A filha do general Euryale de Jesus Zerbini, a advogada Eugênia Zerbini, prestou depoimento durante audiência pública da CNV (Comissão Nacional da Verdade), na Assembleia Legislativa de São Paulo, e relatou os momentos de medo vividos quando foi violentada por militares.
O caso ocorreu em fevereiro de 1970, na sede da Operação Bandeirante, na Vila Mariana (zona sul), local onde sua mãe --a fundadora do Movimento Feminino pela Anistia Therezinha Godoy Zerbini-- estava presa havia poucos dias.
Já seu pai já havia sido cassado por ser um dos quatro generais a ser contrário e resistir ao golpe militar de 1964. Aos 16 anos, ela contou que foi levar roupas para mãe na sede da operação. "Ao chegar lá, me perguntaram como estava minha mãe. E eu disse: 'vocês quem devem saber'. Me arrependo. Não era para ter dito aquilo", afirmou.
A advogada relatou que, naquele momento foi violentada. Sem apresentar detalhes, ela conta que sofreu muitos anos sem contar o caso, mas sabe que o interesse dos militares não seria com ela.
LEIA MAIS
- PMs passaram por lavagem cerebral do Exército na ditadura, diz coronel torturado em SP
- Marighella ganha homenagem no local onde foi assassinado há 44 anos
- Comissão da Verdade do Rio quer comprovar colaboração do Brasil com a Operação Condor
- "PM mantém tradição da ditadura de torturar", diz irmão de guerrilheira
- Família de desaparecido político lança campanha por informações sobre corpo
- Comissão da Verdade faz audiência para relembrar Massacre de Ipatinga
"Agora que tornei isso público, fiquei mais leve. Sei que não foi a mim, eles estavam fazendo isso para atingir meu pai e minha mãe. E eu fui um veículo que estava a mão", afirmou.
A então adolescente disse que não teve coragem de contar o caso a familiares à época.
"Não tive coragem de falar pra ele [meu pai], não falei a minha vó. Ela estava com a outra filha presa. Ia falar para quem? Telefonar para o Rio de Janeiro? A gente fica com mais vergonha daquele que fez do que da gente", disse.
Zerbini contou ainda que viveu momentos de horror ao deixar a sede da operação apos ser violentada. "Não sei como eu sai daquelas coisas. De repente eu estava na rua, no bairro Paraíso, e eu tinha que sair dali e lembrava: 'não olha pra trás'. Parecia um pesadelo", explicou.
Comissão da Verdade - 16 vídeos
Mortes de presidentes
Nesta segunda-feira, em nota, a CNV informou como será a exumação do ex-presidente João Goulart, que ocorrerá na próxima quarta-feira (8), em São Borja (RS). Os peritos chegam na cidade nesta segunda-feira.
Segundo a CNV, o objetivo é tentar apurar a suspeita de que Jango não tenha morrido de um ataque cardíaco. O ex-presidente morreu em seis de dezembro de 1976, em Mercedes, província de Corrientes, na Argentina.
À época, o corpo do ex-presidente não passou por autópsia, e o único registro na certidão de óbito relata morte por "enfermedad".
Na semana passada, a CNV convocou as testemunhas da morte, que teria ocorrido supostamente em um acidente de carro, para apurar a versão de que o ex-presidente do Brasil teria sido assassinado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário