quarta-feira, 22 de abril de 2015

Ganhador de um Pulitzer deixou o jornalismo para poder pagar aluguel


Rob Kuznia ganhou prêmio por investigação de corrupção em escola.
Há 6 meses, ele não trabalha mais no jornal por causa do salário.

Da France Presse
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Editor do Daily Breeze joga champanhe em Rob Kuznia, que deixou o jornal (Foto: Scott Varley/The Daily Breeze via AP)Editor do Daily Breeze, Michael Anastasi, joga champanhe no repórter Rob Kuznia, que deixou o jornal (Foto: Scott Varley/The Daily Breeze via AP)
Um dos jornalistas do Daily Breeze, um pequeno jornal que surpreendeu ao ser contemplado com o prestigioso prêmio Pulitzer, já não trabalha mais na profissão porque seu salário não dava para pagar o aluguel.
O Daily Breeze, um jornal de Torrance, Califórnia, tem cerca de 63 mil assinantes e 7 repórteres e foi premiado na segunda-feira (20) por uma investigação sobre a corrupção em uma escola do distrito, a Centinela Valley Union High School.
Mas há 6 meses Rob Kuznia, um dos três jornalistas premiados por esta investigação, deixou de trabalhar como repórter pelo fato de seu salário não ser suficiente para pagar o aluguel.
Segundo o site LA Observed, que divulgou este fato na segunda-feira, Kuznia deixou a publicação e passou a trabalhar como assessor de imprensa na fundação USC Shoah.
"Falamos com ele nesta tarde e ele reconheceu, com pesar, que lamentava não ser mais jornalista, mas explicou que era muito difícil chegar no final do mês com seu salário no jornal e alugando um apartamento na região de Los Angeles", escreveu o LA Observed.
O ex-repórter de 39 anos também explicou ao jornal The New York Times - que também foi premiado na segunda-feira com três Pulitzer - que antes de deixar seu posto, havia recebido um aumento. "Não que eles não ligassem. Mas simplesmente não era suficiente".
Consultado pelo jornal, assegurou que não voltaria a exercer a profissão de jornalista. O site LA Observed afirmou que o Daily Breeze havia ganhado na semana passada outro prêmio na categoria de jornalismo investigativo, o National Headliner Award for Investigative Journalism.
Da direita para esquerda, Rob Kuznia, Frank Suraci e Rebecca Kimitch, do Daily Breeze (Foto: Robert Casillas/The Daily Breeze via AP)Da direita para esquerda, Rob Kuznia, Frank Suraci e Rebecca Kimitch, do Daily Breeze (Foto: Robert Casillas/The Daily Breeze via AP)

domingo, 19 de abril de 2015

Os pobres abandonaram o PT? - SUELY CALDAS


O ESTADO DE S.PAULO - 19/04

A popularidade de Dilma Rousseff despenca e 55% dos nordestinos, que a ela deram o grande troféu da vitória em outubro, hoje consideram seu governo ruim ou péssimo e só 16% o aprovam. Os eleitores de baixa renda que a ela confiaram seu voto e esperanças hoje desconfiam e mais de 50% reprovam seu governo. Afinal, Dilma e o PT foram abandonados pelos pobres?

Quase não foi notada a presença deles nas multidões que foram às ruas protestar contra Dilma. Onde estavam? "O povão povão, quando se manifesta, em geral é sob formas menos pacíficas: invasões, saques, quebradeiras", explicou o historiador José Murilo de Carvalho, em entrevista ao Estado. A história tem mostrado isso. Os protestos de rua contra o ex-presidente Collor também foram liderados pela classe média, principalmente os estudantes caras-pintadas. Nem por isso os pobres deixaram de apoiar o impeachment, o fora Collor. O que surpreende, agora, é a repentina e meteórica perda de apoio aos governos do PT da parcela da população em que eles mais investiram politicamente e tentaram favorecer nos últimos 12 anos.

A perda de apoio foi tão repentina quanto a esperança em relação ao futuro foi se esvaindo. É verdade que nos últimos 12 anos a miséria diminuiu, a pobreza reduziu, os pobres passaram a consumir, a comprar geladeira e TV novas e até aquele carrinho usado para os passeios de domingo. Mas manter e melhorar essa nova vida, sem recuos e sem retroceder ao passado, exigiram de Lula, de Dilma e do PT o que eles não fizeram pois não souberam fazer: pensar, organizar, planejar e pavimentar o crescimento seguro e contínuo da economia. Construir progresso, sem ter de depender da sorte (Lula no primeiro mandato) ou de ações de fôlego curto (as desonerações tributárias).

