segunda-feira, 2 de abril de 2018

O mecanismo da disputa, Opinião Folha

O mecanismo da disputa

É lamentável o grau de obscurantismo a que podem chegar as patrulhas ideológicas

Enrique Díaz e Selton Mello em cena de 'O Mecanismo' - Netflix/Divulgação
As críticas despertadas pela série de TV "O Mecanismo" —acusada, em especial por petistas, de adulterar a realidade histórica em sua reconstituição de situações ligadas à Operação Lava Jato— inscrevem-se no ambiente maniqueísta em que grupos antagônicos buscam estabelecer sua própria versão dos acontecimentos.
A obra suscitou as reações mais veementes ao transferir para um personagem identificado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma famosa frase que se sabe pronunciada, na realidade, pelo senador Romero Jucá (MDB-RR).
Trata-se daquela em que o político, em conversa telefônica gravada, defendia um acordo para "estancar a sangria", ou seja, impedir o avanço e as consequências das investigações policiais. Tal estratégia passaria pelo impeachment da petista Dilma Rousseff, consumado semanas depois.
Em meio aos ânimos exaltados pelo ano eleitoral e pelas tensões criadas em torno da possível prisão de Lula, a própria ex-presidente voltou à cena, desta vez na vida real, para criticar suposta tentativa da produtora da série, a Netflix, de interferir no curso do pleito.
Estamos diante —convém recordar o óbvio— de uma produção ficcional que, como tantas outras, não pretende retratar de modo fiel os fatos. Essa seria tarefa complexa mesmo para um documentário, dadas as múltiplas facetas e circunstâncias de um processo ainda em curso, do qual não se tem distanciamento histórico.
Pode-se considerar, a depender do ponto de vista, que o deslocamento da fala de Jucá foi infeliz ou questionável. As críticas são perfeitamente legítimas, e mesmo as campanhas pelo boicote ao programa fazem parte dos direitos de manifestação da esfera privada.
Controvérsias do tipo são comuns em sociedades democráticas, nas quais disputas por interpretações da realidade, mesmo no território refinado da historiografia, são permanentes e dinâmicas.
É lamentável, de todo modo, o grau de obscurantismo a que podem chegar as patrulhas ideológicas. À direita, como se viu em episódios recentes de ofensivas contra mostras que exploravam o tema da sexualidade; à esquerda, agora, com o abandono casuístico da defesa da liberdade artística que se fazia naquelas ocasiões.

Quadro Uso de agrotóxicos no Brasil

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Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia

Larissa Mies Bombardi

Laboratório de Geografia Agrária

FFLCH - USP, São Paulo, 2017.

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sábado, 31 de março de 2018

Promessa de Alckmin para Copa de 2014, trem para Cumbica chega a 75 dias da Copa da Rússia Usuário de trem terá de cruzar passarela e ainda pegar um ônibus até o terminal 24 31.mar.2018 às 2h00 Atualizado: 31.mar.2018 às 16h07 EDIÇÃO IMPRESSA Diminuir fonte Aumentar fonte Mariana Zylberkan SÃO PAULO Em março de 2002, o então governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) apresentou o traçado da linha de trem que ligaria o centro de São Paulo ao aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos. O tucano, que à época era pré-candidato à reeleição ao governo, prometia uma viagem com maior rapidez até o aeroporto a partir de 2004, como anunciava o texto publicado no site do estado. Estação Aeroporto-Guarulhos da CPTM Estação Aeroporto-Guarulhos da CPTM - Avener Prado - 29.mar.2018/Folhapress Aquela meta, porém, somente será cumprida na manhã deste sábado (31), com 14 anos de atraso, quando Alckmin inaugurar a estação Aeroporto-Guarulhos da linha 13-jade da CPTM, a companhia de trens do estado. A estação —que com os sucessivos atrasos também chegou a ser prometida para a Copa de 2014, no Brasil— será agora entregue a 75 dias da competição, na Rússia. Assim como em 2002, quando fez o primeiro anúncio, o tucano é pré-candidato, desta vez à Presidência da República —ele deixará o cargo na próxima semana. Com 12,2 km de extensão e três estações, a nova linha só deve iniciar a operação comercial, diariamente das 4h à meia-noite, a partir do fim de junho, quando se encerra a última etapa de testes. No período de adaptações, a tarifa não será cobrada. Relembre promessas tucanas em 14 anos de atraso de trem a Cumbica O nome da estação é Aeroporto, mas, na prática, não é exatamente isso. O passageiro, com suas malas em mãos, terá que atravessar uma passarela e ainda pegar um ônibus até os terminais nacionais e internacionais. Administrado pela concessionária GRU Airport, o sistema de ônibus foi previsto inicialmente como uma alternativa até que a concessionária entregasse um monotrilho que faria essa ligação entre a estação de trem e o setor de embarque do aeroporto. A mudança já seria significativa em relação ao projeto original do estado, que previa a construção da estação próxima ao check-in. O projeto, porém, foi revisto após a decisão da concessionária de construir um shopping no local planejado para a estação. A concessionária diz que a localização da estação foi decidida em acordo com o governo estadual. Em troca, ela se comprometeu a transportar gratuitamente os usuários do trem aos terminais. O plano era usar um monotrilho, a exemplo de outros grandes aeroportos, mas segundo avaliação da GRU Airport, a demanda de passageiros será suficientemente atendida com o sistema rodoviário —agoraconsolidado. O serviço circular de ônibus para quem desembarcar do trem ficará a cerca de 500 metros do terminal 1 e a 2,5 km do terminal 3 de Cumbica. A GRU Airport foi questionada pela Folha, mas não respondeu sobre a previsão de inauguração do shopping, previsto para o terminal 3. Em 2017, a chamada receita não tarifária do aeroporto, vinda da exploração de pontos comerciais dentro de Cumbica, e não das taxas pagas pelos passageiros e companhias aéreas, foi de R$ 920,7 milhões, metade dos R$ 2 bilhões movimentados pela concessionária, que tem capital aberto na bolsa de valores. Por enquanto, para chegar à estação Aeroporto, o usuário que estiver no centro de SP precisa seguir até as estações Brás ou Tatuapé, dali embarcar na linha 12-safira da CPTM até a estação Engenheiro Goulart, onde é possível a baldeação com a linha 13-jade. Em junho, porém, o governo promete uma linha expressa do Brás até a estação Aeroporto. 1 8 Obras da linha 13-jade da CPTM Minha Folha Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Obras da linha 13-jade da CPTM em julho de 2016 Zanone Fraissat - 12.jul.16/Folhapress Compartilhe LEIA MAIS VoltarFacebookWhatsappTwitterMessengerGooglePinterestLinkedinE-mailCopiar link Loading ATRASOS Questionado por meio da Secretaria dos Transportes Metropolitanos sobre os sucessivos atrasos, o governo do estado informou que só começou a receber os estudos da iniciativa privada no final de 2006, dois anos após a meta inicial para a entrega. A gestão Alckmin alega que o interesse privado se esvaiu após a divulgação pelo governo federal do trem-bala que ligaria o aeroporto ao sistema de transporte público de São Paulo, na mesma época, o que causou o primeiro atraso no cronograma. Já em 2007, sob a gestão José Serra (PSDB), o projeto foi retomado com promessa de entrega em 2010. Um ano antes do prazo, ganhou nova data: a Copa de 2014. Em 2011, de novo com Alckmin, o plano de um trem expresso passou por remodelagem. A ideia foi transformada na criação de nova linha da CPTM conectada a outra já existente na zona leste. Em 2013, as obras tiveram início com previsão de entrega em 2015. O prazo, porém, foi mais uma vez estendido, segundo o governo, por falta de repasses federais. Segundo o governo, o investimento de R$ 2,3 bilhões para a construção da linha 13-jade veio de financiamentos de fundos europeus, além de R$ 425 milhões do BNDES. COMO VAI FUNCIONAR O TRANSPORTE ATÉ CUMBICA Linha 13-jade Funcionamento: - 31.mar a 30.abr: aos sábados e domingos das 10h às 15h - 30.abr a 31.mai: todo dia das 10h às 15h - A partir de 1º.jul: todo dia das 4h à 0h Trajeto: estações Eng. Goulart, Guarulhos-Cecap e Aeroporto-Guarulhos Tempo de trajeto: 15 min Intervalo entre trens: 30 min Tarifa: R$ 4 (só será cobrada a partir de julho) Quem administra: CPTM Ônibus até os terminais Funcionamento: igual ao da linha 13-Jade Trajeto: terminais 1, 2 e 3 do aeroporto de Guarulhos Tempo de trajeto: - Até o terminal 1: 2 minutos - Até o terminal 2: 9 minutos - Até o terminal 3: 14 minutos Intervalo entre ônibus: 15 min Tarifa: grátis Quem administra: concessionária GRU Airport Trem expresso Connect Funcionamento: a partir de 1º.jul, nos horários de pico Trajeto: estações Brás e Aeroporto (sem paradas) Tempo de trajeto: 35 min Tarifa: R$ 4 Quem administra: CPTM Trem expresso Airport-Express Funcionamento: a partir de 1º.ago, em quatro horários por dia nos dois sentidos (ainda não definidos) Trajeto: estações Luz e Aeroporto (sem paradas) Tempo de trajeto: 35 min Tarifa: ainda não definida Quem administra: CPTM Primeira promessa de entrega: início de 2005, pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) COMPANHIAS AÉREAS EM CADA TERMINAL Terminal 1 Azul e Passaredo Portões de embarque: 101 a 109 Terminal 2 Aerolíneas Argentinas, Aeroméxico, Air Europa, Austral Líneas Aéreas, Avianca, Boliviana de Aviación, Copa Airlines, Cubana de Aviación, Delta Air Lines, Ethiopian Airlines, Gol, Latam (voos domésticos), Royal Air Maroc, Sky Airline, TAAG, Taca e Tame Portões de embarque: 201 a 246 Terminal 3 Air Canada, Air China, Air France, Alitalia, American Airlines, British Airways, Emirates, Etihad, Iberia, Korean Air, Latam (voos internacionais), Lufthansa, Qatar, Singapore, South African, Swiss, TAP, Turkish Airlines e United Airlines Portões de embarque: 301 a 326 Relembre promessas tucanas em 14 anos de atraso de trem a Cumbica Ligação por trilhos ao aeroporto havia sido anunciada para 2004 por Alckmin , FSP



