terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Netflix é apenas mais um canal, diz seu CEO


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017 , 20h14
O Netflix está presente em 50% das residências nos EUA e, no entanto, a base de assinantes de TV a cabo naquele país permanece estável. Na opinião do fundador do Netflix, Reed Hastings, as operadoras norte-americanas de TV por assinatura estão agora se dando conta de que o serviço de streaming não gera um impacto negativo sobre seus negócios. "Somos mais uma fonte de entretenimento, como HBO. Somos mais um canal", afirmou durante a sua participação no Mobile World Congress, em Barcelona, nesta segunda-feira, 27.
Ele tampouco demonstra preocupação com a chegada de outros players de streaming de vídeo, como Amazon Prime e YouTube Red. "Eles não querem nos matar, querem apenas servir o consumidor", comentou. E previu: "Em dez anos o consumo de vídeo será todo na Internet e o Netflix responderá por uma parcela pequena disso."
A pirataria também não é um problema. Hastings acredita que o preço baixo da assinatura do Netflix desestimula os piratas.
Redes móveis
Sobre a qualidade das redes móveis, que por vezes representa uma barreira para o serviço de streaming, Hastings respondeu que o caminho é aperfeiçoar cada vez mais os codecs do Netflix para permitir a transmissão dos vídeos em velocidades baixas. Hoje, já é possível assistir ao Netflix com velocidade a partir de 500 Kbps. E seu sonho é conseguir baixar para 200 Kbps.
Formatos
Embora não descarte produções de vídeo na vertical no futuro, Hastings frisou que o foco da empresa está em contar boas histórias, independentemente do formato. E, se aparecerem novas tecnologias, o Netflix vai aprender com elas e se adaptar, seja realidade virtual ou lentes de contato como as imaginadas na série Black Mirror.
Por fim, Hastings foi questionado sobre o futuro da inteligência artificial. Nessa parte, brincou: "Daqui a 20 anos teremos inteligência artificial muito desenvolvida. Será que a inteligência artificial servirá para nos entreter ou nós é que vamos entreter a inteligência artificial?"
Parcerias
A Netflix tem buscado mostrar aos operadores de telecomunicações que pode ser uma parceira importante na oferta de conteúdos diferenciados e de qualidade, e nesse sentido se coloca muito mais como mais um canal de produções exclusivas do que como uma rede de distribuição de conteúdos pela Internet. A presença de Reed Hasting no Mobile World Congress em Barcelona se deu nesse sentido.

Empresa laranja recebeu da Fundação Butantã fortuna 26 mil vezes maior que seu capital social, OESP


