segunda-feira, 15 de junho de 2015

Biomassa supera 12 GW de potência e se aproxima do gás como segunda fonte de energia

Referência na produção de energia limpa e renovável, a biomassa totalizou em abril 12.417 MW de potência instalada, representando a terceira fonte mais importante da matriz elétrica e superior à capacidade que terá a Usina de Belo Monte, atrás apenas da hidroeletricidade (66,1%) e do Gás Natural (9,5%). Nesse conjunto, a biomassa sucroenergética, proveniente da cana de açúcar, é o principal destaque, tendo atingido o recorde de 10 mil MW de capacidade instalada. Considerando todas as usinas a biomassa no Sistema Elétrico Brasileiro (SEB), que incluem a utilização de outros combustíveis além do bagaço de cana, a participação da biomassa na matriz de capacidade instalada brasileira em abril foi de 9,1%.
Em relação à produção de energia elétrica por fontes térmicas a biomassa, em março de 2015, foi registrada participação de 1,1% do total gerado no País, equivalente a 543 GWh, energia suficiente para abastecer, por exemplo, o Distrito Federal durante esse mesmo mês.
Há grande sazonalidade na produção de energia elétrica por essa fonte, em virtude da disponibilidade dos combustíveis utilizados. Nos últimos doze meses, os maiores montantes de geração de energia a partir da biomassa foram registrados entre maio e dezembro de 2014, com maior geração no mês de agosto, equivalente a 2.765 GWh, equivalente a 6,2% do total de energia produzido no País naquele mês.
Em dez anos, a capacidade instalada em usinas térmicas a biomassa no Brasil teve acréscimo de 8.362 MW, se compararmos o resultado atual com o registrado em abril de 2005. A previsão é que até 2018 entrem em operação mais 1.750 MW dessa fonte, que já estão contratados. Outros 2.400 MW estão previstos para entrar em operação até 2023.

Biocombustível no país

A produção de etanol cresceu 4% em 2014 e atingiu 28,6 bilhões de litros, ultrapassando o recorde histórico de 27,9 bilhões de litros alcançado em 2010, segundo estudo divulgado nesta quinta-feira (28), pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Essa foi a terceira alta consecutiva na produção do biocombustível no país. Segundo a EPE, a expansão foi ocasionada pelo baixo preço internacional do açúcar, que direcionou a maior parte da produção de cana para a fabricação do biocombustível; a liberação de recursos públicos para o setor sucroenergético; além das expectativas de aumento do percentual de etanol anidro na gasolina C (de 25% para 27%, a partir de março de 2015) e do retorno da tributação sobre a gasolina.
Em relação ao biodiesel, o estudo da EPE indica aumento de 16,7% no consumo em 2014 em comparação ao ano anterior, somando 3,4 bilhões de litros. Desde 2005, quando foi implantado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), até dezembro de 2014, foram produzidos e consumidos no país 17 bilhões de litros de biodiesel. Com esse resultado, o Brasil passou a ocupar a segunda classificação no ranking mundial de produção e consumo de biodiesel, atrás apenas dos Estados Unidos. Entre as regiões brasileiras, o Centro-Oeste e o Sul concentraram 83% do biodiesel produzido e consumido no país, no ano passado.

Seres erráticos (oportunidades perdidas)


