domingo, 17 de novembro de 2013

Tite vira velharia, por Antero Greco

Já há algum tempo se desenhava a ruptura entre Corinthians e Tite. O anúncio oficial, na sexta-feira, serviu para revelar ao público, em caráter oficial, que em dezembro chega ao fim parceria de pouco mais de três anos. Não é de agora que as partes principais – clube e técnico – sabiam do desfecho. Sinais foram emitidos em algumas ocasiões, e só com muita boa fé se poderia imaginar a extensão de acordo para a próxima temporada. Enrolaram até que sentissem a equipe afastada de qualquer risco de rebaixamento. Vejam só que coisa!
Incluo-me dentre os que pregaram grande reforma no elenco alvinegro, porém sob supervisão de Tite. Por algum tipo de miragem, supus que poderíamos ter, no Brasil, uma versão modesta de Alex Ferguson ou Arsène Wenger, ambos com tão longa duração em Manchester United e Arsenal, respectivamente. Seria outro progresso do Corinthians, que nos últimos anos avançou em diversas áreas. O treinador campeão de tudo encabeçaria o processo de renovação, com apoio irrestrito de dirigentes e torcida. Ilusão.
Por mais que tenha surpreendido, como no episódio da derrota para o Tolima, no início de 2011 (manteve Tite, apesar dos protestos pela eliminação na Libertadores), o Corinthians em essência não consegue livrar-se de comportamento enraizado por aqui. Temos a sensação de que uma relação de três anos é excessiva, longa, desgastante. O encanto se esvai com rapidez.
Tudo muito efêmero. E não me refiro só ao futebol, em que é praticamente exceção permanência de um professor por mais de um campeonato. É assim num emprego, num namoro, em casamentos até. Há necessidade incessante de novidade, de estímulo. Daí, também, o impulso para a troca constante de modelos de celular, de computadores e similares, de carro, de roupa.
Devoramos ídolos com a mesma facilidade com que os fabricamos. Neymar é exemplo forte: apareceu outro dia no Santos, ganhou quilos de troféus, se destacou com a velocidade dos dribles. Pronto, eis astro para ficar? Coisa nenhuma. O que não faltou (ou melhor, não falta) é gente que o considerou fraude e empurrou para ele frustrações do Santos e da seleção. Como se fosse um veterano, jogou-se tudo nas costas de um moço de 21 anos.
Processo semelhante ocorreu com Tite. No início deste ano, era um semideus para a fiel torcida. Ele tinha sido um dos mentores das façanhas na Libertadores e no Mundial de Clubes. O prestígio só cresceu com a conquista do Paulista e, em seguida, com a Recopa. Desclassificação na Libertadores de 2013 e inúmeras apresentações sem brilho no Brasileiro transformaram o panorama e choveu crítica. Tite não serve, já deu, já era, perdeu a mão, esgotou o repertório, apegou-se a jogadores velhos, foi burro nas alterações, não soube armar o time, etc. Esteve na mira dos intolerantes de sempre, escapou de levar enquadrada dos truculentos.
Na sofreguidão por inovações, Tite se torna página virada e cresce ansiedade pelo retorno de Mano. Mas ele não significa diferença pois já passou pelo Parque São Jorge. Não importa. Na cabeça de torcedores e cartolas, representa movimento para romper a rotina. E assim se realimenta o ciclo de interesses do público. Mesmo que, sem perceber, cumpre a mesma rotina com outra roupagem. O negócio é consumir. Há pressa.
Em tempo: escrevi aqui, na semana passada, que o Corinthians espera milagres para chegar à Libertadores. Um ou outro prodígio pode acontecer, como talvez neste domingo – se bem que bater o Vasco atualmente não é nenhuma proeza. Mas é preciso combinar com Goiás, Botafogo, Vitória, São Paulo, Santos para que tropecem e deem passagem.
Palestra campeão! O Palmeiras conquistou ontem, pela segunda vez, o título da Série B. Com festa discreta do torcedor, ao contrário de 10 anos atrás. Naquela ocasião, o retorno significava renascimento; agora, foi correção de rumo. Parabéns pela taça, mas que isso não se repita.
*(Minha crônica no Estado de hoje, domingo, 17/11/2013.)

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