04 de março de 2013 | 2h 05
José de Souza Martins - O Estado de S.Paulo
Num sábado à tarde, de novembro de 1884, a Condessa d'Eu, com os filhos, ainda crianças, foi de bonde puxado a burro conhecer a Chácara das Flores, no Brás. Ficava no Marco da Meia Légua, pouco adiante da Ponte Preta, na Rua do Brás, mais tarde Rua da Intendência e hoje Avenida Celso Garcia. A Princesa Isabel não ligou muito para as flores de Jules Joly. Queria era livrar-se do enxame de repórteres. Na volta, pediu um bonde só para ela e os filhos, deixando os jornalistas a pé. Lá era o confim da cidade, o extremo do chamado rocio.
Júlio Joly era francês de Grenoble. Chegara a São Paulo, com 27 anos de idade, em 1828, onde, com um patrício, montou uma livraria, animado pela abertura do Curso Jurídico, atual Faculdade de Direito. Em meados do século, tinha uma loja de miudezas de luxo trazidas da França: joias de verdade e de fantasia, cristais, porcelanas, eventualmente vinhos e até elixires. Todo ano viajava para lá e voltava carregado desses objetos de desejo de uma sociedade caipira que estava ficando rica com a agricultura de café e se afrancesava ao mesmo tempo. Era uma espécie de sacoleiro de luxo. Semanas antes de viajar, fazia leilões dos estoques de sua loja de sobrado na Rua do Rosário, atual Álvares Penteado, de modo a recuperar o capital para renovar estoques.
A Chácara das Flores foi criada no terreno do Brás, em 1856, depois que Joly, sem êxito, tentou vendê-lo. Com as mercadorias para sua loja, começou a trazer da França, na bagagem, sementes e mudas de flores. A chácara tinha cerca de um hectare, um sobrado, ao qual se chegava por uma alameda ladeada por palmeiras, vários animais, mais de mil árvores frutíferas, parreiras, senzala para os escravos. O terreno era atravessado por um córrego de boa água. Dizia ter 400 variedades de camélias e de rosas, além, de dálias, rododendros, azaleias.
Na Rua da Imperatriz, hoje 15 de Novembro, abriu uma floricultura, onde vendia buquês e arranjos florais. Joly colocou as flores na vida cotidiana dos paulistanos, libertando-os da rusticidade que havia até mesmo nos casarões senhoriais.
Em 1886, fez o arruamento da chácara para venda de lotes. A uma das ruas deu seu próprio nome, Rua Joly, que assim se chama até hoje. Em 1893, cego, foi submetido a temerária cirurgia de catarata pelo doutor Carlos Botelho, aqui mesmo, o que lhe permitiu voltar a ler e escrever. Faleceria no ano seguinte, com 93 anos de idade. Seus filhos se radicaram em Itatiba, como fazendeiros e lojistas. Tinham escravos. Lá foi celebrada sua missa de 7.º dia.
Joly se gabava de ter sido o introdutor do gosto pela jardinagem amadora em São Paulo. Foi quem estimulou entre nós o passatempo masculino do cultivo de rosas, numa época em que o único passatempo dos homens era a caçada. Perfumou aqui o caminho da civilização.
Júlio Joly era francês de Grenoble. Chegara a São Paulo, com 27 anos de idade, em 1828, onde, com um patrício, montou uma livraria, animado pela abertura do Curso Jurídico, atual Faculdade de Direito. Em meados do século, tinha uma loja de miudezas de luxo trazidas da França: joias de verdade e de fantasia, cristais, porcelanas, eventualmente vinhos e até elixires. Todo ano viajava para lá e voltava carregado desses objetos de desejo de uma sociedade caipira que estava ficando rica com a agricultura de café e se afrancesava ao mesmo tempo. Era uma espécie de sacoleiro de luxo. Semanas antes de viajar, fazia leilões dos estoques de sua loja de sobrado na Rua do Rosário, atual Álvares Penteado, de modo a recuperar o capital para renovar estoques.
A Chácara das Flores foi criada no terreno do Brás, em 1856, depois que Joly, sem êxito, tentou vendê-lo. Com as mercadorias para sua loja, começou a trazer da França, na bagagem, sementes e mudas de flores. A chácara tinha cerca de um hectare, um sobrado, ao qual se chegava por uma alameda ladeada por palmeiras, vários animais, mais de mil árvores frutíferas, parreiras, senzala para os escravos. O terreno era atravessado por um córrego de boa água. Dizia ter 400 variedades de camélias e de rosas, além, de dálias, rododendros, azaleias.
Na Rua da Imperatriz, hoje 15 de Novembro, abriu uma floricultura, onde vendia buquês e arranjos florais. Joly colocou as flores na vida cotidiana dos paulistanos, libertando-os da rusticidade que havia até mesmo nos casarões senhoriais.
Em 1886, fez o arruamento da chácara para venda de lotes. A uma das ruas deu seu próprio nome, Rua Joly, que assim se chama até hoje. Em 1893, cego, foi submetido a temerária cirurgia de catarata pelo doutor Carlos Botelho, aqui mesmo, o que lhe permitiu voltar a ler e escrever. Faleceria no ano seguinte, com 93 anos de idade. Seus filhos se radicaram em Itatiba, como fazendeiros e lojistas. Tinham escravos. Lá foi celebrada sua missa de 7.º dia.
Joly se gabava de ter sido o introdutor do gosto pela jardinagem amadora em São Paulo. Foi quem estimulou entre nós o passatempo masculino do cultivo de rosas, numa época em que o único passatempo dos homens era a caçada. Perfumou aqui o caminho da civilização.
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