Nos primeiros anos de Lula, com Antonio Palocci na Fazenda, mal ou bem havia uma agenda dirigida ao crescimento, mas ela se desfez - antes mesmo da queda do ministro, que ocorreria meses depois - no momento em que ele perdeu a disputa pelo comando da economia para a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

A partir daí o governo do PT abandonou as reformas, os planos para perseguir o crescimento e passou a viver um dia a dia medíocre, ajustando aqui e ali para ganhar popularidade fácil, agindo no ritmo do aqui e agora, vencer eleições, manter-se no poder - e nada de projeto para o futuro. A estratégia passou a ser gastar dinheiro. O gasto público explodiu, as pedaladas fiscais (tipificadas como crime pelo TCU) proliferaram, os truques e alquimias derrubaram a confiança ao chão, os investimentos pararam, a indústria definhou e as contas públicas foram pelos ares.

Diante deste quadro, não demoraram a surgir sinais de perda das conquistas sociais. Em 2014 o Ipea pesquisou e descobriu que a miséria voltara a crescer desde 2013. Mas havia uma eleição presidencial à frente, era fundamental esconder os números, só divulgá-los após o pleito. Na campanha, eleitores pobres foram iludidos com cenas na TV de um país próspero, saudável. E mais promessas que implicavam mais gastos, com um caixa já zerado e um déficit gigante a ser enfrentado.

A vitória de Dilma foi apertada porque a classe média já via um segundo mandato insustentável e votou contra o PT. Fechadas as urnas, a população pobre saiu das cenas de fantasia da campanha e caiu na real: voltou o desemprego; a tarifa de energia elétrica e a inflação em alta puniram a renda de quem não tem; o desemprego reapareceu; a corrupção na Petrobrás e fora dela levou à paralisação de várias obras públicas e desempregou milhares de trabalhadores; a recessão voltou a assombrar e o governo confessa esperar uma retração econômica de 0,9% este ano. É óbvio, as consequências mais cruéis dessa explosiva combinação - recessão e inflação alta - recaem sobre os mais pobres, a parcela da população mais vulnerável e indefesa. Até agora eles estão ausentes das ruas, mas já começaram a viver o inferno que lhes foi ocultado nas eleições. Não foram eles que abandonaram Lula, Dilma e o PT. Foram eles os abandonados.