Mariana Zylberkan
SÃO PAULO
​Em março de 2002, o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) apresentou o traçado da linha de trem que ligaria o centro de São Paulo ao aeroporto internacional de Cumbica, em Guarulhos. Ele prometia uma viagem com maior rapidez a partir de 2004.
Aquela meta, porém, somente será cumprida na manhã deste sábado (31), com 14 anos de atraso, quando o tucano inaugurar a estação Aeroporto-Guarulhos da linha 13-jade da CPTM, a companhia de trens do estado.
Veja abaixo o que Alckmin e José Serra (PSDB), que também pegou parte das obras quando foi governador, já disseram sobre a ligação da capital com o aeroporto de Guarulhos nesses 14 anos.
Governador Geraldo Alckmin discursa em frente a painel sobre o projeto Aeroporto
Governador Geraldo Alckmin (PSDB) anuncia convênio com a Infraero para a construção da linha da CPTM que ligaria o centro ao aeroporto de Guarulhos, em março de 2002 - Divulgação - 14.mar.2002/Ascom


Frases de Geraldo Alckmin, governador de SP de 2001 a 2006 e de 2011 a abr.2018
14.mar.2002
“Estamos iniciando hoje um bom programa, necessário ao desenvolvimento do estado e do país.”
governador de SP, em 2002, quando lançou promessa da obra para 2014 
6.dez.2012
“Evidente que gostaríamos que a estação fosse no terminal 2, mas foi garantido um transporte seguro e gratuito pela [empresa] Invepar para transporte entre os terminais do aeroporto."
21.jun.2013
"Seremos o primeiro estado do Brasil a conectar seus principais aeroportos —Congonhas e Guarulhos— aos sistemas de metrô e trem. Quatro linhas de metrô já estão em construção e outras duas já estão a caminho."
23.set.2013
“Finalmente, o trem para Guarulhos, que será uma nova linha. Com isso, nós completaremos 12 linhas, cinco de metrô e sete de CPTM. [...] A linha 13 entrará em operação em 2015 e vai beneficiar cerca de 120 mil usuários por dia, inicialmente.”
20.dez.2013 
“São três novas estações: Engenheiro Goulart, onde nós estamos aqui em São Paulo, na zona leste; a estação Cecap, uma nova estação já em Guarulhos, integrada com o terminal rodoviário; e a estação Aeroporto, lá em Cumbica. Já começam quatro frentes, quatro consórcios trabalhando simultaneamente, três estações novas, o atendimento a Guarulhos e ao Aeroporto Internacional de Cumbica, com prazo de 18 meses.”
20.mai.2014
“Estamos trazendo a linha 13 da CPTM para o aeroporto.”
4.nov.2014
“Na realidade nós tínhamos trabalhado sempre com 18 meses essa obra, após as licenças concluídas. Nós tivemos várias interferências, como: com o embargo da USP Leste, tivemos interferências de travessias junto à [rodovia] Ayrton Senna e à rodovia Presidente Dutra."
governador de SP, em 2014, durante anúncio de novo prazo, desta vez 2016 
31.ago.2015 
“Infelizmente o dinheiro não veio ainda. Mas estamos atrás de alternativas porque nós precisamos licitar esses serviços e executá-los. Estamos atrás de uma solução rápida para que ainda neste ano publiquemos as licitações. Isso para que, no início do próximo ano, não só as obras civis, mas todos os serviços possam estar em andamento.”
2.fev.2018
“Estamos trabalhando para entregar, agora em março, uma nova linha de trem, chegando até o aeroporto de Guarulhos, o maior da América Latina.”

Frases de José Serra, governador de SP de 2007 a 2010 
3.nov.2008
​“Nós deveremos soltar no próximo mês a licitação do Expresso Aeroporto, que incluirá o projeto executivo e as obras. Ao mesmo tempo, temos o plano de fazer o metrô leve, um veículo leve de transportes, da estação São Judas do metrô até Congonhas.”
José serra (PSDB) governador de SP, em 2008, em declaração em novembro daquele ano
3.jun.2009
“O Governo do Estado está fazendo sua parte. Toda a estrutura viária da região metropolitana e capital já está em andamento. Nós temos até 2014 previstos cerca de R$ 33 bilhões de investimentos, inclusive na linha 4-amarela do Metrô, que vai passar a 1.200 metros do estádio do Morumbi. Temos também o Rodoanel e a expansão de todo o sistema metroviário e de trens urbanos da CPTM em toda a Grande São Paulo, com acesso para todos os lados, inclusive para os aeroportos."