Paulo, onde a bancada do partido passou de um para dois representantes. "O partido está com uma imagem difusa na cabeça do eleitor. Afinal, apoiamos o governo Bolsonaro ou somos oposição? Essa falta de posicionamento pode ter feito o partido perder dos dois lados."

O prefeito eleito pela sigla em Joinville (SC), Adriano Silva, exemplifica a falta de posicionamento claro de algumas lideranças do partido. Primeiro prefeito eleito pelo Novo, ele foi questionado pelo Estadão sobre o desempenho da sigla em 2020, o efeito das disputas internas e sobre como avalia os governos estadual catarinense e federal. Adriano se definiu como liberal na economia e conservador nos costumes e afirmou ter se dedicado tanto à campanha municipal que ficou "totalmente alheio" às questões internas do Novo, e não quis comentar sobre Bolsonaro ou Carlos Moisés. "Uma coisa é verdade. Romper a política atual no Brasil é ir contra o mecanismo", disse.

O presidente da sigla, Eduardo Ribeiro, reconheceu que o imbróglio com Sabará em São Paulo prejudicou o desempenho na cidade e vê os conflitos internos como parte de um processo de crescimento a sigla. Ele aponta o aumento das bancadas do Novo em Belo Horizonte, onde agora são três vereadores do partido, e em São Paulo, como bons resultados neste ano. Em Curitiba (PR), a vereadora mais votada, Indiara Barbosa, é do Novo.

"O saldo foi bom, mas poderia ser melhor. Sabíamos das dificuldades de conjuntura, mas existia expectativa", diz Ribeiro. "(Os conflitos) têm impacto grande. Mas a longo prazo, a coerência do partido vai prevalecer. Era um partido pequeno, que agora tem bancada na Câmara, um governador, um prefeito de capital."

 

Número do Partido Novo nas eleições:

Em 2020: 620 candidatos (30 para prefeito e 560 para vereador); eleitos: um prefeito (Joinville/SC) e 29 vereadores.

Em 2018:  414 candidatos (presidente, cinco para governador, seis para senador, 228 para deputado federal, 125 para deputado estadual e 331 para deputado distrital); eleitos: um governador (Minas Gerais) e 21 parlamentares.

Em 2016: 144 candidatos (um para prefeito e 142 para vereador); eleitos: quatro vereadores.

 

Marcelo Viana Civilização maia, a mais notável das Américas, FSP

 Após vencerem os astecas, que dominavam o planalto mexicano, os invasores espanhóis se depararam com vestígios de uma cultura muito mais sofisticada, espalhados em Iucatã (sul do México), Guatemala, Honduras, Belize e El Salvador. São monumentos impressionantes em misteriosas cidades perdidas na selva, suas paredes cobertas com símbolos complicados, chamados glifos.

Era o que sobrara da brilhante civilização maia, cujo período de glória teve lugar entre os anos 250 e 900. Os descendentes ainda habitavam a região, mas, como eram empobrecidos e reduzidos a uma agricultura de subsistência, era difícil acreditar que pudessem ter algo a ver com a cultura que erguera tais monumentos.

Os europeus preferiram atribuir a autoria a algum povo desconhecido vindo do Velho Mundo, talvez até as Tribos Perdidas de Israel, e os maias foram esquecidos até a década de 1840, quando os viajantes John Lloyd Stephen e Frederick Catherwood publicaram o magnífico “Incidentes de viagem na América Central, Chiapas e Iucatã”. Repleto de suas observações, traduzidas em ilustrações espetaculares, esse livro foi responsável pela fascinação que os maias passaram a exercer sobre os intelectuais do Ocidente.

Infelizmente, fascinação não acarreta compreensão: os maias passaram diretamente do esquecimento para o mito.

Pedra esculpida; no centro, uma figura uma parece soprar algo
Pedra esculpida por pessoa da civilização Maia - Orlando Sierra/AFP

Quando li pela primeira vez sobre eles, ainda prevalecia a ideia de que teriam sido um povo pacífico e contemplativo, voltado à busca dos valores espirituais, liderado por uma casta benevolente de sacerdotes astrônomos-matemáticos regidos pela moderação em todas as coisas, a disciplina, a cooperação, a paciência e o respeito pelo próximo.

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Para perceber até que ponto era bobagem, tivemos que decifrar os escritos dos antigos maias, cuja leitura seus próprios descendentes tinham esquecido ao longo dos séculos. Hoje sabemos que, embora os seus avanços em astronomia e matemática tenham sido notáveis, isso não trouxe outra sabedoria: os maias viviam em guerra quase permanente, e suas elites eram particularmente sedentas de sangue e adeptas da tortura.

Stephens não duvidara que os glifos constituíam um sistema completo de escrita e pedira que “um Champolion” (referência ao descobridor da escrita hieroglífica egípcia) aplicasse seu talento para decifrá-los.

Mas esse desafio foi essencialmente ignorado —as principais obras sobre escritas antigas nem sequer o mencionavam— até meados do século 20, quando foi vencido no espaço de duas décadas. Fica para semana que vem.

Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.