quarta-feira, 15 de maio de 2013

Demorou demais


Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Depois de cinco anos, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizou ontem mais uma rodada de licitações de 289 blocos para exploração de petróleo e gás.
Desta vez, não entraram as áreas do pré-sal. O leilão teve forte participação de blocos em terra, com o objetivo de atrair pequenas e médias empresas. Despertou interesse em 64 empresas e colocou 49% das áreas, com arrecadação recorde de R$ 2,8 bilhões em bônus de assinatura e com investimentos previstos de R$ 7 bilhões.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, sugeriu que todos os brasileiros comemorassem o sucesso da empreitada, dando a impressão de que o governo federal esteve fortemente interessado em promover o aumento da produção.
Não esteve. E ainda há dúvidas de que de fato esteja. Novas licitações ficaram bloqueadas desde 2009, por duas razões: (1) porque o governo pretendia deixar tudo ou quase tudo a cargo da Petrobrás que, no entanto, não tem fôlego financeiro nem sequer para tocar os US$ 236,7 bilhões em investimentos previstos até 2017; e (2) porque setores do governo federal ainda boicotam toda iniciativa que implique aumento da participação do setor privado na exploração de petróleo e gás.
Desde 2010, a produção de petróleo no Brasil ficou estagnada na casa dos 2 milhões de barris (159 milhões de litros) por dia. Os levantamentos da ANP mostram que a área concedida para exploração e produção caiu de 333 mil km² em 2009 para 291 mil km² ao final do ano passado (veja no Confira), porque a devolução pelas concessionárias de áreas em casos de insucesso não foi compensada por novas.
Pior que tudo, as empresas de capital nacional que haviam se lançado nesse mercado não tiveram mais campo para se expandir e diversificar seus riscos geológicos. Além disso, o setor brasileiro que se dedica ao fornecimento de equipamentos e serviços não pôde se desenvolver por todo esse tempo em que o governo se omitiu. Entre o início de exploração e a produção de um campo descoberto de petróleo correm cerca de dez anos. Essa é a razão pela qual atrasos assim saem caros. O que se perdeu e o que se deixou de ganhar provavelmente não se recuperará mais.
Desta vez, a Petrobrás participou do leilão com o breque de mão puxado. Aparentemente, guarda suas hoje relativamente escassas energias para as outras duas licitações já programadas para este ano: a que prevê a exploração de gás não convencional, agendada para outubro; e o primeiro leilão do pré-sal sob novas regras, previsto para novembro. Nesse último leilão, a Petrobrás terá de atuar como operadora de todas as áreas licitadas, com um mínimo de 30% de participação.
Como já comentado nesta Coluna em edições anteriores, os Estados Unidos preparam-se para retomar sua condição de autossuficiência na produção de hidrocarbonetos. A revolução do gás de xisto, produzido a uma fração dos custos do gás convencional, aponta como a nova grande fronteira de energia barata ao redor do mundo. E, no entanto, a vacilação do governo brasileiro e a falta de clareza de sua política prejudicam todo o setor produtivo nacional, e não apenas as empresas ligadas ao setor de energia.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Filhos criados - MARTHA MEDEIROS



ZERO HORA - 12/05

Mãe é para sempre, presença necessária em qualquer etapa da vida, tanto que, nos nossos momentos mais difíceis, é nela que pensamos mesmo que ela já tenha falecido. Mãe é um consolo universal, pois sabemos que ninguém nos ama ou amou tanto quanto ela. Na hora do sufoco, entre rogar a Deus ou à nossa adorada progenitora, Deus fica de estepe e nem se atreve a reclamar.

Porém, abnegação tem limite. Mães são amorosas e dedicadas aos seus filhotes, mas, secretamente, contam os dias para vê-los bem criados, tocando suas próprias vidas profissionais e afetivas, dando a elas o descanso merecido e a certeza da missão cumprida.

Como filha, fiz minha parte: com 19 anos já trabalhava, com 24 morava sozinha, com 27 estava casada e aos 29 engravidei e comecei a formar minha própria família, enquanto minha mãe, no mesmo período, foi fazer faculdade (aos 40 anos), trabalhar, viajar, reposicionar-se na sociedade – claro que sempre por perto a fim de paparicar as netas, só que agora de um jeito desobrigado, só love, só love.

Pois as coisas mudaram bastante. Filhos saindo de casa na faixa dos 20 anos, abrindo mão de mordomia? Melhor não contar com isso.

Não faz muito tempo, na faixa dos 20, todos cumpriam os cinco marcos da vida adulta: finalizavam seus estudos, conquistavam independência financeira, casavam, tinham filhos e seu próprio endereço. Hoje, raros cumprem cedo essas metas. Entre os 20 e 30, ainda estão zonzos diante de tantas opções e preferem adiar o amadurecimento até... até que suas mães os expulsem de casa. Só que mãe não expulsa filho. E eles, óbvio, vão ficando.

Em defesa deles, há um estudo que diz que há uma área do córtex cerebral que leva realmente até 30 anos para se formar, justamente a área responsável por planejamentos e priorizações. Hum, chegou em boa hora essa desculpa científica. Porém, depois dos 30, como se explica que ainda haja adultos vivendo com os pais, sem darem um rumo certo à vida?

