Com o período de recesso e a proximidade do pleito em outubro, o modo Arthur Lira de trabalhar contamina os legislativos do país. Há pressa na aprovação das mais diversas e polêmicas pautas, a maioria para agradar certos setores do eleitorado, sem aprofundamento do debate. São votações que duram segundos.
No Rio, além da autorização para armar a Guarda Municipal, do destombamento de imóveis desocupados e de novas regras para ciclovias, há a proposta que concede isenção da taxa de uso das vias públicas para eventos religiosos. Uma outra acaba com a exigência de que veículos de taxistas tenham no máximo 10 anos de praça. E a prefeitura sugere a criação de uma moeda social, Carioquinha, inspirada em Maricá, onde se compra e vende com Mumbuca. Por que não Merreca? Ou Surreal?
Na mais espetacular jogada da campanha à reeleição, Eduardo Paes desapropriou o terreno do Gazômetro, que vai a leilão, abrindo caminho para que o Flamengo construa uma arena vertical para 80 mil pessoas orçada em R$ 2 bilhões. A obra não leva em conta o impacto do trânsito na região central da cidade nem o Maracanã, que fica a três quilômetros. Depois da Copa de 2014, o velho Maraca pode viver sua segunda morte. (Antes que me cancelem, registro que a aspiração da torcida rubro-negra é legítima.)
Em São Paulo, um vereador consegue a aprovação de um projeto de lei contra o "tráfico de marmita", impondo regras e multas (mais de R$ 17 mil) para quem doar comida a moradores de rua. A discussão explode nas mídias, com apoios e condenações. Candidato à reeleição, o prefeito anuncia o veto. O autor desiste e promete "aperfeiçoar o texto". Seu objetivo foi alcançado: explorar a miséria para se dar bem.
A voracidade das redes já tornou a história assunto de ontem. Mas o vereador —que pelo menos neste espaço seguirá no anonimato— pode ter garantido mais quatro anos de bizarrias.
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