Publicado por Luiz Flávio Gomes - 10 horas atrás
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É da condição humana ser errático.[1] Nos últimos dias, Lula é a bola da vez. Seu instituto teria recebido milhões de uma das suspeitas empreiteiras que, na nossa cleptocracia (Estado governado por ladrões), costumam (antidemocraticamente, antirrepublicanamente) “doar” dinheiro para todos os institutos e partidos que possam satisfazer seus inconfessáveis interesses. Mas no mundo errático que sempre vivemos, somente o líder petista neste instante seria o torto ou todos nós também o seríamos? Errático é, antes de tudo, quem faz mau uso da liberdade. É errático quem usa a liberdade de eleição para eleger seu senhor de engenho (seu carrasco, seu algoz ou um inimigo dos interesses gerais). Essa liberdade de eleição, típica das democracias eleitorais (como a nossa), não eliminam os amos (os novos senhores de engenho de todas as cores ideológicas) nem acaba com a escravidão ou servidão (Marcuse). Oportunidades perdidas.
Nós somos, na essência, seres abertos, mas frequentemente vivemos em “jaulas de ferro” (Weber), que nós mesmos inventamos. Temos em muitas ocasiões chance de nos projetar, de crescer, de nos educar, mas preferimos nos submeter servilmente. Com graça, o filósofo renascentista italiano Pico de la Mirándola (1463-1494), rebelde considerado herege pela Igreja Católica (antes da sua conversão), narrou o seguinte:
“Concluída sua obra (de construção do universo), o grande Artífice queria alguém que admirasse a beleza da sua criação (…) inventou o humano e deu-lhe uma forma indeterminada. Disse a Adão: ‘Não dei a você nenhum posto fixo, nem uma imagem peculiar, nem um emprego determinado. Às demais criaturas prescrevi uma natureza regida por certas leis. Você marcará sua natureza segundo a liberdade que entreguei a você, pois não está submetido a nenhum regra fixa da natureza; não fiz você nem celeste nem terrestre, nem mortal nem imortal. Você mesmo haverá de forjar a forma que prefira para você, pois é o árbitro da sua honra, seu modelador, seus desenhista. Com suas decisões você pode se rebaixar até igualar-se com os brutos ou pode levantar até as coisas divinas.” [2]
Seres errticos oportunidades perdidas
Os que possuem chance de crescer (pessoal ou coletivamente), de se elevar (moral e eticamente, por exemplo), mas não o fazem, são seres (ou países) profundamente erráticos, que se fecham quando deveriam ser abertos, que se aniquilam quando poderiam se emancipar, que paralisam suas vocações quando poderiam se modelar exemplarmente. Quando tomado pelo comodismo se torna estacionário. Nesse estado, nem se rebaixa nem se levanta, nem abraça a vileza nem se orgulha das alturas, porque não se empenha por construir-se, por elevar-se, por transcender-se. Não retrocede nem avança. Vive, muitas vezes, em movimento, mas não cria novidade qualitativa nenhuma. Não modifica o tabuleiro da sua existência nem cria jogadas que poderiam lhe transformar vertiginosamente.
Não cria uma imagem de mundo diferente nem abre para si um estilo de vida distinto. Gira sempre sobre o mesmo eixo. Com frequência falsamente. Sua atividade se esgota na atividade mesma. Vê que tudo está se tornando líquido (Bauman), mas não se move para alterar o rumo dos acontecimentos. Vive indignado, mas nada constrói para modificar sua situação. Fica angustiado com o vazio, mas nada faz para preenchê-lo. De novo nada produz. Não inova. Esquece que quem não se regenera, degenera (E. Morin). Que quem não cresce, decresce. Quando se mobiliza é para administrar as carências. O ser errático estacionário é fruto de uma sociedade estacionária, [3] que se movimenta para nada alcançar em termos de mudanças relevantes.
[1] SÁEZ RUEDA, Luis. Ser errático. Madrid: Editorial Trota, 2009, p. 11 e ss.
[2] Em SÁEZ RUEDA, Luis. Ser errático. Madrid: Editorial Trota, 2009, p. 31.
[3] SÁEZ RUEDA, Luis. Ser errático. Madrid: Editorial Trota, 2009, p. 32.

Réquiem para os combustíveis fósseis?, por José Goldemberg no OESP


Ao adotar essas reduções, o comunicado dá um significado concreto ao que se entende por desenvolvimento sustentável, que até agora tem sido um conceito vago.15/06/2015 - O Estado de S. Paulo - José Goldemberg
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Réquiem é a música que se ouve nos funerais e é oferecida para o repouso da alma.  Os chefes de Estado do G-7 (Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra, Japão, Canadá e Itália), reunidos na Alemanha na semana passada, adotaram uma resolução que corresponde na prática a um funeral programado do uso dos combustíveis fósseis até o fim deste século.

O comunicado final do encontro afirma que são necessários cortes profundos na emissão dos gases causadores do aquecimento mundial e, consequentemente, das mudanças climáticas.  No fim do século as emissões seriam “próximas de zero” e, mais especificamente, reduzir-se-ão – em colaboração com todos os outros signatários da Convenção do Clima – de 40% a 70% relativamente aos níveis de 2010, até 2050.  As emissões de gases causadores do efeito estufa originam-se na queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural).  

Ao adotar essas reduções, o comunicado dá um significado concreto ao que se entende por desenvolvimento sustentável, que até agora tem sido um conceito vago.  Agora um calendário existe para a adoção das ações necessárias para atingi-lo.  

