terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Para Ciro, aliança entre centro-esquerda e centro-direita é necessária para derrotar Bolsonaro em 2022, FSP


SÃO PAULO | UOL

O ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta terça (1) que o Brasil precisa de uma aliança de centro-esquerda e centro-direita para fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2022. "Mais do que viável, acho necessária [essa aliança]", disse durante participação no UOL Entrevista.

A declaração foi dada ao colunista do UOL Leonardo Sakamoto, que o questionou sobre uma declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na segunda (30), também em participação no UOL Entrevista, Maia citou Ciro e outros nomes, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o apresentador Luciano Huck, para formar uma frente de centro nas próximas eleições.

Para Ciro, a esquerda precisa formar uma aliança com a política de centro, que tradicionalmente se alia à direita no país, para chegar com mais chances de vitória em 2022.

"O futuro, do meu ponto de vista, pede o encerramento da ilusão neoliberal e a formulação, em um ambiente muito difícil e complexo, de um projeto nacional de desenvolvimento. Esse projeto, para ser viável, tem de tomar uma parte do centro político da sua tradicional relação umbilical com a direita", afirmou Ciro.

Questionado se acharia mais fácil construir uma aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou com Doria, Ciro disse acreditar em nem uma coisa nem outra.

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O ex-governador cearense defendeu uma aliança entre PDT, PSB, Rede e PV para a travessia de um primeiro grande obstáculo, "com meus 15%, 14% [de intenções de votos]", para depois se discutir a continuidade desse processo.

"O que vou fazer, à luz do dia, na frente de todos, é tentar capturar um pedaço de centro-direita para uma ampla aliança na centro-esquerda", disse Ciro. "Se eu conseguir isso, vou ser o próximo presidente do Brasil. Se não, eu boto a viola no saco e vou ser um livre pensador", afirmou.

Apesar de dizer que gostaria de ser candidato em 2022, Ciro declarou que não necessariamente o seu nome será lançado em uma eventual chapa nas eleições. "Eu quero ser, mas não me imponho".

Ciro avaliou ainda que, nas eleições municipais de 2020, o bolsonarismo e o lulopetismo foram os grandes perdedores e acabaram "banidos" pelos eleitores das grandes cidades do país. O ex-governador ainda conectou os dois segmentos e disse que um sustenta o outro.

"O Bolsonaro, para mim, nunca foi nem será jamais popular no Brasil enquanto o lulopetismo deixar de ser o fator ocasionador desse ultraconservadorismo brasileiro", disse.

"Esse lulopetismo sai completamente desmoralizado dessas eleições do Brasil. Espero que essas confrontações odientas sejam mandadas brigar lá fora, para que a gente possa construir aqui em audiência com a lição das urnas. O Brasil está sendo destruído do ponto de vista do seu tecido econômico e sua situação de contas públicas", afirmou.

Para o ex-governador cearense, houve um grande voto ao centro, centro-esquerda e centro-direita —mas que, na avaliação dele, não é "orgânico". "Precisa ser organizado para fazer alguma proposta para 2022, mas esse é o sinal que a população mandou nas urnas", disse Ciro.

"Além do resgaste da política da realização. Ganharam as eleições aqueles capazes de entregar, me parece o fim dos estagiários nas posições de grande responsabilidade", completou.

Ciro também não poupou críticas ao PT. Ao longo da entrevista, afirmou que o PSOL representa uma "esquerda raiz" no bom sentido, que não contemporizou com a "roubalheira" do PT, além de criticar a presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, e o lançamento da candidatura de Jilmar Tatto (PT) à Prefeitura de São Paulo.

Para ele, PSOL e o nome de Guilherme Boulos, candidato pelo partido para a Prefeitura de São Paulo que chegou ao segundo turno da disputa, mas perdeu para o atual prefeito Bruno Covas (PSDB), representam uma "possibilidade" de os jovens serem de esquerda no Brasil sem se associarem com problemas do PT.

"[PSOL e Boulos] São uma possibilidade dos jovens serem de esquerda no Brasil sem ter que explicar o [ex-ministro Antonio] Palocci, a Gleisi Hoffmann, essas loucuras que essa burocracia corrompida do PT praticou e querem agora que a nação inteira engula, sem nenhuma autocrítica, essa arrogância, essa prepotência", disse.

Ciro voltou a defender que a candidatura de Márcio França (PSB), apoiada pelo PDT, tinha mais chances de derrotar Covas no segundo turno em São Paulo. "Mas não titubeamos em apoiar o Boulos porque é o tipo de esquerda que não tem que explicar nada para apoiar, porque é decente, enfim, uma coisa nova, respeitável. Não temos que ficar explicando banditismo", disse.

