sexta-feira, 20 de julho de 2012

Governo altera futuras linhas de metrô e trem


CAIO DO VALLE / JORNAL DA TARDE - O Estado de S.Paulo
Menos de um ano após divulgação da futura rede metroferroviária, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) já alterou o mapa da malha da Grande São Paulo, prevista para sair do papel até 2030. Algumas linhas sofreram mudanças no traçado. É o caso do monotrilho da Linha 2-Verde, que está em construção entre Vila Prudente e Cidade Tiradentes, na zona leste.
Agora, o Setor de Planejamento da Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos trabalha com a possibilidade de estender o ramal até a Estação Ipiranga da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), na Linha 10-Turquesa. Ainda não há prazo para que essa construção seja iniciada. O restante da obra, já em execução, deve ser entregue em 2016.
Em nota, o Metrô informou que o objetivo de arrastar a ponta da linha para oeste é "criar maior facilidade de integração com a rede". Essa, porém, não é a única alteração.
O novo mapa revela que a Linha 23, apelidada de Arco Norte, teve a sua extensão trazida mais para o sul, reduzindo-a de 22,8 km para 16,6 km. Integrado à Linha 2-Verde, esse ramal formará o chamado "metroanel", circundando a parte mais central de São Paulo. Partindo da Lapa, na zona oeste, rumo ao entorno da Via Dutra, a linha cruzará avenidas hoje distantes do metrô, como Edgar Facó, Inajar de Souza e Engenheiro Caetano Álvares, na zona norte.
No mapa da futura rede divulgado anteriormente, em setembro do ano passado, a Linha 23 tinha outra cor - prata - e numeração - 16. Apesar de no novo desenho ela aparecer rosa choque, o Metrô afirmou que ainda não há coloração oficial para o ramal, que também não tem data para ser construído.
A Linha 2-Verde também sofreu mudança. Há dez meses, o governo do Estado revelou que pretendia estendê-la da Vila Madalena até a Estação Imperatriz Leopoldina, na Linha 8-Diamante da CPTM, na zona oeste. Contudo, agora o Metrô quer levá-la até o meio do caminho, na Rua Cerro Corá. A empresa informou que sua avaliação é "que a integração com a Linha 8 da CPTM será melhor através da Linha 20, na Estação Lapa".
A Linha 4-Amarela não deverá ir mais ao Pari. As novas diretrizes podem ser vistas no mapa da rede futura publicado no edital para a elaboração do projeto da Linha 20 (ainda sem cor oficial) e do prolongamento da Linha 2 até Cerro Corá.
Alterações. José Geraldo Baião, presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos do Metrô (Aeamesp), diz que mudanças no planejamento de linhas são comuns. "É uma visão que pode ter uma diferença de um governo para outro. Só quando o governante e as condições financeiras permitem é que vão priorizando linhas projetadas."
Fatores sociais também influem. Ele cita como exemplo as linhas antigas, projetadas em 1968. "Houve alteração do traçado original para o atual."

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Sem fôlego para correr


18 de julho de 2012 | 3h 07
Rolf Kuntz - O Estado de S.Paulo
Ninguém se iluda: o Fundo Monetário Internacional (FMI) é muito menos otimista em relação ao Brasil e a outros emergentes do que parece indicar, à primeira vista, seu novo estudo sobre as perspectivas globais. O relatório destaca a desaceleração das economias brasileira, indiana e chinesa e atribui esse efeito, em parte, à crise internacional e às políticas de ajuste. Mas o recado importante vem depois. Emergentes cresceram acima da tendência histórica na última década, em parte graças à expansão do crédito e ao desenvolvimento financeiro. Mas seu crescimento potencial pode ser menor que o esperado. Nesse caso, seu desempenho será mais fraco no médio prazo. O documento ressalta, ainda, os perigos para a estabilidade financeira, num ambiente de baixo crescimento global e muita aversão ao risco. É uma herança deixada por vários anos de rápido aumento do crédito.
O alerta sobre o risco financeiro parece valer para todos os grandes emergentes, incluída a China, onde houve sinais de formação de uma bolha de crédito nos últimos anos. Mas a observação sobre o crescimento potencial parece aplicar-se principalmente ao Brasil, país com uma taxa de poupança em torno de 16% do Produto Interno Bruto (PIB), investimento inferior a 20% e baixo padrão educacional. A última novidade sobre as aventuras do país mal-educado surgiu nesta segunda-feira: 38% dos estudantes do ensino superior têm dificuldades graves de leitura e de escrita, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa. Desde 2001 as duas entidades têm produzido um Indicador de Analfabetismo Funcional.
A referência ao crescimento potencial é muito mais relevante, no caso do Brasil, do que as projeções de expansão econômica de 2,5% neste ano e 4,6% no próximo. A estimativa do FMI para 2012 é igual à do Banco Central e superior à mediana das previsões coletadas pelo próprio BC na última pesquisa Focus, 1,9%. Essas projeções caíram por 10 semanas consecutivas, até agora, e têm acompanhado a piora de vários indicadores produzidos pelo governo e por entidades do setor privado.
O governo promete resultados melhores neste semestre e um crescimento superior a 4% em 2013. Mas qual será o desempenho econômico possível nos anos seguintes? A resposta depende do alcance da política econômica, por enquanto voltada principalmente para objetivos limitados.
A Fundação Getúlio Vargas divulgou em fevereiro, na revista Conjuntura Econômica, um artigo sobre o produto potencial da economia brasileira. O cálculo pode ser complicado e inseguro, mas ninguém pode simplesmente menosprezar o problema. Nenhuma política voluntarista será sustentável por muito tempo, nem isenta de custos muito altos. Isso é comprovado amplamente pela experiência brasileira. Mais cedo ou mais tarde - frequentemente mais cedo - acaba-se batendo num limite. A consequência pode ser inflação ou crise no balanço de pagamentos ou uma combinação devastadora dos dois efeitos.
A análise resumida no artigo da Conjuntura Econômica indicou um crescimento potencial na faixa de 3,5% a 4% ao ano. Pode-se avançar com maior velocidade durante algum tempo, mas algum desajuste logo tornará necessária uma freada. Em anos recentes, períodos de rápida expansão foram interrompidos por fortes pressões inflacionárias e pela ação corretiva do BC. Fases de intenso crescimento da demanda interna resultaram também na deterioração do saldo comercial. As compras de produtos estrangeiros tendem a crescer em fase de prosperidade econômica, mas, no caso brasileiro, o descompasso entre importações e exportações tem sido muito sensível. Isso ocorreu antes da crise de 2008 e voltou a ocorrer nos últimos dois anos.
Desta vez, a causa principal do descompasso ficou mais evidente: a indústria brasileira tem sido incapaz de competir tanto no exterior quanto no mercado interno. A valorização do dólar, mais de 20% desde o último trimestre do ano passado, foi insuficiente para mudar o quadro. O problema ultrapassa amplamente a questão cambial. Também vai muito além das carências de produtividade, qualidade e inovação das empresas. As principais ineficiências estão fora dos muros das fábricas e das cercas das fazendas. Se esse é o quadro, é um erro insistir numa terapia de estímulos ao consumo e benefícios fiscais de alcance limitado.
Crescimento potencial e capacidade competitiva são denominações do mesmo problema. Além dos economistas do FMI, muitos outros analistas já perceberam os entraves da economia brasileira. Daí o falatório, recorrente nos últimos tempos, sobre a redução das expectativas, no exterior, em relação ao B dos Brics. Mas isso é conversa de quem ainda se preocupa com o PIB. A presidente Dilma Rousseff parece haver superado essa fase.
* JORNALISTA

