sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

1% da população mundial detém 50% do PIB do planeta

19 Janeiro 2015 | 07h 15
Elite já acumula riqueza equivalente a tudo o que os demais 99% das pessoas detêm
GENEBRA A
riqueza acumulada por 1% da população mundial será superior a tudo o que os demais possuem. Os dados foram
apresentados nesta segundafeira,
19, pela entidade Oxfam, às vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos e que justamente reúne
a cúpula do planeta.
Segundo a entidade, a fortuna de 99% da população mundial será equivalente a tudo o que acumula apenas a nata da sociedade, cerca de
1% do mundo.
Para a entidade, a crise econômica mundial que começou em 2008 resultou em uma "explosão da desigualdade". Hoje, uma a cada nove
pessoas ainda passa fome no planeta que produz alimentos para três planetas e mais de 1 bilhão de pessoas ganham menos de US$ 1,25
por dia.
O que chama a atenção da entidade, porém, é que a concentração de riqueza é cada vez maior. Em 2009, a parcela de 1% mais rica da
população mundial acumulava 44% do PIB do planeta. Em 2014, essa taxa chegou a 48% e, em 2016, ela atingirá 50%.
1% da população mundial detém 50% do
PIB do planeta
Em média, cada pessoa dessa elite do planeta mantém uma renda de US$ 2,7 milhões. Dos demais 52% do PIB global, quase tudo está
nas mãos da camada dos 20% mais ricos.
O restante da população do mundo cerca
de 80% precisa
dividir 5,5% da riqueza do planeta e acumula uma renda de apenas US$ 3,8
mil. O valor é 700 vezes menor que a renda da elite.
Winnie Byanyima, diretoraexecutiva
da Oxfam, espera usar o encontro de Davos para insistir que a desigualdade social precisa ser alvo
dos governos e de líderes do setor privado, alertando para os riscos que essa situação cria na política internacional.
Entre as medidas defendidas por ela está um maior rigor fiscal contra multinacionais e mesmo um acordo para o clima. "Queremos
mesmo viver em um mundo onde 1% detém mais que todos nós juntos?"questionou. "A escala da desigualdade global é assustadora e,
apesar do tema estar na agenda política, a diferença entre pobres e ricos apenas aumenta", atacou.
Segundo ela, líderes como Barack Obama e a gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, de fato estão falando cada
vez mais sobre o assunto. Mas a Oxfam alerta que pouco tem sido feito além de discursos.

Medidas emergenciais nas questões de água e clima


Secretários Estaduais de meio ambiente e de agricultura serão convidados a debater o tema
As ministras Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Kátia Abreu (Agricultura) acertaram ontem a realização em Brasília de uma reunião com secretários estaduais de meio ambiente e de agricultura, no próximo dia 5 de fevereiro, para discutir, debater e oferecer soluções aos desafios que o País impôs ao governo federal em razão dos problemas causados pelo baixo volume de chuvas que está afetando o abastecimento de água no Sudeste e no Nordeste.
- Vamos ouvir os secretários, verificar medidas que podem ser adotadas e traçar metas de trabalho”, afirmou a ministra Kátia Abreu. “Além de água e clima, nossa pauta incluirá o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e os processos de licenciamento ambiental", completou. “É importante trocar informações com os secretários estaduais, perguntar o que nós podemos fazer para ajudar na busca de soluções”, explicou a ministra Izabella.
Kátia Abreu esteve no ministério do Meio Ambiente para tratar pessoalmente com Izabella Teixeira a pauta do encontro nacional dos secretários estaduais. Logo depois, a ministra reuniu-se no MAPA com os presidentes da EMBRAPA, da CONAB, Agência Nacional de Águas (ANA) e Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e outros assessores técnicos.
Embora as previsões de safra das principais culturas brasileiras continuem nos índices de antes, e sem previsão de quebra, a ministra solicitou aos auxiliares acompanhamento rigoroso e monitoramento em todo o país das questões de água e clima. Segundo ela, essas são algumas das prioridades do produtor, do MAPA e do país.
O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, lembrou que o governo federal dispõe do Sistema de Observação e Monitoramento da Agricultura do Brasil (Soma), com levantamento feito por meio de satélite com altíssimo desempenho tecnológico. A partir deste novo equipamento, a Embrapa vai fornecer ao Mapa mais dados e mais instrumentos para a prevenção de eventuais dificuldades no setor agrícola. Para este ano, a Conab faz uma avaliação tranquila.  “Nossa previsão é da colheita de safras cheias em todos os produtos da pauta brasileira de consumo interno e de exportações”, disse o seu presidente Rubens Santos.
A ministra Kátia Abreu também decidiu agilizar todos os procedimentos necessários para ampliar o projeto de apoio ao produtor de água. Feito em conjunto com a FAO e a ANA, este programa tem o objetivo de preservar nascentes, recuperar áreas de preservação permanentes e aumentar a oferta de água. “Vamos criar incentivos ao produtor de água”, assinalou a ministra. “Está mais do que provado que a água não é um recurso infinito”.
Mais informações para a imprensa:
Assessoria de Comunicação Social do Mapa
(61) 3218-2203
imprensa@agricultura.gov.br

