domingo, 4 de junho de 2017

'O Eu Diário' - HÉLIO SCHWARTSMAN, FSP


FOLHA DE SP - 04/06

Quando você acessa alguma rede social em busca de notícias, acaba lendo um "jornal" que poderia muito bem receber o nome de "O Eu Diário". É que quem se informa apenas pelas redes acaba adquirindo um conteúdo ultrafiltrado, que exclui tudo o que o titular da conta não aprecia. O "noticiário" esportivo fala apenas do seu time; o político, do partido com o qual você se identifica; e as páginas de opinião trazem justamente as opiniões com as quais você já concorda.

Para alguns, essa poderia ser a definição de vida perfeita: um filtro que elimina tudo aquilo de que eu não gosto. Mas, como o mundo não é tão simples, a prática tem alguns efeitos colaterais deletérios. É esse o tema central de "#republic", de Cass Sunstein. Para o autor, as câmaras de eco em que as redes sociais nos colocam acabam reforçando a fragmentação e a polarização da sociedade. Sunstein analisa com competência a literatura psicológica que mostra por que e em quais condições isso ocorre. Para ele, as redes tratam as pessoas como consumidoras e não como cidadãs, e a diferença é importante para a democracia.

Se, no registro do consumo, podemos perfeitamente nos pautar apenas por nossos gostos e idiossincrasias, no da cidadania, precisamos nos expor a assuntos e ideias que não fazem parte de nossa pauta favorita. É preciso até ouvir e avaliar argumentos com os quais não concordamos.

Sem isso, os aspectos mais deliberativos de nossa democracia, que só funcionam em condições muito específicas, entram em colapso. E não é só. Sem uma base comum de problemas e ideias que valem a pena discutir, não temos nem sequer uma linguagem que possa ser usada -e compreendida- por todos.

Para Sunstein a questão não é se devemos ou não regular a internet e a liberdade de expressão, mas como fazê-lo para preservar ao máximo as vantagens da rede, as liberdades civis e a saúde da República.

Reforma do ensino médio esbarra em falta de estrutura e recursos, OESP

Luiz Fernando Toledo, O Estado de S.Paulo
04 Junho 2017 | 03h00
SÃO PAULO - Para que a reforma do ensino médio seja bem sucedida, é preciso garantir financiamento às escolas que mais precisam, oferecer constante suporte técnico e formação continuada aos professores, para que possam se aperfeiçoar nas disciplinas que lecionam e oferecer itinerários formativos com algum aprofundamento. Essa é a visão de especialistas ouvidos pelo Estado.
Para o superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, há "vários dilemas" de implementação da reforma que não estão explícitos na lei. "A flexibilização do currículo é uma mudança de potencial da política educacional como um tudo. Mas para isso é necessário um maior diálogo sobre os responsáveis finais, os conselhos estaduais e as secretarias de educação. A lei não é clara sobre como deve ser essa oferta", disse.
Ele destacou também que que a ampliação da carga horária no ensino médio faz o Brasil "ficar no trilho de todo o resto do mundo", mas que para que a mudança funcione é preciso fixar o professor em uma mesma escola e ofertar, continuamente, assistência técnica e formação continuada.
Outro desafio é a grande concentração de alunos na região nordeste, onde há muitos municípios pequenos com alta concentração populacional."Há uma grande quantidade de matrículas oferecidas por uma única escola nos municípios. No Nordeste, mais de 20% das matrículas são oferecidas por estas escolas únicas no município", diz. Ele destaca a situação de Estados como Paraíba e Rio Grande do Norte, em que esses porcentuais chegam a 37% e 36%, respectivamente.  "Em regiões com alta densidade populacional você pode especializar a escola em uma área e ofertar a mobilidade desse estudante entre escolas de um mesmo território", diz. "Mas para isso, é necessário grande investimento em assistência a essas escolas”.


Para o sociólogo e membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) César Callegari, os municípios devem ter atenção redobrada com os itinerários para evitar um aumento da desigualdade. “O principal impacto é que, se não houver as desejadas opções (itinerários formativos), só vai se aprofundar a desigualdade e o isolamento dos alunos. Há um convite às saídas fáceis e precarizantes, como o recurso da educação à distância para suprir aquilo que as escolas não conseguem oferecer”, diz. A educação básica tem de ser interativa, com processos coletivos e relação entre os estudantes”, diz.

Aulas
Falta de infraestruturas e recursos podem travar reforma do Ensino Médio no País.Na foto, aluno na Escola Estadual Nossa Senhora Aparecida, em Passa Quatro (MG).  Foto: Felipe Rau
Idilvan Alencar, presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), destaca que o principal desafio é explicar como será o financiamento da reforma. “Quando esta reforma coloca a necessidade de itinerários, ela diz que é preciso contratar mais professores. Haverá mais educação profissional, por exemplo, e vou precisar contratar professores daquela área”.
Para que os itinerários funcionem, diz, as secretarias devem ficar cada vez mais próximas das escolas, em contato com professores e alunos. “A  reforma ainda não fez diálogo direto com esses atores. Vai ter um itinerário ou mais de um em cada escola? O aluno vai poder escolher? Haverá estrutura para oferecer todos os itinerários em uma só escola?”, questiona.

