domingo, 11 de setembro de 2016

O ajuste moral - RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA

Os políticos brasileiros têm uma dívida moral gigantesca com o país. Precisam começar a saldá-la



A palavra de ordem no Brasil de hoje, mais que ajuste fiscal, é “ajuste moral”. Por isso o novo slogan nas redes sociais é #ForaLadrao, apartidário e impessoal. Ele abarca a todos. Não só aos ladrões de bilhões de reais ou dólares, mas aos vândalos de sonhos, ideais e convicções. Ladrões da inclusão social, das estatais, dos direitos a um voto limpo, ladrões da paz, da educação e da saúde. Os presidentes – a destituída e o entronado –, os governadores, os prefeitos, os senadores, os deputados, os vereadores, todos têm uma dívida moral gigantesca com o país. Algumas medidas são urgentes para começar a saldar essa dívida.

A cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. É uma ironia que possa ser cassado apenas por “quebra de decoro”, mas é assim que a banda toca. Acusado de mentir à CPI da Petrobras ao negar conta na Suíça em seu nome, Cunha esperneia há dez longos meses. Precisa ser punido exemplarmente, em nome da moralidade. Que Cunha não seja apenas suspenso, como quer. O Brasil deseja que ele perca seu mandato e se torne inelegível.

O veto ao aumento indecente para o Judiciário num momento de crise econômica profunda, em que a comida desaparece da mesa do povo e o emprego some do cotidiano. A nova presidente do STF, a mineira Cármen Lúcia, que assume na segunda-feira, é uma esperança de austeridade, com sua dedicação quase monástica à vida pública. “Não gosto muito de festas. Eu gosto é de processo”, disse a ministra do Supremo, que já se expressou contra altos gastos no Poder Judiciário.

O cerco implacável às doações ilegais nas próximas eleições municipais. Continua a festa das fraudes e dos laranjas, mas o Tribunal de Contas da União e o Tribunal Superior Eleitoral estão de olho. O TSE identificou mais de 21 mil pobres que transferiram ao todo R$ 168 milhões a campanhas municipais. O TCU detectou irregularidades em mais de um terço de 114 mil doações a candidatos a prefeito e vereador. Até morto aparece como doador. Beneficiário de Bolsa Família também. Chega de propina.

O desmascaramento dos desvios bilionários de quatro dos principais fundos de pensão do país, que atingem 1,3 milhão de trabalhadores. Rombo de mais de R$ 50 bilhões, provocado por investimentos fraudulentos, superfaturamento de contratos. Envolvendo energia, petróleo e infraestrutura. Maiores lesados são funcionários da ativa e aposentados das estatais. A operação foi batizada pela Polícia Federal com base numa modalidade de investimento. Nome chique: Greenfield. E nem Dilma Rousseff nem Michel Temer sabiam de nada. Que se abram agora as caixas-pretas do BNDES. #ForaLadrao.

A redução do patético número de partidos políticos. São 35 – e deles, 27 com representação na Câmara. Muito mais que um fatiamento de siglas, é um esquartejamento do sistema partidário, que dificulta a formação de uma consciência política. Não há coerência a princípios ou a programas. Essa pulverização desmobiliza o eleitor. Cada vez menos se vota por partido no Brasil. O PT destruiu a força da sigla com sua avalanche de erros éticos e de gestão. Os políticos trocam de filiação partidária como quem troca a gravata ou o corte de cabelo. As maiores manifestações de rua, a favor ou contra, nada têm a ver com um partido específico. Acordem para sua falta de sintonia e seu isolamento. E #ForaLadrao.

O despertar para o maior desafio e única esperança das futuras gerações: a educação universal e de qualidade, em horário integral.O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) mostrou que, em dez anos, a nota do ensino médio avançou em 0,3 ponto. Ou seja, próximo de nada. O Brasil continua a avançar nos primeiros anos do ensino fundamental. Mas o que proporcionamos a nossos adolescentes? Por ano, 700 mil alunos abandonam o ensino médio. Estamos condenando mentes jovens à mediocridade ou a coisa pior.

