quarta-feira, 4 de abril de 2018

Não se trata de Lula, Opinião FSP


Valores e preferências políticas à parte, é forçoso reconhecer que a prisão de condenados em segunda instância constitui, na legislação brasileira, um tema complexo.
A própria Folha não deixou de manifestar preocupação quando, em fevereiro de 2016, o Supremo Tribunal Federal passou a admitir essa possibilidade. Ali se alterava, afinal, uma interpretação do texto constitucional que vinha sendo adotada desde 2009.
“Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, estabelece o inciso LVII do artigo 5º da Carta. Ao longo de sete anos, prevaleceu a leitura de que tal dispositivo só permite o encarceramento após esgotados todos os recursos nas cortes superiores.
Em outubro de 2016, o STF reafirmou, por estreita maioria de 6 votos a 5, que o cumprimento da pena poderia começar a partir de uma segunda condenação —pelos Tribunais de Justiça e pelos Tribunais Regionais Federais, nos exemplos mais importantes.
Este jornal apoiou a decisão, embora já tivesse, no passado, defendido a necessidade de uma palavra do Superior Tribunal de Justiça antes do encarceramento. Como é praxe nessa circunstância, foram expostos aos leitores os motivos da mudança de opinião —que permanecem válidos hoje.
Constata-se, em especial, que a sistemática anterior se mostrava um fator de impunidade seletiva. Réus abastados podiam valer-se da miríade de manobras protelatórias à disposição de seus advogados, prolongando processos por anos ou décadas.
É razoável, e usual no mundo, que se dê início à punição de alguém já considerado culpado em dois julgamentos distintos.
O raciocínio não se modifica em se tratando de penas alternativas, há muito advogadas por esta Folha para réus que não representem risco de violência. Este, entretanto, é um debate para o Legislativo e para o longo prazo.
De palpável e imediato, há um entendimento do STF que precisa ser respeitado. Nesse sentido, aliás, merece elogios a conduta da ministraRosa Weber, que, derrotada em 2016, tem seguido a posição do colegiado. 
A despeito de mudanças da composição e de opiniões individuais no Supremo, os magistrados farão melhor em não rever uma decisão tão recente —e não somente por ser ela virtuosa. Importa, também, preservar a estabilidade jurídica e institucional do país.
Tais observações independem do caso particular do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)condenado pelo TRF da 4ª Região e cujo pedido de habeas corpus deverá ser examinado nesta quarta-feira (4) pelo tribunal.
Evidente, porém, que os ministros incorreram em outro risco, desta vez para sua credibilidade, ao deixar que o pleito do presidenciável petista se misturasse ao embate interno sobre execução de penas.
Será difícil agora evitar que nova reviravolta interpretativa da Carta pareça conveniência de ocasião.

ANP divulga dados de reservas de petróleo e gás em 2017 , ANP



A ANP divulgou nesta segunda-feira (2/4) o Boletim de Recursos e Reservas de Petróleo e Gás Natural relativo a 2017. Os dados são informados à Agência pelos operadores dos campos até o dia 31 de janeiro do ano seguinte, de acordo com a 
Resolução ANP nº 47/2014. 

Em 2017, foram declarados 12,835 bilhões de barris de petróleo em reservas provadas (1P) e 23,630 bilhões de reservas provadas, prováveis e possíveis (3P). Trata-se de um aumento de 1% e 4%, respectivamente, se comparado com o ano de 2016. 

Com relação ao gás natural, foram declarados 369,918 bilhões de metros cúbicos de reservas 1P e 609,213 bilhões de m³ de reservas 3P. Os números representam uma redução de 2% e 5%, respectivamente, na comparação com 2016. 

Em geral, as mudanças ocorridas no volume das reservas de petróleo brasileiras são devidas à produção durante o ano, reservas adicionais oriundas de novos projetos de desenvolvimento e revisão das reservas dos campos por diferentes fatores técnicos e econômicos. 

As reservas provadas, prováveis e possíveis se diferenciam pelo grau de probabilidade de que ocorram, sendo as provadas com maior probabilidade e as possíveis, com menor. 

Em 2017, foram produzidos no Brasil aproximadamente 957 milhões de barris de petróleo e 40 bilhões de metros cúbicos de gás natural. 

O Boletim de Recursos e Reservas de Petróleo e Gás Natural 2017 está disponível na páginahttp://www.anp.gov.br/wwwanp/dados-estatisticos/reservas-nacionais-de-petroleo-e-gas-natural. 