Um alerta de 1977 para a crise da água


POR MAURÍCIO TUFFANI
13/11/14  16:01
8,6 mil1972
Paulo Nogueira Neto, professor de ecologia da USP e ex-secretário especial do Meio Ambiente do governo federal de 1974 a 1986, em entrevista ao Canal Brasil em 2012. Imagem: Canal Brasil/Reprodução
Paulo Nogueira Neto, professor de ecologia da USP e ex-secretário especial do Meio Ambiente do governo federal de 1974 a 1986, em entrevista ao Canal Brasil em 2012. Imagem: Canal Brasil/Reprodução
“Água de São Paulo está no fim, diz Nogueira Neto” foi o título de uma reportagem da Folha há 37 anos. A matéria, na edição de 25 de maio de 1977 (Primeiro Caderno, pág. 12), noticiava o alerta de Paulo Nogueira Neto, professor de ecologia da USP e titular da Sema (Secretaria Especial do Meio Ambiente), do governo federal, que comandou de 1974 a 1986.
Nessa reportagem, o então secretário federal destacou São Paulo e Belo Horizonte como “exemplos típicos de má utilização da água doce” no Brasil. Ele afirmou que as duas cidades deveriam “cuidar urgentemente da preservação de seus recursos hídricos”, ressaltando que a situação da capital paulista era “particularmente delicada”, pois os mananciais que a abasteciam já naquela época seriam posteriormente necessários para atendimento à região metropolitana que começava a se formar em Campinas. E acrescentou:
“E, talvez, antes do final do século, São Paulo terá que se abastecer com água transportada do vale do Ribeira.”
Reportagem da Folha de 27 de maio de 1977. Imagem: Acervo Folha/Reprodução
Reportagem da Folha de 27 de maio de 1977. Imagem: Acervo Folha/Reprodução
Omissões
Passados esses 37 anos, São Paulo nunca adotou uma política para uma verdadeira utilização racional de seus recursos hídricos, não impediu nem reverteu a invasão e o adensamento populacional de áreas de proteção de mananciais e teve resultados pífios na redução do elevado nível de perdas de água no seu próprio sistema de distribuição.
Para agravar ainda mais esse quadro, o governo de São Paulo não realizou as obras do sistema de produção São Lourenço (SPSL) para a entrada em operação a partir de 2015, prevista desde a década passada. Os riscos desse atraso não só para o abastecimento da metrópole, mas também para a integridade dos sistemas Guarapiranga e Cantareira foram previstos também no estudo de impacto ambiental elaborado em 2011 para o São Lourenço.
“Caso o SPSL nem outro novo sistema produtor sejam implantados, o cenário prospectivo é de déficits crescentes no Sistema Integrado, e a permanência ou piora da regularidade de abastecimento nas zonas oeste, sudoeste e norte/noroeste da metrópole, (…) e maior stress no uso dos Sistemas Guarapiranga e Cantareira. (…) Os reservatórios tenderão a operar com menor volume de reserva e, ocorrendo condições hidrológicas desfavoráveis (não necessariamente críticas), a possibilidade de um colapso no abastecimento será maior, e o esquema de rodízio deverá ser adotado de modo generalizado na metrópole.”
Mais do mesmo
No entanto, as “condições hidrológicas desfavoráveis” começaram a ser críticas já no final de 2013. O governo federal também tem sua parcela de responsabilidade por todo esse quadro, uma vez que a ANA (Agência Nacional de Águas) poderia ter exigido de São Paulo medidas severas nas renovações da outorga do sistema Cantareira.
Ainda ontem, a recém-criada Aliança pela Proteção da Água divulgou notacriticando as medidas anunciadas pelo governo estadual, destacando os seguintes pontos.
    • O conjunto de intervenções apresentado não resolve a crise atual, é fazer mais do mesmo, ou seja, novas e caras obras que não contemplam medidas estratégicas para criar segurança hídrica.
    • Até o momento não foi apresentado um plano de contingência que demonstre como vamos chegar em abril de 2015 em situação segura para encarar o próximo período de estiagem.
    • Não foi feita qualquer menção sobre recuperar e cuidar dos mananciais existentes (restauração florestal, ampliação de parques, pagamentos por serviços ambientais)
Imediatismo
O alerta do titular da Sema em 1977 não foi o único  desde aquela época. Foram frequentes avisos de outros especialistas, principalmente de um dos maiores estudiosos dos recursos hídricos do Brasil nas últimas décadas do século passado, o geólogo Aldo da Cunha Rebouças (1937-2011), também professor da USP.
Telefonei na manhã desta quinta-feira (13) para Paulo Nogueira Neto —hoje com 92 anos e aposentado da USP—, e perguntei a ele por que o poder público costuma agir como se ignorasse alertas baseados na ciência. Ele apontou dois motivos: “imediatismo e economia malfeita de recursos”.
Apesar de tudo isso, o governo de São Paulo ainda insiste na retórica de que “garante” o abastecimento até março de 2015, minimizando o prejuízo para a integridade dos demais sistemas de produção de água, apontado também no próprio estudo de impacto ambiental do sistema São Lourenço.