Um choque na gestão de Saúde e no calamitoso índice de saneamento básico
. Basta de ver famílias sofrendo em filas de hospitais, morrendo por falta de remédio, de médico ou de internação. Saneamento é um tema que não rende leitura. Fede demais. Mas é preciso se indignar: metade da população brasileira ainda não tem esgoto coletado em suas casas. Nesse item que compromete a qualidade de vida e a saúde, o Brasil está em 11o lugar na América Latina. Medalha de incompetência e negligência.

Em um mês que tanto se falou de superação e inclusão pelo esporte, em que nos emocionamos com tantos atletas que transformaram adversidades financeiras e físicas em histórias de sucesso, ouro, prata e bronze, os políticos brasileiros precisam compreender que merecem todas as vaias do mundo. Até prova em contrário, são culpados.

Black blocs e desonestidade intelectual - JOSÉ PADILHA


O GLOBO - 11/09

O respeito à racionalidade e à honestidade é valor mais importante para uma sociedade do que qualquer ideologia



‘O que você realmente deve buscar, em um mundo que sempre nos confronta com surpresas desagradáveis, é a integridade intelectual: a predisposição de encarar os fatos, mesmo quando eles estão em desacordo com as suas ideias, e a capacidade de admitir erros e de mudar de rumo.” Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia.

Recentemente, escrevi um artigo no GLOBO, intitulado “Lula e Trump”, em que comparei a esquerda brasileira com os conservadores americanos, e afirmei que esses grupos, tão díspares ideologicamente, têm algo em comum: ambos perderam a integridade intelectual. A esquerda brasileira, disse eu, porque se recusa a aceitar as incontestáveis evidências de que Lula e o PT operaram uma quadrilha que desviou bilhões de dólares dos cofres públicos (e de que Dilma sabia). E os conservadores americanos, acrescentei, porque se recusam a aceitar o fracasso da “economia de oferta” e porque encamparam as loucuras de Donald Trump. Argumentei que, para defender essas posições, ambos os grupos foram forçados a construir narrativas fantasiosas da história e a usar uma série de estratagemas “intelectuais” que têm como objetivo varrer para baixo do tapete fatos que refutam as suas ideias. No tal artigo, disse que fazer isso é ser intelectualmente desonesto.

Não se trata, evidentemente, de terminologia nova. Debates acerca da honestidade e da desonestidade intelectual, e o que as caracteriza, são recorrentes na epistemologia e na filosofia da ciência. Estão presentes no trabalho de filósofos como Bertrand Russell, Imre Lakatos, Karl Popper e Paul Feyerabend, além de inúmeros filósofos e cientistas contemporâneos, como Daniel Dennett e David Deutsch. E, no entanto, até mesmo pessoas que conhecem esses autores ficaram chateadas comigo, como se tivessem lido essas duas palavras juntas pela primeira vez na vida. Por que será que o uso do termo “intelectualmente desonesto” ofende tanta gente na esquerda brasileira?

O motivo me parece óbvio. Tem muita gente na esquerda brasileira que preza a honestidade intelectual e que sabe que teve que abrir mão dela para defender Lula, Dilma e o PT. Essas pessoas raciocinaram assim: a direita brasileira é pior do que a esquerda, e os políticos que julgaram Dilma são tão ou mais corruptos do que ela. Melhor ficar com a quadrilha do PT do que com a quadrilha do PSDB. Partindo dessa premissa, colocaram-se em uma posição muito difícil, porque se viram forçadas a adotar uma de duas estratégias: ou assumiam a defesa de políticos que sabiam ser corruptos por razões ideológicas que supostamente se sobrepõem à ética, ou fingiam que esses políticos não eram corruptos e abriam mão da própria honestidade intelectual.

Entendo, portanto, que essas pessoas tenham ficado chateadas comigo quando abordei seu dilema de forma explícita. O que não entendo, todavia, é como não percebem o tamanho do erro que estão cometendo. Como disse Imre Lakatos em uma aula que proferiu na London School of Economics, o problema da honestidade intelectual não é uma questão abstrata de filosofia, é uma questão de vida ou morte.

Os debates acerca da honestidade intelectual se centram em duas questões: a primeira diz respeito ao que caracteriza a honestidade intelectual, e a segunda diz respeito a sua função social e evolutiva. Essas duas questões são complexas, de forma que serei superficial e sucinto.