Em outubro, Ciro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontraram numa tarde para discutir uma possível união da esquerda contra Bolsonaro em 2022. Os dois têm uma relação estremecida desde 2018 e já trocaram alfinetadas públicas diversas vezes.

Dias depois do encontro, Ciro disse que ele e Lula tiveram uma "conversa muito franca, muito franca mesmo, lavamos a roupa suja para valer".

Nesta terça, o pedetista afirmou que apresentou uma série de críticas ao petista, incluindo a indicação de Michel Temer (MDB) para o cargo de vice na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Com o impeachment de Dilma, Temer acabou ocupando a Presidência. Segundo Ciro, Lula concordou em parte com as críticas apresentadas por ele —mas não disse quais.

"Tudo que eu estou dizendo em público disse para o Lula. E o que ele me disse não vou dizer", afirmou.

 

'Vou ser um subversivo dentro do partido, vou encher a paciência para o PSDB se reencontrar', OESP

 Reeleito prefeito de São Paulo no último domingo, 29, Bruno Covas (PSDB) disse que pretende se envolver nos debates em torno da criação de uma frente ampla de centro para 2022. Em entrevista ao Estadão, o tucano afirmou que essas forças do centro do espectro político saíram vitoriosas das urnas no domingo. Questionado sobre qual deve ser seu papel neste processo, disse que será um "subversivo dentro do próprio partido", uma frase que atribuiu ao avô, Mário Covas. "Vou encher a paciência para que o PSDB possa se reencontrar. Hoje, as pessoas não veem clareza em relação ao programa do partido. Esse vai ser meu papel como militante partidário", declarou.

O prefeito não dá pistas sobre quem seria o nome ideal para representar este grupo numa futura eleição presidencial. "Defendo a união de vários partidos de centro e de pessoas que precisam buscar mais consensos em busca da unidade do País. A busca do nome vem em seguida. Você não monta a tese em torno de um nome." 

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O prefeito Bruno Covas, reeeleito prefeito de São Paulo, concede entrevista em seu gabinete Foto: MARCELO CHELLO / ESTADAO

Sobre a adoção de medidas mais rígidas para combater a covid-19, anunciadas nesta segunda-feira pelo governador João Doria (PSDB), Covas disse que há uma "estabilidade da pandemia em relação ao número de casos e óbitos". "Não há necessidade de fechar parques ou retroceder em atividades culturais que foram liberadas", disse.

Na entrevista, concedida na Prefeitura, Covas falou sobre a construção do secretariado, tendo em vista uma aliança com mais de dez partidos. a criação de uma Lava Jato municipal, promessa feita para receber o apoio de Joice Hasselmann, e sobre medidas para garantir mais igualdade na Prefeitura.

O que muda agora que o sr tem o próprio mandato eleito e deixa de ser o vice do Doria? 

O nosso tamanho político é sempre a nossa votação. Eu agora passo a ter uma votação de 3. 169.121 votos, que dão mais legitimidade para estar à frente da Prefeitura. É claro que isso vai projetando em termos do tamanho e projeção política. 

O que significa sua vitória para o PSDB? 

Não só para o PSDB, mas para várias forças de centro que perderam muito na eleição de 2018 e agora retomam grandes capitais em 2020. Para o PSDB. é a eleição de alguém que vai, como diria meu avô (Mário Covas), ser um subversivo dentro do próprio partido. Vou encher a paciência para que o PSDB possa se reencontrar. Hoje, as pessoas não veem clareza em relação ao programa do partido. Esse vai ser meu papel como militante partidário. 

Essa foi uma vitória dos partidos de centro ou do centrão? Sua coligação tem todos os partidos do centrão, grupo que dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro no Congresso...

São os partidos que estiveram junto com Geraldo Alckmin na eleição de 2018. Sem atuação deles não teríamos a reforma da previdência. São partidos que sabem encontrar o bom termo através do diálogo.

A rejeição ao governador João Doria é muito grande na capital, chegou a 49% em novembro, segundo o Ibope. O paulistano não perdoa quem deixa o cargo?

O paulistano quer alguém que cuide da cidade de São Paulo. O governador João Doria, apesar de ter saído da Prefeitura, continua a cuidar da cidade como governador. 

No seu discurso da vitória, o sr disse que o negacionismo está com os dias contados. Se referia ao Bolsonaro?