Licitação fracassa e deixa mais longe fim do Minhocão


Tiago Dantas - O Estado de S.Paulo
Discutida desde 1993, a demolição do Elevado Costa e Silva, o Minhocão, ficou ainda mais distante. A gestão Gilberto Kassab (PSD) esperava que a Operação Urbana Lapa-Brás, apresentada em maio de 2010, provocasse a retirada do viaduto. A licitação que escolheria uma empresa para desenvolver o projeto, porém, fracassou. O único consórcio que se interessou pela empreitada foi desclassificado no fim do mês passado.
3,4 km de polêmicas: Kassab lançou proposta em 2010 - Helvio Romero/AE
Helvio Romero/AE
3,4 km de polêmicas: Kassab lançou proposta em 2010
O grupo formado pela multinacional CNEC-WorleyParsons e a americana Aecom, responsável por projetar as intervenções do Projeto Nova Luz, que prevê a reurbanização da cracolândia, no centro, não atingiu a pontuação mínima exigida em uma das fases do certame. Arquitetos e urbanistas acreditam que não há tempo para nova licitação ser feita até o fim do ano. A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano diz que avalia como viabilizar os estudos necessários para fazer, por conta própria, o projeto da Lapa-Brás. "A demolição do elevado é uma das diretrizes da operação. A decisão final sobre essa intervenção específica está atrelada ao desenvolvimento de um projeto urbanístico para a área", informou, em nota.
Quem mora ou trabalha na Avenida General Olímpio da Silveira, na Água Branca, zona oeste, acha difícil que a estrutura de 3,4 km desapareça da paisagem. "São Paulo tem de ter mais ruas, não menos. Onde vão colocar todos esses carros? O elevado é útil ao trânsito", argumenta o taxista Oswaldo de Lima Carvalho, de 41 anos. "A gente se acostumou com o elevado na porta de casa. É muito bom poder dar uma corrida aqui à noite ou andar de bicicleta aos domingos. Mas isso não quer dizer que estamos contentes com o Minhocão aqui, porque durante a semana toda é um inferno", diz a professora de música Iara Bressanin, de 35, que vive há dez perto da Estação Marechal Deodoro.
Moradores reclamam que o trânsito faz barulho e suja as casas. Também dizem que a estrutura atrai moradores de rua e usuários de droga que querem se abrigar de frio e chuva.
Polêmica. Embora possa melhorar a qualidade de vida da população, a demolição do Minhocão não deve ser considerada "crucial", na opinião do urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Polis. "Há uma tendência internacional de se desconstruir estruturas como essa." Segundo ele, criar jardim suspenso no elevado seria solução interessante.
Já para o arquiteto Valter Caldana, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, o fim do Minhocão é "imprescindível". "O elevado impõe um limite à qualidade de vida. Há uma área de 700 metros dos dois lados do viaduto que é afetada." Caldana defende que a demolição não precisa estar ligada à operação urbana. Mas a proposta da Prefeitura é que, por meio da operação, a linha férrea seja enterrada entre Barra Funda e Brás, o que abriria espaço a uma nova ligação leste-oeste. Dessa forma, o Minhocão poderia ser demolido.