No que tange à primeira questão: quase todas as caracterizações de honestidade intelectual em filosofia analítica afirmam, de uma forma ou de outra, que uma pessoa é intelectualmente honesta quando ela está disposta a abandonar as suas ideias caso fique demonstrado que:

1) Elas são internamente inconsistentes (logicamente contraditórias).

2) Elas são incompatíveis com enunciados que reportam fatos (estão em contradição lógica com os enunciados de base).

Um rápido exame desse critério revela que se trata de um critério negativo. Segundo ele, a honestidade intelectual não requer que alguém adote ideias, requer apenas que alguém esteja disposto a abandonar as suas ideias em certas circunstâncias.

E por que a adoção de um critério desse tipo é uma questão de vida e morte?

Em primeiro lugar, evidentemente, porque contrariar fatos pode ser fatal. Pense em todas as pessoas que morreram de câncer no pulmão porque se recusaram a abandonar a crença, propagada pela indústria do tabaco, de que cigarro não faz mal à saúde. Mas há um outro motivo, igualmente sério: quando pessoas que defendem ideias incompatíveis não dispõem de algum critério lógico que lhes permita decidir quem tem razão, e nenhuma delas está disposta a dar o braço a torcer, as disputas entre elas podem se tornar violentas. Por isso, uma sociedade habitada por pessoas intelectualmente desonestas tende a ser uma sociedade cheia de conflitos.

O respeito à racionalidade e à honestidade intelectual é valor muito mais importante e fundamental para uma sociedade do que qualquer ideologia. O erro fundamental de parte da esquerda brasileira, um erro que talvez fira de morte as ideias socialistas no país, é não entender isso. E a direita, diga-se de passagem, está indo pelo mesmo caminho. No caso, não em nome da ideologia, mas em nome da economia. É evidente que Temer não poderia ocupar as posições que ocupou sem saber e sem participar do petrolão. Temer foi eleito na mesma chapa da Dilma duas vezes... Defender Temer também é ser desonesto intelectualmente.

Não sei, não, amigos. Se o Brasil continuar descendo a ladeira da irracionalidade, vamos ter, cada vez mais, “black blocs” enlouquecidos vagando pelas ruas de São Paulo.

Construção em aço pode ser caminho para fugir de conta de energia alta, Procel

09.09.16
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Fonte: NBN Brasil - 06.09.2016
Distrito Federal - O consumo consciente de energia elétrica virou regra para consumidores evitarem excessos na conta de energia. A situação levou o setor de materiais de construção a valorizar um dos produtos que mais geram e economizam energia: o aço.

De acordo com o Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA), a alta resistência deste material permite telhados e fachadas leves e transparentes, além de estruturas com vãos mais amplos, que favorecem a iluminação natural e, consequentemente, a economia de energia elétrica. “São projetos inteligentes que deixam o ambiente naturalmente mais claro, sem a necessidade de luz artificial durante o dia”, confirma Roil Pinheiro, diretor comercial da Pinheiro Ferragens.

Segundo Roil, os prédios construídos em aço são energeticamente eficientes e exigem pouca manutenção. Os painéis de aço córten, por exemplo, funcionam como protetores solares dependendo do projeto arquitetônico, permitindo entrada de ar e passagem de luz. “A ventilação é muito importante, pois evita o uso excessivo do ar condicionado”, reforça o diretor comercial da Pinheiro Ferragens. Vale ressaltar ainda que o ar condicionado representa 2 a 5% do valor da conta de energia.

O custo é viável e chega até a ser mais barato que o convencional. No canteiro de obras, o aço não demanda o uso exagerado de água ou energia, proporcionando uma economia em valores e atendendo a política atual do meio ambiente.

Quatro curiosidades do aço como importante fonte de eficiência energética:

1. A produção do aço está entre as que mais investem em geração própria de energia hidroelétrica;

2. O aço facilita a implementação de soluções de isolamento interno, que são altamente benéficas em relação ao consumo de energia;

3. Seu baixo peso permite a construção de edificações com inércia térmica muito baixa – solução particularmente vantajosa para edificações ocupadas durante o dia como escritórios, onde o calor é, em parte, produzido pelos próprios ocupantes, computadores e pela iluminação;

4. Em residências, o ambiente pode ser climatizado em poucos minutos, visto que os elementos construtivos não absorvem nem transmitem energia.