quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Petrobras vende refinaria de Pasadena à americana Chevron por cerca de R$ 2 bilhões, FSP

Valor representa 30% do que a Petrobras desembolsou para ter a unidade em processo investigado pela Lava Jato

    Nicola Pamplona
    RIO DE JANEIRO
    A Petrobras confirmou nesta quarta (30) a venda da polêmica refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, para a americana Chevron. 
    O negócio foi fechado por US$ 562 milhões (cerca de R$ 2 bilhões, na cotação atual), cerca de metade do valor desembolsado pela estatal para ter a unidade em um processo investigado pela Operação Lava Jato.
    Vista da refinaria de Pasadena, no canal de Houston, no Texas (EUA); unidade foi comprada em 2006 sob o argumento de que a Petrobras precisava de um ponto de entrada no mercado americano de combustíveis
    Vista da refinaria de Pasadena, no canal de Houston, no Texas (EUA); unidade foi comprada em 2006 sob o argumento de que a Petrobras precisava de um ponto de entrada no mercado americano de combustíveis - Richard Carson/Agência Petrobras
    Localizada nos arredores de Houston, a capital do Texas, a refinaria é vista pela Chevron como uma alternativa para expandir sua capacidade para refinar petróleo produzido em reservas não convencionais nos Estados Unidos e atender sua rede de postos de gasolina na região.
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    A operação faz parte do plano de desinvestimentos da Petrobras e foi aprovada pelo conselho de administração da estatal nesta quarta, quase um ano após a oferta do ativo ao mercado.
    Segundo a companhia, do valor total, US$ 350 milhões (R$ 1,3 bilhão) correspondem ao valor da unidade e o restante, a capital de giro. O valor final da operação ainda está sujeito a atualização do capital de giro, que foi calculado com base no montante disponível em outubro de 2018, informou a Petrobras em comunicado ao mercado.
    A refinaria foi comprada em 2006 sob o argumento de que a Petrobras precisava de um ponto de entrada no mercado americano de combustíveis. 
    A estatal pagou US$ 360 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) por metade da empresa, quase oito vezes mais do que os US$ 42 milhões (R$ 155 milhões) desembolsados um ano antes pela suíça Astra por 100% do capital.
    A disputa judicial, acabou desembolsando US$ 1,2 bilhão (R$ 4,4 bilhões) para ficar com todas as ações. Com a crise financeira, a Petrobras decidiu reduzir suas operações no exterior e incluir Pasadena em sua lista de ativos à venda.
    O processo de compra da refinaria foi alvo da Operação Lava Jato e é hoje investigada também pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que avalia responsabilidades da gestão da empresa durante os governos petistas pelo prejuízo.
    Em uma das ações, a área técnica da autarquia pede a condenação de ex-diretores e ex-conselheiros da estatal, incluindo a ex-presidente Dilma Rousseff, por terem faltado com o dever de diligência ao aprovar a compra da empresa.
    "Essa expansão do nosso sistema de refino na costa do Golfo do México permite à Chevron processar mais petróleo leve americano, abastecer parte de nosso mercado varejista no Texas e na Lousiana com produtos da Chevron e realizar sinergias por meio da coordenação com nossa refinaria em Pascagoula [no Mississipi]", disse em nota Pierre Breber, vice-presidente da Chevron para os segmentos de refino e petroquímica.
    PRÉ-SAL
    A empresa americana anunciou também nesta quarta mudança em suas operações brasileiras, com a venda de participação no campo de produção de petróleo Frade, na Bacia de Campos, para focar recursos na exploração do pré-sal.
    Nos últimos leilões do governo, a companhia arrematou fatias em seis blocos do pré-sal, em parceria com a Petrobras e outras empresas do setor.
    "O pré-sal brasileiro é um recurso de classe mundial", disse, em nota.A fatia de 51,74% no campo de Frade foi comprada pela Petro Rio, que levou também participação em um bloco exploratório no Ceará.

