FOLHA DE SP - 09/11
Brasil pode e deve, no âmbito do agronegócio, encontrar novos caminhos para abrir o mercado chinês
Li na "Economist" da semana passada que a China não precisa se preocupar com a dependência das importações de grãos, que no passado consumiram até 25% da receita de suas vendas externas. Afinal, lembrou a revista, esse gasto representa, hoje, apenas 2% das receitas obtidas com suas exportações.
Depois desta semana em Pequim, em que participei de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer e o presidente chinês, Xi Jinping, imagino que todos lemos o mesmo artigo. E com ele concordamos.
A China deve seguir produzindo o que tem de melhor e continuar comprando, do resto do mundo --inclusive do Brasil--, o que de mais seguro e competitivo produzimos: alimentos. O vice-presidente do país, Li Yuanchao, sugeriu até que deixássemos de lado o sinal vermelho e adotássemos apenas o verde nas relações bilaterais.
O verde dominou a pauta de Pequim. Conseguimos abrir a venda de milho e habilitar cinco frigoríficos que agora poderão exportar carne de frango para os chineses.
Autoridades do governo da China comprometeram-se a visitar o Brasil até meados de dezembro, para habilitar outros frigoríficos de aves e, enfim, suspender o embargo à carne bovina brasileira. A suspensão de apenas três frigoríficos provocou queda de 22% nas exportações de carne de frango no primeiro semestre deste ano.
Obstáculos à parte, a China é, hoje, nosso maior parceiro e o primeiro destino de nossas exportações. A despeito do pouco dinamismo do nosso comércio externo, nos últimos cinco anos, exportamos para o mercado chinês o equivalente a US$ 150 bilhões.
O aceno de sinal verde ao Brasil vem em boa hora. Basta lembrar que, em 2012, a China importou o equivalente a US$ 1,75 trilhão, do qual apenas US$ 41 bilhões vieram do Brasil. É chegado o momento de aproveitarmos o real potencial da China.
O atual governo chinês tem a meta de duplicar a renda per capita até o fim desta década. Está prestes a anunciar um conjunto de profundas reformas da economia, que, entre outras coisas, resulta- rá no crescimento da demanda geral por alimentos, em especial os itens mais nobres da dieta, como as carnes.
Nesse cenário promissor, é preciso articular um esforço de exportação muito mais organizado, envolvendo tanto o setor público --Ministérios da Agricultura, do Comércio Exterior, Itamaraty e Apex-Brasil-- quanto o privado. Além dos exportadores tradicionais e das tradings, novas agroindústrias de médio e pequeno porte devem ser incorporadas.
Desse modo, torna-se indispensável uma atitude do governo brasileiro, para livrar o setor produtivo dos enormes obstáculos de ordem burocrática e normativa.
O Brasil pode e deve, no âmbito do agronegócio, encontrar novos caminhos para abrir o grande mercado chinês. Até agora, as relações econômicas sino-brasileiras evoluíram de modo espontâneo, por iniciativa de algumas grandes empresas.
Ocorre, porém, que o aumento e a melhoria de qualidade dessas relações dependem de uma política deliberada de governo. E isso dentro de uma visão estratégica de longo prazo, que esteja aberta a considerar os interesses mútuos e a fazer concessões.
Um dos equívocos a serem corrigidos é o modelo tarifário, que fez com que o Brasil exportasse 12 vezes mais soja em grão do que farelo ou óleo de soja. A causa disso é a política insana que tributa o óleo exportado em 18% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e que isenta apenas a soja em grão.
No caso da China, enfrentamos a escalada tarifária na exportação de alguns produtos, como o café. O grão verde é taxado em 8%, o torrado, em 15%, e o café solúvel, em inacreditáveis 34%. Um claro desestímulo à agregação de valor que precisa ser revisto.
Este é o momento de construirmos, com os chineses, uma cooperação econômica mais madura e abrangente.
Na verdade, o que eu espero do novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo Machado, é que ele aproveite a oportunidade que a China nos oferece e nos retire do vergonhoso ranking do acordo zero.