Instituto Butantan. Foto: Rafael Arbex/Estadão
Instituto Butantan. Foto: Rafael Arbex/Estadão
O Ministério Público de São Paulo descobriu na investigação sobre rombo milionário na Fundação Butantã que a conta bancária de uma microempresa de eletrônicos que funcionou na Vila Nova Cachoeirinha foi usada para receber uma fortuna 26.600 vezes superior a seu capital social, de R$ 10 mil. Ao todo, foram depositados na conta da Sunstec Comércio de Eletrônicos-ME R$ 2,68 milhões entre 2005 e 2008.
O valor representa apenas uma parte da pilhagem de R$ 33,48 milhões contra os cofres da Fundação naquele período, por meio de uma incrível série de 340 furtos, segundo denúncia do Ministério Público que pede a condenação de onze investigados, o principal deles Adalberto da Silva Bezerra, então gerente administrativo da Fundação Butantã.
Em valores atualizados, calcula o promotor de Justiça Nathan Glina, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o rombo chega a R$ 55 milhões.
A investigação revela que a Sunstec teria sido usada como laranja para captação de recursos desviados. Os investigadores foram ao endereço declarado pela empresa, na Avenida Parada Pinto, Vila Nova Cachoeirinha, zona Norte da Capital, mas não encontraram nenhum vestígio da comércio de eletrônicos.
“No local encontrava-se um prédio comercial, no qual estão em funcionamento um escritório de advocacia, um escritório de contabilidade, uma vídeo locadora, uma loja de aparelhos de segurança e uma loja e fábrica de artigos em couro, cujo proprietário é filho do dono do referido prédio”, diz relatório anexado à denúncia da Promotoria.
“Informações colhidas no local revelaram que a empresa Sunstec ficou instalada por mais ou menos seis meses, e há mais de um ano não se encontra mais no local, e que um dos sócios era do ramo de consertos de aparelhos eletrônicos”, segue o documento. “Foi possível constatar, segundo informações do proprietário do prédio, que a Sunstec teria sido desfeita por desentendimento entre os sócios e dívidas.”
A conta da Sunstec, segundo o Ministério Público, foi aberta ‘de forma fraudulenta’ pelo então gerente administrativo da Fundação Butantã.
Desfrutando da confiança irrestrita dos superiores, Adalberto tinha acesso à senha da conta da Fundação. O Ministério Público sustenta que ele enriqueceu, formando um patrimônio de sete imóveis e doze veículos, entre eles uma motocicleta que custou R$ 107 mil à vista.
O promotor de Justiça Nathan Glina e seus colegas do Gaeco, Richard Gantus Encinas e Manoella Guz, descobriram que a Sunstec Eletrônicos ME ‘nunca prestou qualquer serviço para a Fundação Butantan que justificasse o recebimento das dezenas de milhões de reais a ela pagos por meio de transações bancárias favorecendo a conta aberta por Adalberto de forma fraudulenta’.
Com a quebra do sigilo bancário das contas de Adalberto e dos outros envolvidos na trama e da Sunstec, os promotores constataram que o dinheiro desviado era transferido para as contas pessoais do grupo.
A Promotoria apurou que de 2007 a até abril de 2008, em termos de verbas públicas federais, a Fundação Butantan recebeu R$ 329,96 milhões, ‘o que comprova que os furtos, na prática, se deram em prejuízo de verbas decorrentes de convênios que recebem dinheiro público na área da saúde para o desenvolvimento dos serviços do Instituto Butantan referentes a vacinas e medicamentos que deveriam ser fornecidos para serviços públicos relevantes, bem como o próprio funcionamento e higidez orçamentário-patrimonial daquela instituição’.
Interrogado na Polícia, Adalberto disse que ‘já ouviu falar’ da Sunstec Comércio de Eletrônicos Ltda, ‘não sabendo o nome dos sócios dela’.
Ele afirmou que fez depósitos em favor da micro, ‘após receber ordens superiores’. No entanto, não revelou a identidade de quem lhe teria ordenado a fazer tais aportes na conta da Sunstec.
“Adalberto fracionou depósitos em sua conta bancária de janeiro a agosto de 2007, que em sua totalidade representavam movimentação de recursos de R$ 822.280,75, incompatíveis com o patrimônio, a atividade financeira ou a ocupação profissional e a capacidade financeira presumida”, assinalam os promotores. A renda mensal declarada do ex-gerente administrativo era de R$ 14.628,27.
Ainda segundo a acusação, ele recebeu créditos da Sunstec, de julho a setembro de 2007 – seis recebimentos no montante total de R$ 370 mil. Também foi sacador em três movimentações atípicas da Fundação Butantã, uma no montante de R$ 130 mil, em 17 de agosto de 2004, outra de R$ 200 mil, em 6 de dezembro de 2004, e a terceira de R$ 225.720,00, em 20 de janeiro de 2005.
Entre setembro de 2007 e agosto de 2008 Adalberto recebeu da Sunstec Eletrônicos o montante de R$ 641 mil, que acrescidos de outros créditos somaram R$ 1,134 milhão.
O rastreamento da fortuna que Adalberto movimentou foi realizado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Em diligência realizada na Fundação Butantã, o Ministério Público verificou ‘não haver ali qualquer menção à empresa Sunstec Comércio de Eletrônicos Ltda- ME, a qual apesar de ter recebido, segundo informações do
Coaf referentes ao período informado, cerca de R$ 2.688.000,00 da Fundação Butantan, não constava nem mesmo dos lançamentos do livro-caixa da entidade’.
A investigação mostra que outros alvos da investigação do Ministério Público também foram destinatários de valores que passaram pela conta da Sunstec.
“Após a realização da quebra do sigilo bancário das contas dos denunciados e da Sunstec, este Grupo de Atuação Especial do Ministério Público conseguiu apurar que as subtrações praticadas contra a Fundação Butantan com abuso de confiança, concurso de agentes e fraude, por meio de transferências e depósitos bancários inicialmente para a conta aberta fraudulentamente em nome da empresa, eram em sequência transferidos para os denunciados que concorriam para a prática dos delitos disponibilizando suas contas, recebendo os valores subtraídos”, diz a denúncia.
A reportagem não localizou nenhum representante da Sunstec Eletrônicos. Na Receita Federal consta que a inscrição da empresa está inativa.
COM A PALAVRA, A SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
“A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo esclarece que o Instituto Butantan ajudou nas investigações do Ministério Público. À época, tanto a Presidência quanto a Superintendência da Fundação Butantan foram afastadas e substituídas. A nova gestão do Instituto e a própria Secretaria continuarão auxiliando nas investigações, tanto de problemas ocorridos no passado quanto dos de agora, em que uma auditoria encomendada pelo governo do Estado encontrou uma série de irregularidades de gestão na fundação e no instituto, ocorridas entre 2011 e 2015, na gestão de Jorge Kalil, e em que o Tribunal de Contas do Estado apontou o sumiço de R$ 8 milhões do Butantan em bens materiais.”