    China retoma compra de açúcar do Brasil e dá ânimo ao setor, FSP

    Após compra de 56 mil toneladas no primeiro semestre de 2018, os chineses importaram 733 mil no segundo

    SÃO PAULO
    As exportações brasileiras de açúcar para a China somaram 790 mil toneladas no ano passado, 132% mais do que em 2017. O número parece bom, mas foi 95% inferior ao da média anual das exportações de 2011 a 2016.
    Em 2013, o Brasil chegou a exportar 3,5 milhões de toneladas de açúcar para a China. A redução das compras vinha ocorrendo há dois anos. No primeiro trimestre do ano ano passado caiu para apenas 56 mil toneladas. 
     Embarque de açúcar para exportação no porto de Santos (SP); se a China repetir nos dois semestres deste ano o número de julho a dezembro de 2018, poderá ajudar na recuperação das exportações brasileiras
    Embarque de açúcar para exportação no porto de Santos (SP); se a China repetir nos dois semestres deste ano o número de julho a dezembro de 2018, poderá ajudar na recuperação das exportações brasileiras - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
    O avanço do açúcar brasileiro no mercado chinês em anos anteriores fez o país asiático colocar pesadas taxas de importação sobre o produto nacional. A alíquota ficou próxima de 95%, o que inviabilizou as compras da commodity brasileira pelas tradings que abastecem o mercado chinês. 
    No segundo semestre do ano passado, o cenário melhorou. Os chineses reduziram as alíquotas sobre a commodity brasileira e impuseram taxas também aos demais produtores mundiais.
    A alíquota brasileira ficou no patamar da dos demais exportadores, e o Brasil voltou a ganhar competitividade no mercado da China. A queda do preço do açúcar e a redução tributária recolocaram as tradings no mercado nacional de açúcar.
    Preço e logística novamente compensaram as compras no Brasil. Além disso, o açúcar brasileiro tem qualidade superior à dos demais países, o que reduz os custos dos importadores durante o refino. Os números do segundo semestre do ano passado já indicaram um cenário um pouco diferente.
    As exportações do período subiram para 733 mil toneladas e o mercado aposta em uma continuidade das importações chinesas. Se a China repetir nos dois semestres deste ano o número de julho a dezembro de 2018, ela poderá ajudar na recuperação das exportações brasileiras.
     Em 2017, o país havia colocado 29 milhões de toneladas no mercado externo. Em 2018, foram 21 milhões, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior. Em receitas, as exportações totais do ano passado somaram US$ 6,5 bilhões, bem abaixo dos US$ 11,4 bilhões de 2017.
    Já a China gastou US$ 217 milhões com compra de açúcar no Brasil em 2018. 
    Vaivém das Commodities
    A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.
    TÓPICOS

