RENÉE PEREIRA, LUIZ GUILHERME GERBELLI
- O ESTADO DE S.PAULO
02 Julho 2016 | 05h 00 - Atualizado: 02 Julho 2016 | 05h
00
Dados mostram que indústria trabalha com 64%
da capacidade e, sem necessidade de novos projetos, recuperação será mais lenta
Os investimentos do setor produtivo ainda vão demorar algum
tempo para sair do papel, mesmo se a economia brasileira reagir nos próximos
meses. Atualmente, com mais de um terço da capacidade produtiva ociosa, as
empresas conseguem facilmente atender a um aumento de demanda sem a necessidade
de ampliar a produção. Em resumo, isso significa que a saída da crise será mais
lenta e dolorosa.
RELACIONADAS
Os novos projetos, como a construção de fábricas, só devem ser
desengavetados em pelo menos dois anos. Os números da Confederação Nacional da
Indústria (CNI) mostram que, neste ano, as empresas trabalham com o uso da
capacidade instalada de 64%. É o menor índice da série histórica iniciada em
2001. A lista de setores mais prejudicados pela queda na demanda é liderada por
veículos automotores, equipamentos de transportes, químico e máquinas e
equipamentos.
A Sondagem de Investimento, do Instituto Brasileiro de Economia
da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), vai na mesma direção. No levantamento do
segundo trimestre, apenas 16,2% das empresas planejavam aumentar os
investimentos. Segundo o levantamento, 69,1% das companhias encontram
limitações para realizar novos projetos.
As principais dificuldades apontadas pelos empresários são
incerteza com relação à demanda, limitação de recursos e carga tributária
elevada. “O fator incerteza está sendo muito relevante, podendo levar a
revisões de planos das empresas com mais frequência do que ocorria no passado”,
diz Aloisio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos do Ibre/FGV.
Recuo. Com a demanda enfraquecida e a
confiança em baixa, a taxa de investimento do País, que já é menor quando
comparada a de outros concorrentes, recuou uma década. Dados da Tendências
Consultoria Integrada mostram que, em 2016, a formação bruta de capital fixo
recuou para 16,9% do PIB, bem abaixo dos 20,9% de 2013, uma das maiores taxas
que o País já teve nos últimos anos.
Considerada fundamental para a retomada consistente do
crescimento econômico, a taxa de investimento não deve ter grandes avanços nos
próximos anos. Na melhor das hipóteses, o Brasil retomaria o nível de 2013 em
2019, afirma o economista da Tendências, Rafael Bacciotti. Segundo ele, no
entanto, a consultoria trabalha com um cenário básico de recuperação apenas em
2025.
Sem caixa. Outro efeito da elevada
ociosidade é a piora da saúde financeira das empresas. Com caixa debilitado,
sem crédito e endividadas, muitas empresas estão sem dinheiro até para o capital
de giro, o que afasta a possibilidade de novos investimentos. “Nos últimos
anos, houve um período muito difícil do ponto de vista da rentabilidade das
empresas”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi). “Isso prejudica a recuperação econômica por
meio da retomada de investimentos.”
Uma das consequências dessa fragilidade das empresas pode se
refletir na redução de mercado. Com faturamento menor, as companhias afetadas
pela crise podem perder competitividade e, consequentemente, ser superadas por
concorrentes, segundo José Ricardo Roriz, diretor do Departamento de
Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O setor cerâmica, por exemplo, deve perder o posto de segundo maior
produtor mundial para a Índia neste ano. As empresas, afetadas pela retração do
mercado imobiliário e varejo de construção, operam com 70% da capacidade
instalada.
O superintendente da Anfacer, associação do setor, Antonio
Carlos Kieling, afirma que, com sorte, o setor só vai cair 7% neste ano. “Com
taxa de crescimento médio de 5% ao ano desde 2010, as empresas investiram
pesado em novas linhas de produção. O resultado é que agora temos fábricas que
ficaram prontas em 2015 e estão fechadas por falta de demanda.”
Situação delicada também vem enfrentando o setor de máquinas e
equipamentos. Com a paralisia dos investimentos, a produção caiu em média 20%.
Mas em algumas áreas a atividade despencou 50%, como o de empresas que
forneciam para a Petrobrás. “Mesmo que as coisas entrem nos eixos em Brasília,
não prevejo nenhuma melhora sensível até 2018”, afirma o diretor de
competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e
Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini.
Nenhum comentário:
Postar um comentário