quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Após decisão da Justiça, cartórios corrigem certidões de óbito de torturados pela ditadura, FSP

Determinação foi dada pelo desembargador Geraldo Pinheiro Franco; novos documentos são entregues nesta quarta (18)

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SÃO PAULO
Após uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, certidões de óbito de pessoas torturadas pela ditadura militar foram retificadas por cartórios e entregues às famílias nesta quarta-feira (18).
A partir de agora, no campo relativo à causa do óbito, as certidões constarão que houve “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto de perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora”.
Como a Folha apontou em maio, as alterações nos documentos vinham sendo negadas pela 2ª Vara de Registros Públicos da capital. 
Foi o caso da certidão de Luiz Eduardo Merlino (1948-1971), jornalista torturado e morto na ditadura, que apontava a causa da morte no registro oficial como anemia aguda traumática. A versão foi desmentida pela Comissão Nacional da Verdade em 2014.
Angela de Almeida, que foi companheira do jornalista Luiz Eduardo Merlino, morto sob tortura no DOI-Codi paulista - Danilo Verpa - 2.mai.2019/Folhapress
Os pedidos de retificação foram feitos pela então presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, a procuradora regional da República Eugênia Gonzaga, vinculada ao governo federal e assinada pelas famílias.
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Ela foi substituída do cargo em agosto, pelo governo Jair Bolsonaro, junto a mais três dos sete integrantes da comissão.
Ao receber o pedido de retificação da certidão de Merlino, o escrivão do cartório de Jardim América (zona oeste da capital) questionou a juíza 2ª Vara, Letícia Fraga Benitez, se estava autorizado a fazer essa mudança.
Ela negou, embora tenha, em decisão anterior, autorizado que constasse a frase na certidão de óbito. “A retificação pretendida demanda a realização de juízo de valor a respeito do pleiteado”, disse, à época.
A família de Merlino recorreu da dessa decisão e o caso foi parar nas mãos do então corregedor do Tribunal de Justiça, Geraldo Pinheiro Franco, que decidiu a favor da retificação em outubro passado. 
Pinheiro Franco foi eleito no início do mês presidente da corte pelos próximos dois anos.
Além dos familiares Merlino, também receberá a certidão de óbito retificada a família de Virgílio Gomes da Silva (1933-1969), que militava para a ALN (Ação Libertadora Nacional).
A cerimônia de entrega dos documentos corrigidos aconteceu no Ministério Público de São Paulo, na manhã desta quarta.
 
A certidão de Merlino com erro chegou a ser mencionada pela defesa do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015) ao recorrer de uma sentença que o condenava a pagar indenização à família do jornalista em 2012.
O recurso de Ustra contra a decisão de primeira instância foi julgado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em outubro do ano passado, em meio a um segundo turno presidencial em que o coronel do DOI-Codi paulista, ídolo do então candidato Jair Bolsonaro, virou figura-chave em debates políticos. 
Na decisão, os desembargadores citam o argumento da defesa a respeito da certidão de nascimento, mas não analisaram a legitimidade do documento —apenas decidiram que o caso estava prescrito.
A professora universitária Angela de Almeida, companheira de Merlino à época em que ele foi morto, tem dito que essas menções e o uso jurídico só reforçaram a urgência de mudança no documento oficial. “A necessidade de modificação da certidão não é apenas simbólica para nós”, disse.

ISBN deixa de ser feito pela Biblioteca Nacional em 2020, OESP

Maria Fernanda Rodrigues
18 de dezembro de 2019 | 08h53


O ISBN (International Standard Book Number) foi criado em 1967 por editores ingleses, se tornou internacional 10 anos depois e desde 1978 é concedido, no Brasil, pela Biblioteca Nacional. Trata-se do código que identifica um livro (título, autor, país, editora, formato) e que vem impresso na quarta capa do volume.
A partir do dia 1.º de março de 2020, ele passa a ser concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), entidade que congrega editores, livreiros e distribuidores e que tentava, há anos, ser a Agência Brasileira de ISBN. Portanto, até 28 de fevereiro, quem precisar emitir um ISBN ainda deve procurar a Biblioteca Nacional e a Fundação Miguel de Cervantes, sua parceira na prestação do serviço.
Foto: Werther Santana/Estadão)
Para o mercado editorial, essa mudança pode significar agilidade e profissionalismo. Anos atrás, por causa de uma greve na Biblioteca Nacional, editoras ficaram até 60 dias sem conseguir o código. Há, por outro lado, receio de que essas informações sejam de responsabilidade apenas de uma entidade privada.
A mudança ocorre no momento em que o contrato entre Biblioteca Nacional e Agência Internacional de ISBN estava para ser renovado e garantiu à CBL a chance de assumir o serviço no País.
O preço será mantido. Um ISBN custa R$ 22. Quem quiser também o código de barras paga mais R$ 36. Para solicitar o serviço, é preciso ser cadastrado – e esse cadastro custa R$ 290. Isso tudo será feito por meio do site www.isbn.org.br, que ainda está em construção.