Outros Rumos para o futuro, Marcos Sá Correa no Estadão de 14 mar 2007

 Logo agora que o Brasil do presidente Lula está pronto para transformar o mundo com a revolução verde movida a álcool - e patati-patatá - aparece uma empresa americana chamada GreenFuel dizendo que tem um modo ainda mais prático de fazer etanol. A marca nasceu há seis anos. Está, portanto, aprendendo a engatinhar nesta nova era da cana, cujos engenhos já balançavam a economia internacional há cinco séculos, com o bafo de canaviais que, ondulados pelas brisas dos trópicos, derrubaram o açúcar da farmácia para botar na mesa. A GreenFuel é filha de um engenheiro do MIT que procurava um modo de cultivar algas no ar, simplesmente porque elas digerem dióxido de carbono e expelem oxigênio. Foram as algas, por sinal, que há uns 3,5 bilhões de anos geraram o que hoje chamamos de atmosfera terrestre. E, de quebra, o céu azul. Com elas, fabrica-se um reator capaz de reduzir à metade as emissões de uma termelétrica convencional, a carvão. Mas o melhor é que as algas, ao consumir o dióxido de carbono, deixam de saldo uma sopa de matéria orgânica, perfeita para destilar etanol ou biodiesel. Das sobras de uma usina de mil megawatts, retiram-se por ano quase 400 milhões de litros de combustível, 'fazendo o que a Mãe Natureza faz, só que bem mais rápido', diz Cary Bullock, presidente da GreenFuel. Ela consta de uma lista de 50 empresas e produtos que têm tudo para chegar mais cedo ao futuro, segundo a Fast Company, uma publicação americana para aquele tipo de empresário voraz que trabalha sem parar e descansa disputando maratona. Neste momento, a revista sugere, como programa de lazer, 'viagens filantrópicas', como um safári de luxo que, por diárias de US$ 1,5 mil, organiza viagens ao Quênia com direito a ensinar o bê-á-bá a crianças africanas. Vamos com calma. Os jornalistas nem sempre acertam quando falam do passado recente. Mas sua especialidade é errar nas notícias sobre o futuro. O computador pessoal, por exemplo, custou a chegar aos jornais. E, quando veio, foi recebido por uma reportagem do New York Times explicando por que aquilo não iria pegar. Mas a seleção da Fast Company é uma boa amostra do que o presente anda pensando desde já sobre o futuro. E isso quer dizer muita coisa sobre o que vem aí pela frente. O EXTERMINADOR DE CARBONO A começar pela capa, que traz um close do governador Arnold Schwarzenegger em que ele parece, mais do que nunca, o Exterminador do CO2, por baixar a lei das Soluções para o Aquecimento Global, que cortou a um quarto dos níveis de 1990 o fumacê dos automóveis na Califórnia. Entre os escolhidos, há telefones celulares que pagam conta a distância, bancos populares que só existem na internet e mosquitos geneticamente esterilizados pela inglesa Oxitec, para enganar as fêmeas com seu apetite sexual estritamente recreativo. Mas, nessas 50 chocadeiras de novidades tecnológicas para o consumo, o cacife das apostas no meio ambiente é para lá de avassalador. O freguês agora pode escolher como quer salvar o planeta. Vem aí um novo modelo de tênis Nike, o Soaker, preparado para a reciclagem e com 95% de toxinas a menos na borracha. Há uma cadeira giratória, a Think, sem PVC, CFC, VOC e outras siglas poluentes, cujo projeto se baseia em algoritmos para traduzir as idiossincrasias do cliente num móvel feito sob medida para sua consciência ecológica. A Shaw oferece um carpete de luxo inteiramente tecido com restos de carpetes velhos, o que se pode reproduzir ao infinito. A Ikea sueca anuncia a Boklok, uma casa toda pré-fabricada com madeiras de florestas libertadas do desmatamento. A Italcementi italiana pegou sua vaga no panteão do futuro com o TXActive, um concreto que, absorvendo ácidos nitríticos e outros gases poluentes, limpa os céus das cidades. E a General Electric apresenta a Zenon, membrana sintética que filtra água a ponto de tornar potável o esgoto de uma megalópole. Chamaram a atenção da revista também iniciativas modestas, como a do grupo de Bangladesh que faz adubo com lixo. Mas o álcool brasileiro perdeu o bonde desta edição. Senão a capa da Fast Company, em vez de Schwarzenegger, teria Lula.