Roubocracia e violência política, OESP


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Luiz Flávio Gomes, Professor de Direito do Ensino Superior
Publicado por Luiz Flávio Gomes
há 21 horas
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Foram os cruéis e medievais colonizadores (espanhóis, portugueses, franceses, holandeses) que implantaram a roubocracia na América Latina (roubocracia = governo ou poder regido pela roubalheira).
Para cá eles vieram para roubar, estuprar, escravizar, queimar, aniquilar, extorquir, corromper, esquartejar, expropriar, espoliar, se apropriar, se enriquecer, devastar e destruir.
Aqui a violência política (dos donos do poder) sempre foi uma realidade, porque irmã siamesa da roubocracia. A violência é empregada pelos donos corruptos do poder para manter as brutais desigualdades assim como para garantir a impunidade deles. Em algumas vezes a violência é o meio de execução da própria roubalheira.
Nunca o Brasil, consequentemente, foi uma verdadeira democracia (governo eleito pelo povo e para o povo). As eleições e até mesmo os eleitos sempre foram comprados pelos donos do poder. Os políticos corruptos sempre se venderam, ou melhor, se alugaram (cada causa tem um preço). A nossa é, por conseguinte, uma democracia venal (simulacro de democracia).
De outro lado, aqui não se governa para o povo (salvo raras exceções), sim, para os ladrões que dominam a nação. Ora de esquerda, ora de centro, ora de direita, mas ladrões.
O roubo e a violência política são exercidos pelos mesmos grupos dominantes. Os atuais donos corruptos do poder (de esquerda, de centro ou de direita) são continuação dos primeiros colonizadores. Mesma tradição medieval perversa, regida pela ganância extrativista e espoliadora.
Estão no poder para roubar, espoliar, sugar, parasitar, matar e eliminar quem se coloca como obstáculo aos seus desonestos propósitos.
Marielle criticava o poder bárbaro dos milicianos no Rio de Janeiro. Fachin, cuja família está sendo ameaçada, é o ministro relator da Lava Jato (que está investigando os poderosos corruptos de todas as ideologias).
Os donos corruptos e violentos do poder matam e ameaçam pessoas. A violência política, nesse caso, é empregada para a preservação do sistema corrupto (leia-se, da roubocracia), que só se detém quando uma força superior promove o império da lei. A Lava Jato não pode parar.
A nova direita radical (NDR), usando os mesmos métodos populistas autoritários do esquerdismo revolucionário (revolução bolivariana, cidadã ou comunitária – Venezuela, Equador e Bolívia), aqui quer implantar um modelo regressivo de sociedade totalmente incivilizada (leia-se, uma sociedade civil totalmente incivil, onde prevaleça a guerra de todos contra todos, como afirmava Hobbes).
Nem roubocracia (governos ou poderes regidos pela roubalheira) nem sociedades incivilizadas, reinadas pelo “estado de natureza” (ou seja, pela violência política bruta). As cabeças que pensam devem repudiá-las, porque destrutivas das nações.
No princípio do século XX a democracia liberal foi duramente atacada por duas formas violentas de negação da própria democracia: pelo comunismo e pelo fascismo. Ambos, desde fora (do exterior), a derrotaram por um longo período.
No Brasil a (sonhada) democracia liberal sempre foi aniquilada desde dentro, ou seja, por meio das eleições. Os donos corruptos e violentos do poder sempre manipularam e compraram muitos eleitores e, sobretudo, os eleitos, os parlamentares, os governantes. A nossa é (por natureza e tradição) uma democracia venal.
No século XXI os novos bombardeios contra a enferma democracia liberal vêm do populismo autoritário (de esquerda ou da nova direita radical), que está conduzindo vários países para um tipo de ditadura democrática (ditadura eleita pelo povo para destruir o próprio povo). Autoflagelação inconcebível.
Quem ainda tem dúvida sobre isso é só passar os olhos nas Filipinas, onde o ditador Rodrigo Duterte usa seu poder para matar dezenas de pessoas diariamente. E tudo isso com amplo apoio popular! Ele mesmo se encarrega de alguns assassinatos.
Bertold Brecht (1898-1956) dizia que “a cadela do fascismo [leia-se, hoje, do populismo autoritário] está sempre no cio, pronta para parir filhotes”.
No Brasil de 2018 o protagonismo da violência política (isto é, do ódio, da alterofagia, que é a destruição do outro) já é um filhote parido. A guerra já começou. Milicianos, policiais, forças paramilitares, militantes civis armados e odiosos e guerrilhas campais e na internet. É só ir computando os cadáveres, a partir de Marielle, por exemplo!
Publicado originalmente no Estadão: https://goo.gl/6tCSzx