O Brasil em um atoleiro The economist via OESP

Na edição de 26 de fevereiro de 2015 da 'Economist' para a América Latina, o 'Brasil está no atoleiro'
Na edição de 26 de fevereiro de 2015 da 'Economist' para a América Latina, o 'Brasil está no atoleiro'
Em sua campanha pela reeleição como presidente do Brasil, no ano passado, Dilma Rousseff pintou um quadro auspicioso da sétima maior economia do mundo. O pleno emprego, salários em alta e benefícios sociais eram ameaçados somente pelos perversos planos neoliberais dos seus oponentes. Dois meses depois de ela iniciar seu novo mandato, os brasileiros descobrem que foram logrados com falsas perspectivas.
A economia do Brasil está um caos, com problemas muito mais importantes do que o governo admite ou os investidores parecem registrar. A letárgica estagnação na qual o País mergulhou em 2013 vem se transformando numa recessão em grande escala e provavelmente prolongada. Os investimentos, com uma queda de 8% em relação ao ano passado, ainda poderão cair muito mais. O enorme escândalo de corrupção na Petrobrás, a gigante estatal do petróleo, envolveu várias das maiores construtoras do País e paralisou os gastos de capital em algumas áreas da economia, pelo menos até que os promotores e auditores concluam seus trabalhos. O real já perdeu 30% do seu valor em relação ao dólar desde maio de 2013, uma desvalorização necessária, mas que vai se somar à pesada carga dos US$ 40 bilhões de dívida externa de empresas brasileiras cujos prazos para resgate vencem este ano.
Escapar deste lodaçal será difícil mesmo com uma liderança política forte. Dilma Rousseff, contudo, é fraca. Ela venceu a eleição por uma margem muito estreita. Sua base política está desmoronando. De acordo com o Datafolha, seus índices de aprovação caíram de 42% em dezembro para 23% este mês. Dilma também é prejudicada pela deterioração da economia e pelo escândalo da Petrobrás, ligada a propinas de pelo menos US$ 1 bilhão pagas a políticos do Partido dos Trabalhadores e membros da sua coalizão. Durante grande parte do período a que se refere esse escândalo, Dilma Rousseff presidiu o conselho de administração da Petrobrás. Para o Brasil conseguir recuperar alguns benefícios no seu segundo mandato, Dilma precisará encaminhar o País numa direção inteiramente nova.
Levy virá em socorro?
Em grande parte, os problemas do Brasil foram provocados pelo próprio País. No seu primeiro mandato, Dilma Rousseff adotou um capitalismo estatal tropical que envolveu frouxidão fiscal, contas públicas opacas, uma política industrial que debilitou a competitividade e intromissão presidencial na política monetária. No ano passado sua campanha pela reeleição viu dobrar o déficit fiscal para 6,75% do Produto Interno Bruto (PIB).
Dilma pelo menos reconheceu que o Brasil necessita de políticas mais favoráveis às empresas se o objetivo é manter o grau de investimento e o País voltar a crescer. Essa percepção é personificada pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, economista formado em Chicago e banqueiro, além de um dos raros economistas liberais do País. Mas como no passado o Brasil não tentou resolver prontamente as distorções macroeconômicas, Levy está às voltas com a armadilha da recessão.
Para estabilizar a dívida pública bruta, ele prometeu um colossal aperto fiscal de quase 2 pontos porcentuais do PIB este ano, com abolição dos subsídios para eletricidade e o restabelecimento do imposto sobre o combustível. Ambas as medidas ajudaram a empurrar a inflação para 7,4%. Ele também pretende reduzir os empréstimos subsidiados por bancos públicos para beneficiar setores e empresas.
Teoricamente, o Brasil compensaria este aperto fiscal com uma política monetária mais frouxa. Mas, diante do histórico passado de hiperinflação do País, como também de erros mais recentes - o Banco Central cedeu ao desejo da presidente, ignorou sua meta de inflação e tolamente reduziu a taxa referencial em 2011/12 -, o espaço de manobra hoje é limitado. Com a inflação acima da meta, o Banco Central não pode reduzir sua taxa básica em relação ao seu nível atual de 12,25% sem correr o risco de nova perda de credibilidade e de corroer a confiança do investidor. Um aperto fiscal e taxas de juros altas significam mais sofrimento para famílias e empresas brasileiras e um retorno mais lento ao crescimento. 
O que torna o ajuste perigoso é a fragilidade política da própria presidente Dilma. Oficialmente, ela conquistou uma maioria legislativa confortável, embora reduzida, na eleição de outubro. Mas o PT já vem protestando contra as medidas fiscais de Levy - em parte porque a campanha não estabeleceu as bases para elas. Dilma Rousseff sofreu uma derrota esmagadora em 1.º de fevereiro na eleição para o cargo politicamente poderoso de presidente da Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha, que venceu o candidato do PT, seguirá a sua própria agenda, e não a dela. O Brasil poderá entrar num período de governo quase parlamentar, e esta não será a primeira vez.
O País enfrenta assim seu maior teste desde os anos 90. Os riscos são claros. Recessão e receitas fiscais em queda podem debilitar o ajuste preconizado por Levy. Qualquer recuo poderá levar a uma corrida ao real e um rebaixamento da nota de crédito do País, elevando os custos de financiamento para governo e empresas. E se as manifestações em massa de 2013 contra a corrupção e os medíocres serviços públicos se repetirem, Dilma pode estar condenada.
O BRASIL NA CAPA DA REVISTA 'THE ECONOMIST'
Reprodução
Na edição de 26 de fevereiro de 2015 da 'Economist' para a América Latina, o 'Brasil está no atoleiro'
Fazer da fragilidade oportunidade
Mas a fragilidade da presidente também é uma oportunidade - para Levy em particular. Ele agora é indispensável. Pode estabelecer uma ponte para Cunha, deixando claro que, se o Congresso tentar cobrar um preço no Orçamento para dar seu apoio, isso acarretará cortes de todas as áreas. A recuperação da responsabilidade fiscal precisa ser duradoura para obter a confiança das empresas e um retorno dos investimentos. Quanto mais cedo o ajuste fiscal se impuser, mais cedo o Banco Central poderá começar a reduzir as taxas de juros.
Mas é necessário mais para o Brasil voltar a registrar um crescimento rápido e sustentável. Pode ser demais esperar que Dilma Rousseff ordene uma revisão das arcaicas leis trabalhistas que ajudaram a estrangular a produtividade, mas ela deveria pelo menos tentar simplificar os impostos e reduzir a burocracia estúpida. Há sinais tímidos de que o governo vai rever sua política industrial e deve estimular mais o comércio internacional, numa economia que ainda é superprotegida.
O Brasil não é o único membro dos Brics, grupo das grandes economias emergentes, a se ver em apuros. A economia da Rússia, em particular, tem sido golpeada por guerras, sanções e dependência do petróleo. Apesar de todos os seus problemas, o Brasil não está numa enrascada tão grande como a Rússia. O País tem um setor privado diversificado e instituições democráticas robustas. Mas seus problemas são mais profundos do que muita gente se dá conta. O momento de solucioná-los é agora. 
THE ECONOMIST, TRADUZIDO POR TEREZINHA MARTINO, PUBLICADO SOB LICENÇA. O ARTIGO ORIGINAL,EM INGLÊS, PODE SER ENCONTRADO EM WWW.THEECONOMIST.COM