Márcia Rodrigues
ESPECIAL PARA O ESTADO
Quando o farmacêutico Silas Luque, de 34 anos, resolveu comprar um imóvel maior para morar com a mulher e a sogra, a primeira análise que fez foi que ele deveria ficar mais próximo do trabalho da mulher, que fica em Embu das Artes (27 km a oeste de São Paulo), e de uma estação de Metrô. O local escolhido: Vila Sônia, na zona oeste de São Paulo.
ESPECIAL PARA O ESTADO
Quando o farmacêutico Silas Luque, de 34 anos, resolveu comprar um imóvel maior para morar com a mulher e a sogra, a primeira análise que fez foi que ele deveria ficar mais próximo do trabalho da mulher, que fica em Embu das Artes (27 km a oeste de São Paulo), e de uma estação de Metrô. O local escolhido: Vila Sônia, na zona oeste de São Paulo.
A entrega de uma estação no bairro foi anunciada, inicialmente para 2012, depois passou para 2014, quando estava prevista a entrega do apartamento de Luque, e, agora, o governo confirmou que será entregue oficialmente em 2019.
O atraso não estava nos planos de Luque que, na época, trabalhava em Suzano (44 km a leste de São Paulo) e precisava do metrô e do trem para se locomover com facilidade. “Para não gastar tanto com condução, eu comecei a ir de bicicleta até a estação Butantã (na Linha 4-Amarela) para pegar o metrô e, depois, o trem. Foi um período de muito desgaste. Nem tinha tempo de curtir o meu filho recém-nascido.”
O farmacêutico conta que chegou a pensar em vender o imóvel. “O que me segurou foi que eu achei que não conseguiria receber o que paguei por ele, por causa do atraso da entrega da estação.”
Luque afirma que o que lhe salvou foi a oferta de emprego no bairro do Campo Limpo, na Zona Sul. “Agora, eu consigo ir trabalhar de carro e não gastar muito. Quando eu trabalhava em Suzano isso era inviável financeiramente.”
Luque afirma que o que lhe salvou foi a oferta de emprego no bairro do Campo Limpo, na Zona Sul. “Agora, eu consigo ir trabalhar de carro e não gastar muito. Quando eu trabalhava em Suzano isso era inviável financeiramente.”
Ele, assim como outros paulistanos, estão ansiosos e aguardando a entrega de estações das linhas 4-Amarela (que ligará a estação Luz, da Linha 1-Azul, à Vila Sônia), 6-Laranja (estação Joaquim, da linha 1-Azul, à Brasilândia, bairro da zona norte), 5-Lilás (integração com as linhas 2-Verde e 1-Azul e seguirá até o Capão Redondo, na zona sul), Linha 15-Prata (Ipiranga, Linha 2-Verde, até Cidade Tiradentes, na Zona Leste) e Linha 17-Ouro (monotrilho que ligará a estação Jabaquara, da Linha 1-Azul, à estação São Paulo-Morumbi, da Linha 4-Amarela).
Para Mirella Raquel Parpinelle, diretora-geral de atendimento da Lopes, o atraso nas obras do Metrô vem prejudicando muito o planejamento do cliente. “Ter estação de metrô próxima ao empreendimento que será lançado não é mais gancho de venda. Não dá para falar ‘compre agora que a partir de tal data você terá mais mobilidade’, porque os atrasos nas obras estão cada vez mais frequentes.”
Parpinelle acredita que o maior problema está no adiamento das entregas em bairros menos consolidados como a Vila Sônia, por exemplo.
Parpinelle acredita que o maior problema está no adiamento das entregas em bairros menos consolidados como a Vila Sônia, por exemplo.
“Se pegarmos a Linha Amarela, podemos perceber que há outras estações que não foram entregues, como a Oscar Freire, mas há infraestrutura e outras estações próximas. O mesmo ocorre com a Linha Lilás. No entanto, em bairros mais afastados como a Vila Sônia, a mobilidade é menor e, por isso, faz toda a diferença.”
A diretora-geral também afirma que o atraso das obras pode afetar a liquidez do empreendimento. “Não consigo mensurar o porcentual , mas há redução nas vendas e, consequentemente, o atraso de novos lançamentos. As construtoras seguram até reduzir os estoques.”
A opinião de Parpinelle é compartilhada pelo presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-SP), José Augusto Viana Neto. “Nada pode ser pior para o mercado do que o atraso de uma obra. Traz uma visão totalmente negativa, descrédito para o setor e gera transtorno, principalmente para a pessoa que planejou a sua vida, contando que terá mais mobilidade.”
Ele acredita que o adiamento não afeta a valorização porque a estação será entregue, ainda que tardiamente. No entanto, ele diz que pode dificultar a vida de quem comprou o imóvel para alugar, por exemplo.
Proximidade. “As pessoas querem a facilidade de morar próximo ao metrô. Não tendo uma estação no entorno, vão atrás de outro imóvel.” O mesmo raciocínio vale para uma compra, segundo o presidente do Creci. “Se o cliente tiver duas opções de negócio com preços equivalentes, ele vai optar por aquele que oferece o metrô.”
A falta de confiabilidade nos prazos dados pelo governo para a conclusão das obras deve ser levada em consideração por quem quer comprar um imóvel, contando com uma estação no seu bairro, segundo Lucas Vargas, CEO da imobiliária VivaReal. “Basta avaliar o histórico das obras públicas. Dificilmente os prazos são cumpridos”, diz ele.
O professor de história Benedito Lima, 46 anos, comprou um apartamento no bairro Água Branca, na zona oeste de São Paulo. “Eu sempre gostei do bairro e achei um imóvel com preço acessível. Para mim, a chegada do Metrô será um facilitador, um valor agregado ao meu dia a dia.”
No entanto, ele reconhece que está frustrado com o adiamento da entrega da estação Santa Marina, da Linha Laranja, que ficará próxima ao seu apartamento. “Dois anos a mais é muito tempo.”
Lima conta que é adepto do transporte público e gosta de pedalar. O metrô, para ele, facilitará os seus passeios aos fins de semana. “Costumo frequentar as unidades do Sesc e a região da Avenida Paulista, no Centro da capital. Certamente o metrô vai facilitar muito a minha vida.”
Para Celso Petrucci, economista-chefe do Sindicato da Habitação de São Paulo (se), é natural que haja uma valorização dos empreendimentos do bairro com a chegada do Metrô. “Os bairros Tucuruvi e Parada Inglesa, na zona norte, se valorizaram muito com a chegada do metrô. Certamente na Vila Sônia estão sendo promovidos lançamentos muito abaixo da sua capacidade por conta do atraso.”
De acordo com Petrucci, a mesma frustração vem sendo gerada em outros consumidores, que estão esperando pelas obras. “Antes de fechar um negócio, a pessoa deve avaliar a mobilidade que terá na região, sem contar com a chegada do metrô. O bairro fica próximo ao seu trabalho? Perto da escola do seu filho? Assim não deverá haver sofrimento com o atraso da obra.”
A assessoria de imprensa do Metrô informa que as obras estão sujeitas a “intercorrências” que podem afetar o cronograma de execução. É o caso da Linha 4-Amarela, cujas obras foram iniciadas em 2012 e paralisadas no final de 2015, quando o consórcio Corsán-Corviam abandonou os serviços. Nova licitação foi feita e os trabalhos foram retomadas este mês. O novo contrato prevê: 12 meses para a conclusão da estação Higienópolis-Mackenzie, 15 meses para a estação Oscar Freire, 18 meses para a estação São Paulo-Morumbi e 36 meses para a estação Vila Sônia.
Na Linha 5-Lilás, a construção foi iniciada em novembro de 2009 e paralisada em 2010 por conta de denúncias de supostas irregularidades. Retomadas em 2011, a expansão teve sua primeira estação, a Adolfo Pinheiro, entregue em agosto de 2014. A previsão de conclusão e início da operação do trecho Adolfo Pinheiro – Chácara Klabin é para o segundo semestre de 2017, exceto a Estação Campo Belo, prevista para 2018.
As colunas e vigas que compõem a via por onde passarão os trens do monotrilho da Linha 15-Prata foram implantadas até a estação Iguatemi. As obras foram iniciadas em 2011 e o primeiro trecho foi entregue em 2014. O segundo trecho está previsto para 2018.
As obras da Linha 17-Ouro começaram no segundo semestre de 2011 e, segundo o Metrô, sofreram atrasos na liberação de terrenos e na obtenção das licenças ambientais. O consórcio contratado para a construção de três estações e pátio de trens abandonou as obras. Um novo consórcio foi contratado e as obras retomadas. Parte dos serviços também foi afetada pela paralisação feita pelo Consórcio Monotrilho Integração–CMI, responsável pela via e pilares de sustentação.
Atualmente, este contrato encontra-se em renegociação judicial. Por estas razões, alega o Metrô, o cronograma de entrega e início de operação foi afetado e está em revisão. A Linha 6–Laranja estava prevista para ser entregue em 2020. Porém, segundo o Metrô, o início da operação simultânea das 15 estações ocorrerá em 2021, em razão do atraso no financiamento.
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