Por que evangélicos nos EUA continuam apoiando Donald Trump, apesar de ele ter passado os últimos anos sendo investigado e julgado por escândalos que incluem agressão sexual e difamação, falsificação de documentos, envolvimento nos ataques ao Capitólio, fraude fiscal e subversão eleitoral?
E, mais importante do que isso, cabe perguntar: de que maneira o hoje provável retorno de Trump à Casa Branca influencia o campo evangélico conservador no Brasil?
Quando concorreu pela primeira vez em 2016, Trump não era o candidato do coração dos evangélicos dos EUA. Ele recebeu o apoio deles por representar a alternativa "menos pior", do ponto de vista dos costumes, à candidata democrata da época, que era Hillary Clinton.
Hoje, essa percepção mudou. "Evangélicos veem o legado cristão de seu país sendo atacado", explica o jornalista Tim Alberta, autor de "The Kingdom, the Power, and the Glory" ("O Reino, o Poder e a Glória", em tradução literal), lançado no ano passado. "Eles entendem que ‘os bárbaros estão nos portões’ e que precisam de um bárbaro para protegê-los."
Ou seja: as faltas de Trump se tornam virtudes aos olhos desses cristãos. O atual candidato republicano é alguém que, conhecendo o mundo do pecado, está melhor capacitado para lidar com essa ameaça. (Ouvi algo parecido em 2018, durante uma pesquisa, sobre por que evangélicos preferiam Bolsonaro a Marina Silva.)
Ao mesmo tempo, vale lembrar que não foi Trump quem levou ultraconservadores cristãos para a Casa Branca. "Há fotos de (George W.) Bush e assessores no Salão Oval fazendo orações", lembra Donizete Rodrigues, professor colaborador na Universidade de Columbia, que pesquisa cristianismo e política nos Estados Unidos.
Assim como acontece lá, cristãos radicalizados no Brasil são uma minoria barulhenta. Eles se mantêm influentes em suas igrejas lembrando os outros membros da ameaça que a esquerda, vista como anticlerical e antifamília, representa. Para eles, o retorno de Trump à Presidência fortalece a ideia de que Bolsonaro também poderá concorrer e vencer em 2026 no Brasil.
Uma nova gestão de Trump também ampliará a pressão sobre mulheres cristãs. Em vez de igualdade de papéis, a noção do complementarismo sustenta que homens são mais qualificados para a liderança. Aquelas que resistem são desqualificadas como "feministas" e "esquerdistas".
Mas mulheres representam 60% dos evangélicos no Brasil e foi graças à atuação de lideranças como Michelle e Damares que a maioria delas escolheu Bolsonaro em 2022. Essa tensão entre o homem que manda e a mulher que detém o poder representa uma oportunidade para quem quiser disputar a atenção desse grupo.
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