Brasil perde 1,5 milhão de sindicalizados após reforma trabalhista, FSP

RIO DE JANEIRO
No primeiro ano após a reforma trabalhista do governo Michel Temer, o Brasil perdeu 11,9% de pessoas no contingente de sindicalizados. Em números absolutos, a redução foi de 1,5 milhão de trabalhadores associados a sindicatos no país. 
Em 2018, das 92,3 milhões pessoas ocupadas, 12,5% eram sindicalizadas. No ano anterior, esse percentual representava 14,4% do total.
Essa mudança pode ser atribuída a movimentos na dinâmica do mercado de trabalho no Brasil, segundo informou nesta quarta-feira (18) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Estamos vivendo momentos simultâneos do comportamento do mercado de trabalho em um ambiente de crise. Pessoas se inserindo em atividades muitas vezes com características mais informais para atravessar o momento de crise", apontou Adriana Beringuy, analista do IBGE.
Em 2018, segundo o IBGE, a diminuição de sindicalizados foi mais acentuada no Nordeste (14,1%) e Sul (13,9%). Já as regiões Norte (10,1%) e Centro-Oeste (10,3%) apresentaram as estimativas mais baixas.
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Por sexo, houve uma diferença nos percentuais de homens (12,6%) e mulheres (12,3%) associados a sindicatos. No Sudeste essa diferença era maior em um ponto percentual entre os homens. O Nordeste foi o único a apresentar percentual feminino (14,9%) ocupadas sindicalizadas superior ao masculino (13,5%) na mesma condição.
Porém, o Brasil registrou no ano passado o primeiro saldo positivo na geração de postos formais de trabalho desde 2014, com a criação de 529 mil vagas registradas, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). A informação está em relatório divulgado nesta pelo Ministério da Economia em janeiro.
Em pesquisa sobre características do mercado de trabalho, o IBGE mostrou que a associação a sindicato acentua a trajetória de queda desde 2016, quando diminuiu em 7,4% (1,1 milhão de pessoas) o contingente de associados, baixando para 14,9% a proporção.
Em 2017, o contingente caiu para 14,4%, mesmo com recuperação da população ocupada, que viu crescer o trabalho por conta própria e o emprego no setor privado sem carteira de trabalho assinada 
De acordo com o IBGE, no ano seguinte, ocorreu novamente expansão expressiva da população ocupada, em 1,2 milhão de pessoas, que não contribuíram para semelhante aumento da sindicalização.
Com isso, o percentual de sindicalização caiu para 12,5%, o menor da série histórica do IBGE. 
A maior taxa de sindicalização em 2018 ocorreu entre trabalhadores do setor público, com 25,7%. Os trabalhadores do setor privado com carteira assinada foram 16%, enquanto os trabalhares sem carteira no setor privado foram apenas 4,5%. Já os trabalhadores por conta própria tiveram taxa de sindicalização de 7,6%.
Quanto maior o nível de instrução, maior era a taxa de sindicalização, apesar de que em todos os níveis de instrução houve queda em 2018. O menor percentual estava entre os trabalhadores de ensino fundamental completo e médio incompleto, com 8,1%. Aqueles com nível superior tinham o maior percentual de sindicalização, de 20,3%.
reforma trabalhista do governo Michel Temer começou a valer em novembro de 2017 e mudou trechos da legislação referentes a jornada de trabalho, férias e intervalo de almoço dos trabalhadores. Também decretou o fim da obrigatoriedade de pagar a contribuição sindical, que passou a depender de autorização dos trabalhadores.
A reforma afetou em cheio os sindicatos, que viram a arrecadação despencar de R$ 3,6 bilhões, em 2017, para R$ 500 milhões, em 2018, sem a contribuição sindical. A cobrança era feita em um dia de trabalho por ano de desconto da folha salarial dos trabalhadores.