Eu me referia ao negacionismo, e não só ao presidente Bolsonaro, que entende que isso (a pandemia do novo coronavírus) é uma gripezinha. Tem parte da população e dos políticos que pensa assim. Eu me referi a uma tese, e não a uma pessoa ou outra. A eleição mostrou que a cidade de São Paulo não quer discurso radical. A cidade prefere o diálogo e acredita na democracia. Espero que o presidente Bolsonaro ouça esse recado.

Terminada a eleição, já começaram as conversas sobre 2022. Pretende participar desse debate?

Como prefeito da cidade de São Paulo tenho que ter uma preocupação maior com a cidade. Mas, fora do horário de trabalho e aos finais de semana, também sou militante partidário e vou poder ter minha vida partidária como sempre tive. O que não vou fazer é colocar a Prefeitura de São Paulo à disposição de qualquer projeto político. Mas, como militante, vou falar com as pessoas e estabelecer alianças como qualquer dirigente político. 

O que o sr. vai defender em termos de construção política nacional? Fala-se em uma candidatura de centro com Luciano Huck, João Doria ou Sérgio Moro...

Eu defendo uma tese, que é a tese da união de vários partidos de centro e pessoas que precisam buscar mais consensos em busca da unidade do País. A busca do nome vem em seguida. Você não monta a tese em torno de um nome.

Doria sai fortalecido após sua eleição? Ele é o candidato do partido para disputar o Planalto em 2022?

É claro que ele foi um grande apoiador, mas para chegar em 2022 precisamos passar por 2021. O governador Geraldo Alckmin também foi um grande vitorioso com a eleição do Doria em 2016, e nem por isso se elegeu presidente da República dois anos depois. Isso mostra uma força política, mas ainda tem muito chão. No PSDB, ele é o favorito e o que reúne mais chances. Mas, se estamos falando na construção de uma tese e da construção de uma aliança. a gente não pode colocar condições pra isso. Precisa primeiro criar um arco de aliança.

Na segunda-feira, o governador João Doria anunciou restrições em São Paulo na quarentena e a volta para a fase amarela. Na campanha, porém, Doria negava que haveria um aumento restritivo. A narrativa eleitoral não foi condizente com a prática? A capital será mais dura que o Estado, como foi em outros momentos? 

Na cidade de São Paulo, há uma estabilidade da pandemia em relação ao número de casos e óbitos. Houve um aumento na quantidade de internações, que foi acompanhado pelo aumento do número de pessoas de fora da cidade que estão internadas aqui. Para a Vigilância Sanitária do município, não há nenhuma necessidade de retroceder qualquer flexibilização. Aqui na cidade só vamos aplicar as novas restrições do governo. Não há necessidade de fechar parque ou retroceder em atividades culturais que foram liberadas. Vai passar a valer essa redução de 12h para 10h em relação a abertura dos estabelecimentos, a ocupação de 60% para 40% e o horário de fechamento, em vez de 23hs será até 22hs. 

A decisão do governador não passa a mensagem de que houve um raciocínio eleitoral? 

Bom, aí é para o governador que você precisa fazer essa pergunta. A Prefeitura nem foi chamada ontem no Palácio (dos Bandeirantes). A gente não faz parte da lista das 60 e poucas cidades que estão em estado de atenção.

O sr prometeu para a Joice Hasselmann que vai fazer uma Lava Jato municipal. Não seria o caso de dar mais independência para a Controladoria Geral do Município? 

Não tem nada a ver com a criação de nenhuma estrutura na Prefeitura ou com alteração das estruturas que já temos, que já têm toda a independência para poder fazer investigação. Eu não controlo o que faz a CGM. Ela tem toda autonomia, Pensamos em um grupo fora da Prefeitura. 

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O prefeito de São Paulo, Bruno Covas Foto: MARCELO CHELLO / ESTADAO

O sr. já marcou com o deputado Orlando Silva (PCdoB) uma reunião sobre o projeto dele de cassar o alvará das empresas reincidentes em caso de racismo? Como será feito na cidade, por decreto ou projeto de lei? 

Ficamos de marcar após a eleição uma conversa aqui para ver de que forma enviar um projeto à Câmara Municipal para tratar do tema. Não posso cassar alvará por decreto. Vamos mandar para a Câmara discutir um projeto de lei.

O sr. vai ampliar o número de negros, mulheres e eventulamente convidar uma trans para o governo?

Me comprometi com o aumento da quantidade de mulheres e ter negros no secretariado. Essas duas questões vou cumprir. Nenhum preconceito a homem ou mulher trans. Não há decisão em relação ao tema.

Como será a divisão de espaços no governo entre os mais de 10 partidos que apoiaram o sr. na campanha? A mudança de correlação de forças na Câmara Municipal vai moldar essa divisão?