A importância da decisão do G-7 é significativa porque representa um endosso completo dos estudos científicos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, que envolve todos os países do mundo e tem sido questionado por alguns “céticos”.  É desses estudos que decorre a necessidade de reduzir fortemente as emissões para impedir que a elevação da temperatura média da Terra ultrapasse em 2 graus centígrados a temperatura média atual.

 Além disso, o comunicado enfatiza a importância de se promover a adoção de energias renováveis – eólica, de biomassa e solar –, bem como a eliminação de subsídios para os combustíveis fósseis.

Não deixa de ser um pouco surpreendente que os países do G-7 tenham tomado agora uma posição tão firme quanto à redução das emissões.  Outras tentativas de adotar resoluções do mesmo tipo foram feitas em reuniões anteriores e todas elas fracassaram.  

É óbvio, portanto, que a resolução do G-7 não caiu do espaço, mas resultou da evolução que está ocorrendo silenciosamente em muitos países onde as evidências dos problemas causados pelas emissões estão se tornando claras.  Os avanços científicos, por sua vez, estão dando robustez à realidade do “efeito estufa”.

 Alguns exemplos dessa evolução são os seguintes:

Seis grandes empresas europeias produtoras de gás e petróleo, entre as quais a francesa Total, propuseram a adoção de uma taxa sobre as emissões de carbono, o que favorece a “descarbonização” do sistema produtivo, com uma redução do consumo de carvão, que já está ocorrendo na Europa e na China.  Muitas outras empresas já incluem um preço para o carbono emitido ao tomarem decisões sobre seus futuros investimentos, porque consideram evidente que isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde, e querem antecipar-se às decisões que serão adotadas pelos governos.  

O custo das energias renováveis tem caído dramaticamente e elas representam uma fração crescente do consumo total de energia.  

Muitas grandes empresas – como a Unilever (anglo-holandesa), L’Oréal (francesa), Ikea (suíça), Enel (italiana) – estão reduzindo as suas emissões por motivos variados, um dos quais é a reputação da companhia como uma empresa “verde”.  Essa reputação valoriza as suas ações nas bolsas de valores internacionais.


O fundo soberano da Noruega, com cerca de US$ 1 trilhão, está se afastando de investimentos em combustíveis fósseis no mundo todo.

Todos esses fatores estão aumentando a possibilidade de que a Conferência de Paris, no fim deste ano – cujo objetivo é adotar novos compromissos mundiais para a redução das emissões de gases-estufa –, tenha sucesso, completando, assim, o trabalho da Conferência do Rio, em 1992 que adotou a Convenção do Clima.  

Há, porém, uma condição que é essencial para que isso aconteça: que os países em desenvolvimento, além do G-7, adotem medidas sérias a respeito da redução de suas emissões de gases de efeito estufa.  Sem a participação dessas nações a meta de limitar o aumento da temperatura da Terra em 2 graus centígrados até o fim do século não vai ser alcançada.  Os países do G-7, que estão agora seriamente engajados na redução das emissões, representam apenas 24% do total emitido.  

Dos 76% restantes, 65% se originam nos países em desenvolvimento, entre eles a China, que representa quase um terço do total.  Além disso, alguns países industrializados que não fazem parte dos G-7 são grandes emissores e emitem 13% do total global, entre eles a Rússia.

Para atingir as metas almejadas pelos países do G-7 seria preciso que todos se engajassem seriamente, adotando energias renováveis e métodos mais eficientes de produzir e utilizar energia.  

A China já se adiantou nesse processo ao assumir o compromisso de deixar de aumentar suas emissões em 2030 e reduzi-las daí para a frente.

Há, pois, uma grande oportunidade para a diplomacia brasileira de reconquistar o papel de liderança que o Brasil teve em 1992: a de convocar uma conferencia dos países em desenvolvimento para propor as medidas adequadas a eles.  O Brasil é um dos países com menor participação de combustíveis fósseis na sua matriz energética e tem muito a mostrar na área de energias renováveis.  Seria um magnífico contraponto ao que os países do G-7 fizeram e mostraria ao mundo que as nações em desenvolvimento estão dispostas a participar do esforço global de redução das emissões – já que o aquecimento global afeta a todos – e a fazer sua parte, não apenas ficar no papel passivo de pleitear recursos internacionais para fazê-lo.

 José Goldemberg é professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), foi secretário de meio ambiente da Presidência da República por ocasião da adoção da convenção do clima, em 1992

15 Junho 2015 | 03h 00