Brasil pode e deve, no âmbito do agronegócio, encontrar novos caminhos para abrir o mercado chinês
Li na "Economist" da semana passada que a China não precisa se preocupar com a dependência das importações de grãos, que no passado consumiram até 25% da receita de suas vendas externas. Afinal, lembrou a revista, esse gasto representa, hoje, apenas 2% das receitas obtidas com suas exportações.
Depois desta semana em Pequim, em que participei de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer e o presidente chinês, Xi Jinping, imagino que todos lemos o mesmo artigo. E com ele concordamos.
A China deve seguir produzindo o que tem de melhor e continuar comprando, do resto do mundo --inclusive do Brasil--, o que de mais seguro e competitivo produzimos: alimentos. O vice-presidente do país, Li Yuanchao, sugeriu até que deixássemos de lado o sinal vermelho e adotássemos apenas o verde nas relações bilaterais.
O verde dominou a pauta de Pequim. Conseguimos abrir a venda de milho e habilitar cinco frigoríficos que agora poderão exportar carne de frango para os chineses.
Autoridades do governo da China comprometeram-se a visitar o Brasil até meados de dezembro, para habilitar outros frigoríficos de aves e, enfim, suspender o embargo à carne bovina brasileira. A suspensão de apenas três frigoríficos provocou queda de 22% nas exportações de carne de frango no primeiro semestre deste ano.
Obstáculos à parte, a China é, hoje, nosso maior parceiro e o primeiro destino de nossas exportações. A despeito do pouco dinamismo do nosso comércio externo, nos últimos cinco anos, exportamos para o mercado chinês o equivalente a US$ 150 bilhões.
O aceno de sinal verde ao Brasil vem em boa hora. Basta lembrar que, em 2012, a China importou o equivalente a US$ 1,75 trilhão, do qual apenas US$ 41 bilhões vieram do Brasil. É chegado o momento de aproveitarmos o real potencial da China.
O atual governo chinês tem a meta de duplicar a renda per capita até o fim desta década. Está prestes a anunciar um conjunto de profundas reformas da economia, que, entre outras coisas, resulta- rá no crescimento da demanda geral por alimentos, em especial os itens mais nobres da dieta, como as carnes.
Nesse cenário promissor, é preciso articular um esforço de exportação muito mais organizado, envolvendo tanto o setor público --Ministérios da Agricultura, do Comércio Exterior, Itamaraty e Apex-Brasil-- quanto o privado. Além dos exportadores tradicionais e das tradings, novas agroindústrias de médio e pequeno porte devem ser incorporadas.
Desse modo, torna-se indispensável uma atitude do governo brasileiro, para livrar o setor produtivo dos enormes obstáculos de ordem burocrática e normativa.
O Brasil pode e deve, no âmbito do agronegócio, encontrar novos caminhos para abrir o grande mercado chinês. Até agora, as relações econômicas sino-brasileiras evoluíram de modo espontâneo, por iniciativa de algumas grandes empresas.
Ocorre, porém, que o aumento e a melhoria de qualidade dessas relações dependem de uma política deliberada de governo. E isso dentro de uma visão estratégica de longo prazo, que esteja aberta a considerar os interesses mútuos e a fazer concessões.
Um dos equívocos a serem corrigidos é o modelo tarifário, que fez com que o Brasil exportasse 12 vezes mais soja em grão do que farelo ou óleo de soja. A causa disso é a política insana que tributa o óleo exportado em 18% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e que isenta apenas a soja em grão.
No caso da China, enfrentamos a escalada tarifária na exportação de alguns produtos, como o café. O grão verde é taxado em 8%, o torrado, em 15%, e o café solúvel, em inacreditáveis 34%. Um claro desestímulo à agregação de valor que precisa ser revisto.
Este é o momento de construirmos, com os chineses, uma cooperação econômica mais madura e abrangente.
Na verdade, o que eu espero do novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo Machado, é que ele aproveite a oportunidade que a China nos oferece e nos retire do vergonhoso ranking do acordo zero.
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