    Lava Jato mira propinas em contratos de R$ 682 mi da Transpetro, OESP

    Polícia Federal deflagrou, nesta quinta-feira, 31, 59ª fase da Operação Lava Jato, denominada Quinto Ano, que mira supostos pagamentos de propinas do Grupo Estre a executivos da Transpetro,subsidiária da Petrobrás, em contratos firmados entre 2008 e 2014, que somam R$ 682 milhões. As propinas chegam a R$ 22 milhões. Segundo a Polícia Federal, ‘estão sendo cumpridos 15 mandados de busca e apreensão e 3 de prisão temporária por 60 Policiais Federais, com o apoio de 16 Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, em São Paulo e Araçatuba’. Os mandados foram expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba/PR.
    Segundo a Procuradoria da República em Curitiba, ‘entre os alvos desta fase estão Wilson Quintella Filho, acionista e ex-presidente de empresas do Grupo Estre, o executivo Antonio Kanji Hoshiwaka e o advogado Mauro de Morais’.
    As investigações têm como base a delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. O emedebista revelou que ajustou com Wilson Quintella o suposto pagamento de propinas de pelo menos 1% dos contratos firmados pelo Grupo Estre (Estre Ambiental, Pollydutos e Estaleiro Rio Tietê) com a estatal.
    “O aprofundamento das investigações revelou que as propinas foram pagas por Wilson Quintella em espécie a Sérgio Machado e seus emissários, mediante sucessivas operações de lavagem de capitais que envolveram o escritório Mauro de Morais Sociedade de Advogados. A Receita Federal apurou que a banca advocatícia recebeu, entre 2011 e 2013, cerca de R$ 22,3 milhões de empresas do Grupo Estre, sem que tenha prestado efetivamente qualquer serviço”, afirma o Ministério Público Federal.
    De acordo com a Procuradoria, a ‘análise da movimentação financeira dos investigados demonstrou que, logo após a realização dos depósitos nas contas controladas por Mauro Morais, ocorriam saques fracionados em espécie como forma de burlar os controles do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)’. “No período, o advogado foi responsável por sacar mais de R$ 9,5 milhões”.
    Sérgio Machado e seus emissários afirmaram que ‘os valores em espécie lhes foram entregues no próprio escritório Mauro de Morais Sociedade de Advogados por Antonio Kanji Hoshiwaka, ex-executivo do Grupo Estre e homem de confiança de Wilson Quintella e de Mauro Morais’.
    “Os depoimentos dos colaboradores encontraram corroboração em oitivas de testemunhas e em ampla prova documental, como registros de reuniões, procedimento fiscal sobre o escritório de advocacia de Mauro de Morais e empresas do Grupo Estre e dados bancários e fiscais dos investigados. Merece destaque especial o trabalho conjunto com a Receita Federal, que propiciou relevante reforço probatório a partir de fiscalização”, afirma a Procuradoria.
    Segundo a força-tarefa da Lava Jato, as ‘provas apontam até o momento para um esquema criminoso que desviou, de forma contínua, milhões de reais dos cofres públicos e que pode ter ido além da Transpetro’. “Além dos R$ 22 milhões já identificados na lavagem realizada pelo escritório de Mauro de Morais, depoimentos convergentes de Paulo Roberto Costa, Luiz Fernando Nave Maramaldo e Adir Assad apontam que a atuação criminosa de Wilson Quintella e seu grupo possivelmente alcançou outras áreas, inclusive do sistema Petrobras”.
    O procurador da República Júlio Noronha ressaltou que ‘após quase cinco anos de Lava Jato, é impressionante que alguns criminosos ainda apostem na impunidade. Há empresas e pessoas com milhões de reais transacionados sem explicação econômica e documental plausível que são alvos desta investigação, que ainda tem muito por avançar. A melhor chance para aqueles que receberam e intermediaram propinas é sair das sombras voluntariamente e colaborar com a Justiça’.
    “Na maioria dos esquemas de corrupção identificados pela Lava Jato, foi constatado o comprometimento de importantes agentes públicos amparados por um braço político-partidário. O esquema de corrupção cuja investigação se aprofunda hoje não foge a essa regra. O ex-presidente da Transpetro, indicado e mantido no cargo pelo então PMDB , explicou que parte das propinas que recebeu foi destinada a importantes políticos do partido. É essencial que as investigações avancem e os fatos sejam completamente esclarecidos”, afirma o procurador da República Roberson Pozzobon.
    Para o procurador da República Deltan Dallagnol, “o ano começou na Lava Jato em Curitiba com duas fases, duas denúncias, a prisão de um ex-governador e o anúncio da reversão de R$ 2,5 bilhões para a sociedade. Em dezembro, foram três denúncias e uma ação de improbidade, inclusive contra partidos que foram beneficiários de propinas, um deles que volta à tona nesta fase da operação. Há muito trabalho por fazer na Lava Jato e as instituições seguirão cumprindo seu papel”.