A preocupação agora é pensar na organização da Prefeitura. Depois vamos pensar nomes. Só tem sentido a participação no governo se for com nomes aprovados por mim e comprometidos com o programa de governo. 

O sr. avalia reduzir o número de secretarias?

Temos hoje 23 secretarias que pra mim é o teto. Disso não se passa. Nessa semana vamos começar a pensar em relação a reorganização. eu pedi ao Wilson Pedroso (coordenador da campanha) para me ajudar a pensar em um processo de reestruturação da Prefeitura. Vamos começar a pensar se faz sentido reagrupar secretarias, unir, fundir, separar. Depois, a gente começa a pensar em nomes. 

O que o sr. espera para 2021?

Que seja um ano melhor que 2020. A gente sabe com que estamos lidando. Já temos orçamento e planejamento. 


Nizan Guanaes Cidades são oportunidades, FSP

  EDIÇÃO IMPRESSA

Falar de política está tão tóxico que esperei passar a eleição municipal para falar da política municipal. Mais do que viverem em países e estados, as pessoas vivem em cidades. Se a gente melhorar a cidade em que a gente vive, a gente melhora a vida que a gente leva.

São Paulo e Rio, nossas grandes metrópoles, sempre atraíram e concentraram talentos nacionais. E, com eles, boa parte das riquezas. Nos EUA, o outro gigante das Américas, existe imensa mobilidade populacional, com profusão de cidades médias e pujantes espalhadas pelo seu território que concorrem por talentos, investimentos e empresas. A China também fez programa forte para desenvolver centros urbanos.

São cidades que oferecem infraestrutura eficiente, segurança, bons sistemas de saúde e boas universidades. Assim, atraem grandes corporações. Atlanta, com 500 mil habitantes, abriga as sedes de Coca-Cola, CNN, Home Depot e muitas outras. Seattle tem Amazon, Starbucks...

Isso também vem acontecendo no Brasil, puxado pela locomotiva do agronegócio, mas em ritmo lento. A grande aceleração digital e tecnológica produzida na pandemia vai ajudar nesse processo, que traz grandes oportunidades a prefeitos e gestores que fizerem a coisa certa para que suas cidades sejam o lugar certo da vida pós-pandemia.

Novas empresas, de todos os tamanhos, estão espalhando conexão digital pelo Brasil num ritmo de que mal podem dar conta. As consequências para a mobilidade das pessoas, do trabalho, da produção, do conhecimento serão enormes. E ainda tem esta: mais de um terço dos paulistanos e dos cariocas trocaria de cidade se pudesse, segundo pesquisa no Valor no fim de semana.

Se eu fosse prefeito recém-eleito, estaria olhando para tudo isso e traçando a estratégia para tornar a minha cidade o home e o office para cidadãos insatisfeitos do país todo e do mundo todo

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Minha terra natal, Salvador, é um ótimo exemplo. O prefeito ACM Neto reformou a cidade em oito anos de gestão e a colocou no caminho certo. Agora ela precisa se preparar para o home e para o office.

Uma cidade como Salvador pode se posicionar como grande destino no mundo digitalizado. Especialmente para pessoas com 50 anos ou mais, que têm experiência, conhecimento, poder aquisitivo.

E, nessa idade, em vez de começarem a pensar na aposentadoria, começam a planejar a segunda metade da vida. Querem aprender coisas novas, dar novo rumo às carreiras, mas com mais qualidade de vida. Salvador, bem organizada, pode dar tudo isso e mais. Outras cidades brasileiras, também.

Esta crise valorizou e levou o nosso olhar a enxergar coisas que não olharíamos: Salvador tem quantidade enorme de lugares abertos, verão o ano todo, uma cultura única e incrível. É uma cidade de gabarito global, que concorre com Lisboa, com Miami. Tem narrativa, tem apelo. Seu lugar no mundo está dado, mas precisa estratégia para ocupá-lo propriamente.

Está na hora de lançar um olhar transformador sobre tudo. Eu tive Covid no começo da pandemia e fiquei trancado no quarto. Ao ficar trancado no quarto, olhei para uma série de coisas a que não prestava atenção. E, ao enxergar tudo isso, estou evoluindo com essa reflexão.

As cidades precisam passar por esse processo. Os prefeitos recém-eleitos precisam liderar esse processo. As novas Câmaras Municipais, também. Mas a sociedade civil tem que puxar. E nisso a revolução tecnológica ajuda também. Estamos muito mais conectados, muito mais atentos.

Boas vindas a todos os prefeitos e prefeitas eleitos. Não espero que sejam perfeitos, mas que sejam prefeitos.

Nizan Guanaes

​Empreendedor, criador da N Ideias​.