O ativista Julian Assange, o homem que sabia demais, deve entender do assunto. Há tempos, ele disse a um repórter: "O Google sabe mais sobre você do que a sua mãe." E daí?, pergunto eu. Qualquer criança decente faz coisas pelas costas da mãe, como enfiar o dedo no bolo, fingir que tomou banho ou roubar um beijo da prima na escada de serviço. Mas não era a isso que ele se referia.
A mãe era só uma metáfora. Ele quis dizer que o grau de conhecimento do Google a respeito de um usuário é tão abrangente que ninguém se lhe pode comparar. Se o sujeito entra no Google por algum motivo, ele deduzirá seus gostos, necessidades, saldo bancário, possíveis desvios sexuais e, talvez, peso, altura e cor dos olhos. Tudo será repassado aos centros de compras e você será avassalado por ofertas de produtos de que, até então, não sabia que precisava desesperadamente.
Comecei a suspeitar disso certo dia em que, ao acessar o Google para checar a data de produção de "Os Nibelungos", obra-prima de Fritz Lang, de 1923 (chequei), comecei a receber ofertas de seus filmes em qualquer site que abrisse. De repente, ao buscar uma informação no site do Diário de Arapiraca, ele me ofereceu os DVDs de "Metrópolis" (1926), "Espiões" (1928) e "M, o Vampiro de Düsseldorf" (1931). E, na minha inocência, fiquei maravilhado com a súbita popularidade de Fritz Lang em Arapiraca. Não sabia que eles estavam ali só para mim e não apareciam para ninguém mais que fosse àquela página.
Mas a onisciência do Google não se limita a vender DVDs. Se você o abrir para uma mera consulta teórica sobre pressão alta, caspa ou disenteria, ele fará um check-up completo da sua pessoa, o que irá decidir se você terá acesso a tal ou qual plano de saúde ou se conseguirá um emprego xis. Como se diz em português, ele agora sabe todos os seus odds.
Assange tem razão. Contra o Google, mamãe não dá nem para a saída.
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