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TCU avalia veto a empresas investigadas na Lava Jato, OESP




Apesar de acordos de leniência do MPF, tribunal de contas pode decretar inidôneas construtoras suspeitas de conluio e impedir novos contratos com o governo


Fábio Fabrini ,
O Estado de S.Paulo
28 Fevereiro 2017 | 05h00
BRASÍLIA - Apesar dos acordos de leniência já firmados entre Ministério Público Federal (MPF) e parte das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) avaliam decretar a inidoneidade das principais construtoras investigadas na força-tarefa. Com isso, as empresas ficariam proibidas de fechar contratos com a administração pública federal. 
De acordo com integrantes da corte ouvidos pelo Estado, processos que estão em fase adiantada de tramitação confirmam a ocorrência de conluio entre empreiteiras e de fraude em licitações na Petrobrás e na Eletronuclear, o que ensejaria a aplicação da sanção.

Foto: André Dusek|Estadão
TCU
Fachada do Tribunal de Contas da União (TCU), em Brasília
O TCU, além do próprio governo, é um dos órgãos públicos com a prerrogativa de declarar inidôneas pessoas jurídicas envolvidas em atos ilícitos. A Lei Orgânica do tribunal prevê que, nesses casos, aplica-se a proibição de participar de concorrências públicas e, em consequência, assinar contratos por até cinco anos.
Parte dos ministros sustenta que a corte deve levar a julgamento os processos em curso, independentemente de negociações entre empresas e o Executivo, que se arrastam há mais de dois anos, sem desfecho. Em vários casos, os delatores ligados a essas empresas já confessaram as fraudes em outras esferas de investigação.
A Lava Jato completa três anos em março. As principais empreiteiras do País foram implicadas na investigação. O governo ainda não puniu nenhuma das grandes empresas do setor nem recuperou recursos desviados, por meio de acordos de leniência – espécies de delações premiadas de pessoas jurídicas. O MPF também vem fechando acordos com as empreiteiras, como foi o caso, por exemplo, da Camargo Corrêa e da Odebrecht.
Resultados. O Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU) abriu processos de responsabilização contra 29 pessoas jurídicas. Em cinco casos – nenhum com as maiores construtoras –, houve declaração de inidoneidade. Em outras três situações, os processos foram arquivados por falta de provas. Permanecem em curso 21 procedimentos – em 12 deles, são discutidos acordos de leniência.
A demora na tramitação permite que as empreiteiras fechem negócios com o governo e não cubram os prejuízos causados aos cofres públicos. Além disso, os prazos de prescrição continuam correndo.
Suspeitas. Um dos processos em que, segundo ministros do TCU, cabe decretar inidoneidade trata da participação de 16 empreiteiras em combinação de preços, quebra de sigilo de propostas, divisão de mercado, acerto prévio de resultados e consequente direcionamento de licitações em obras da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Nesse grupo, estão empresas como Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão.
O TCU constatou fraudes com base em material compartilhado com autorização da Justiça Federal em Curitiba e, em junho do ano passado, determinou que todas as empresas fossem ouvidas, o que já ocorreu. Os auditores trabalham agora no relatório a ser enviado ao relator, ministro Benjamin Zymler. Ele não se pronuncia sobre o mérito do processo, sob sigilo, mas informou que o assunto é tratado como prioridade.
Em outro caso, também em fase avançada de tramitação, o TCU identificou o envolvimento de sete empresas em conluio e fraudes à licitação de R$ 2,9 bilhões para a montagem eletromecânica da Usina de Angra 3, entre elas Odebrecht, UTC, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. O processo está sob relatoria do ministro Bruno Dantas, que também não se manifestou.
Questionamento. O Estado enviou questionamentos ao Ministério da Transparência sobre a condução dos processos relacionados às empreiteiras implicadas na Lava Jato. A pasta informou que não iria respondê-los e acrescentou apenas que quatro acordos de leniência estão em estágio avançado. 
Divergências do governo com outros órgãos, entre eles o TCU e o MPF, sobre a forma de celebrar os acordos suscitam embates desde 2015, o que impacta a tramitação dos acordos. Outra razão é a instabilidade provocada pelas mudanças na legislação que trata do assunto, como a implementada pela ex-presidente Dilma Rousseff por meio da Medida Provisória 703. Essa norma alterou vários itens da Lei Anticorrupção. Vigorou de dezembro de 2015 a junho do ano passado, mas caducou.

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