O fato é que os jovens andam comodistas, relutando em se jogar no mundo sem alguma garantia. Mas que garantia? Ninguém constrói a própria história sem arriscar, errar, se frustrar, tentar de novo, passar por dificuldades, erguer-se, cair, erguer-se outra vez. Como irão amadurecer sem viverem essas experiências? Enquanto eles analisam calmamente a questão, as mães veem o tempo passar e continuam servindo o almoço todos os dias para marmanjos que ainda não decidiram o que querem ser quando crescer.

Você não deve ser um desses filhos, claro. Meus leitores são autônomos, donos do próprio nariz, e visitam as mães por amor e saudade, não para pedir arrego. Mas, se por uma hipótese remota, você ainda for um kidult, como se diz lá fora (mistura de kid + adult), dê uma trégua para sua mãe ao menos nesse domingo. Leve flores, e não sua roupa para ela lavar.

O bandido e o frentista - LUIZ FELIPE PONDÉ



FOLHA DE SP - 13/05

Todos ficam preocupados com o direito dos bandidos. E os direitos de quem trabalha?


A população está entregue às traças, enquanto nos palácios, gente inteligentinha de todo tipo (com o mesmo caráter da aristocracia pré-revolucionária de Versailles) discursa sobre "direitos humanos dos bandidos", toma vinho chileno, paga escola de esquerda da zona oeste de São Paulo que custa 3 mil reais mensais e vai para Nova York brincar de culta.

A inteligência ocidental está podre, mergulhada em seus delírios de reconstrução do mundo a partir de seus três gnomos Marx, Foucault e Bourdieu.

Nós, desta casta de ungidos, desprezamos o povo comum porque pensamos que o que eles pensam é coisa de gente ignorante.

Outro dia fui abordado por um frentista num posto perto da minha casa na zona oeste (perto daquela praça destruída aos domingos pelas bikes --"bicicletas" na língua de pobre). Ele disse: "O senhor não é aquele filósofo da televisão?". E continuou: "Não pense que porque somos proletários, não entendemos o que o senhor fala na televisão".

Quem advinha do que ele queria falar? Este posto sempre foi 24 horas e agora não é mais. Por quê? Disse ele que estavam todos, do dono aos funcionários, cansados de serem assaltados toda noite. Disse ele: "O ladrão vem na sua moto, para, põe a arma na nossa cara, rouba tudo, ameaça nos matar e vai embora. Nada acontece".

E mais: "E fica todo mundo preocupado com o direito dos bandidos. Onde ficam os direitos de quem trabalha todo dia?".

Vou dizer uma blasfêmia, dirão alguns dos meus amigos da casta inteligentinha: se preocupar com direitos dos bandidos é apenas um modo chique de continuar se lixando para o "povo", assim como os coronéis nordestinos sempre se lixaram, a diferença agora é que a indiferença para com o destino das pessoas comuns vem regada a vinho chileno e leituras de Foucault.

A "elite branca letrada" é completamente indiferente para com o destino desse frentista.

Ele pede para que a polícia "acabe com os bandidos para ele poder trabalhar e a mulher e filhos dele não serem mortos". Ingênuo? Simplista? Talvez, mas nem por isso menos verdadeiro na sua demanda "por direitos".

A verdade é que estamos mergulhados num blá-blá-blá pseudocientífico das razões que levam alguém a ser bandido, seja qual for a idade, e enquanto isso esse frentista se ferra.

O que terá acontecido, que de repente a elite letrada e pública ficou tão "sensível ao sofrimento social" e tão indiferente ao sofrimento desta "pequena gente honesta"? Até escuto alguns de nós dizer: "São uns mesquinhos que só pensam nas suas vidinhas". Quem sabe alguns mais anacrônicos arriscariam: "Isso é resquício do pensamento pequeno burguês".

A verdade é que nós estamos pouco nos lixando para o que essa gente que anda de metrô, trem e quatro ônibus sofre. Todo mundo muito "alegrinho" com a PEC das empregadas domésticas, mas entre elas e os bandidos a vítima social são os bandidos.

A pergunta que não quer calar é: por que em países islâmicos, por exemplo, com alto índice de pobreza, não existe criminalidade endêmica? Será que tem a ver com medo da terrível punição corânica?

Dirão os inteligentinhos que a causa da criminalidade é social. Hoje em dia, "causa social" serve para tudo, como um dia foram os astros e noutro a vontade dos deuses.

Não nego que existam componentes sociais de fome e sofrimento na causa do comportamento criminoso, mas ninguém mais leva em conta que a maioria que vira bandido porque não quer trabalhar todo dia como esse frentista.

Ser bandido é, antes de tudo, um problema de caráter. E esse frentista, pobre também, sabe disso muito bem, só quem não sabe é minha casta de inteligentinhos.

O que dirão os inteligentinhos quando esse contingente de verdadeiras vítimas sociais do crime começarem a se organizar e matar os bandidos a sua volta? Pedirão a alguma ONG europeia para proteger os bandidos dessa gente "mesquinha" que só pensa em sua casinha, seus filhinhos e seu dinheirinho?

Acusarão essa gente humilhada e assaltada de não ter "sensibilidade social"? Dirão que soltar bandidos na rua é "justa violência revolucionária"?