domingo, 4 de junho de 2017
Outros Rumos para o futuro, Marcos Sá Correa no Estadão de 14 mar 2007
Logo agora que o Brasil do presidente Lula está pronto para transformar o mundo com a revolução verde movida a álcool - e patati-patatá - aparece uma empresa americana chamada GreenFuel dizendo que tem um modo ainda mais prático de fazer etanol. A marca nasceu há seis anos. Está, portanto, aprendendo a engatinhar nesta nova era da cana, cujos engenhos já balançavam a economia internacional há cinco séculos, com o bafo de canaviais que, ondulados pelas brisas dos trópicos, derrubaram o açúcar da farmácia para botar na mesa. A GreenFuel é filha de um engenheiro do MIT que procurava um modo de cultivar algas no ar, simplesmente porque elas digerem dióxido de carbono e expelem oxigênio. Foram as algas, por sinal, que há uns 3,5 bilhões de anos geraram o que hoje chamamos de atmosfera terrestre. E, de quebra, o céu azul. Com elas, fabrica-se um reator capaz de reduzir à metade as emissões de uma termelétrica convencional, a carvão. Mas o melhor é que as algas, ao consumir o dióxido de carbono, deixam de saldo uma sopa de matéria orgânica, perfeita para destilar etanol ou biodiesel. Das sobras de uma usina de mil megawatts, retiram-se por ano quase 400 milhões de litros de combustível, 'fazendo o que a Mãe Natureza faz, só que bem mais rápido', diz Cary Bullock, presidente da GreenFuel. Ela consta de uma lista de 50 empresas e produtos que têm tudo para chegar mais cedo ao futuro, segundo a Fast Company, uma publicação americana para aquele tipo de empresário voraz que trabalha sem parar e descansa disputando maratona. Neste momento, a revista sugere, como programa de lazer, 'viagens filantrópicas', como um safári de luxo que, por diárias de US$ 1,5 mil, organiza viagens ao Quênia com direito a ensinar o bê-á-bá a crianças africanas. Vamos com calma. Os jornalistas nem sempre acertam quando falam do passado recente. Mas sua especialidade é errar nas notícias sobre o futuro. O computador pessoal, por exemplo, custou a chegar aos jornais. E, quando veio, foi recebido por uma reportagem do New York Times explicando por que aquilo não iria pegar. Mas a seleção da Fast Company é uma boa amostra do que o presente anda pensando desde já sobre o futuro. E isso quer dizer muita coisa sobre o que vem aí pela frente. O EXTERMINADOR DE CARBONO A começar pela capa, que traz um close do governador Arnold Schwarzenegger em que ele parece, mais do que nunca, o Exterminador do CO2, por baixar a lei das Soluções para o Aquecimento Global, que cortou a um quarto dos níveis de 1990 o fumacê dos automóveis na Califórnia. Entre os escolhidos, há telefones celulares que pagam conta a distância, bancos populares que só existem na internet e mosquitos geneticamente esterilizados pela inglesa Oxitec, para enganar as fêmeas com seu apetite sexual estritamente recreativo. Mas, nessas 50 chocadeiras de novidades tecnológicas para o consumo, o cacife das apostas no meio ambiente é para lá de avassalador. O freguês agora pode escolher como quer salvar o planeta. Vem aí um novo modelo de tênis Nike, o Soaker, preparado para a reciclagem e com 95% de toxinas a menos na borracha. Há uma cadeira giratória, a Think, sem PVC, CFC, VOC e outras siglas poluentes, cujo projeto se baseia em algoritmos para traduzir as idiossincrasias do cliente num móvel feito sob medida para sua consciência ecológica. A Shaw oferece um carpete de luxo inteiramente tecido com restos de carpetes velhos, o que se pode reproduzir ao infinito. A Ikea sueca anuncia a Boklok, uma casa toda pré-fabricada com madeiras de florestas libertadas do desmatamento. A Italcementi italiana pegou sua vaga no panteão do futuro com o TXActive, um concreto que, absorvendo ácidos nitríticos e outros gases poluentes, limpa os céus das cidades. E a General Electric apresenta a Zenon, membrana sintética que filtra água a ponto de tornar potável o esgoto de uma megalópole. Chamaram a atenção da revista também iniciativas modestas, como a do grupo de Bangladesh que faz adubo com lixo. Mas o álcool brasileiro perdeu o bonde desta edição. Senão a capa da Fast Company, em vez de Schwarzenegger, teria Lula.
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