sexta-feira, 13 de abril de 2012

Metrô de SP terá um engenheiro no comando


Valor Econômico - São Paulo/SP - EMPRESAS - 13/04/2012 - 01:10:36


Fábio Pupo | De São Paulo 


O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), convidou o engenheiro Peter Walker para ser o novo presidente da Companhia do Metropolitano de São Paulo, o Metrô. Walker está hoje na Secretaria dos Transportes Metropolitanos e vai ocupar o lugar de Sérgio Avelleda - que renunciou ao cargo para presidir a Contrail, empresa de logística por ferrovias.
Segundo o Valor apurou, Walker deve aceitar o convite e terá como desafio administrar a estatal que opera a maior parte das linhas da capital paulista, que transportam em média 4,4 milhões de pessoas por dia.
Com prejuízo de R$ 24,6 milhões no último ano, o Metrô constrói atualmente quatro linhas simultaneamente (prolongamento em monotrilho da linha 2-Verde, da Vila Prudente à Cidade Tiradentes; linha 17-Ouro em monotrilho que liga o aeroporto de Congonhas ao Morumbi; a ampliação da 5-Lilás, do Largo 13 à Chácara Klabin; e a segunda fase da Linha 4-Amarela, com mais cinco estações).
Uma das obras em andamento foi investigada pelo Ministério Público, que pediu afastamento do antigo presidente da companhia em 2011, em meio à investigação sobre um possível conluio de empreiteiras na concorrência - embora a contratação das empresas sob suspeita tenha sido feita antes de Avelleda assumir o cargo.
O executivo renunciou no começo deste mês, depois de um ano e quatro meses à frente da estatal. Nesta semana, ele assumiu a presidência da Contrail, companhia da Estação da Luz Participações criada pelo empresário Guilherme Quintella.
O novo presidente do Metrô é engenheiro eletricista, pela Escola de Engenharia Mauá. Logo depois de formado, virou executivo na iniciativa privada. Em 1993, entrou na vida pública tornando-se presidente da Sanasa, empresa de saneamento de Campinas. Foi diretor de assuntos corporativos da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) de 2003 a 2005. Naquele mesmo ano, virou secretário adjunto da Secretaria dos Transportes Metropolitanos de São Paulo.
Mesmo com o prejuízo, o Metrô fechou 2011 com R$ 900 milhões em caixa e projeta investimentos de mais de R$ 15 bilhões até 2014. No ano passado, a receita operacional líquida cresceu 13% ante 2010, para R$ 1,49 bilhão. O economista José Kalil Neto ocupa interinamente a presidência da companhia.

do blog e-band  ( por falar em monotrilho)

O governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) vem a Hortolândia amanhã (13) para participar da inauguração da primeira fábrica de monotrilhos do Brasil, da empresa Bombardier.
Segundo a assessoria de imprensa, a inauguração marca o início da produção dos 54 trens (378 carros) que irão compor a frota do sistema de monotrilho em construção pelo Metrô. De maior capacidade do mundo, o modal é capaz de transportar até 48 mil passageiros por hora e por sentido. Atualmente em obras, o prolongamento da Linha 2-Verde do Metrô de São Paulo fará a ligação entre as estações Vila Prudente e Hospital Cidade Tiradentes, no extremo leste da cidade.
Ainda na cidade, o tucano fará o lançamento das obras de ampliação do Sistema de Coleta de Esgotos do município, anunciará a conclusão da ampliação do Sistema de Abastecimento de Água e fará o descerramento da placa de inauguração da Escola Estadual de Ensino Médio Integral “Jardim Amanda”.
O governador vai ainda   Santo Antonio de Posse, quando fará a inauguração da Estação de Tratamento de Esgoto e descerramento da placa de entrega da marginal de acesso na SP-340 (Rodovia Governador Adhemar de Barros).

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Enigmas?


Roberto DaMatta - O Estado de S.Paulo
Demóstenes perdeu o pai aos 7 anos. Sua herança foi roubada por tutores. Abriu um processo, os ladrões recorreram, ele perdeu. Menino, Demóstenes assistiu a um julgamento no qual um orador brilhante mudou a opinião pública. Demóstenes invejou sua glória e ficou impressionado com o poder da palavra. Pensou, então, em ser um grande orador, mas o sonho parecia impossível, pois, como o rei George VI da vida e da fita, era gago. Corajoso, Demóstenes foi à luta. Curou a gaguez declamando poemas diante do mar, contra o vento; forçando-se a falar (como fazem alguns políticos) com pedras na boca. Graças a esse extenuante treinamento, Demóstenes foi o maior orador da Grécia.
Como um democrata, dedicou sua vida à defesa de uma Atenas ameaçada por Filipe II, da Macedônia, pai do não menos hollywoodiano Alexandre, o Grande. Demóstenes escreveu inúmeros discursos e alguns roteiros com o objetivo de conclamar os atenienses, mas Filipe II venceu.
No ano 335 a.C., Demóstenes foi condenado por facilitar a fuga de um ministro de Alexandre de Atenas. Recebeu uma boa grana, mas como não estava em Brasília, foi preso mas conseguiu fugir, exilando-se em Atenas por um longo período. Na Grécia antiga, os oradores não tinham imunidade.
Após a morte de Alexandre, Demóstenes volta do exílio e retoma a vida pública. Alia-se imediatamente à revolta contra o ditador macedônio Antípatro, mas perde. Exila-se no templo de Poseidon, faz algumas palestras a peso de ouro para alguns mercadores, mas vendo-se cercado pelos soldados do inimigo, Demóstenes termina com a própria vida tomando veneno.
Em 322 antes de Cristo, os políticos se suicidavam quando cometiam malfeitos. No Brasil, apenas Vargas perpetrou o gesto extremo de um suicídio de honra. Neste mundo cada vez mais ambíguo no qual tentamos viver, essa sensibilidade com a moral coletiva só tem ocorrido no Japão, que os políticos e os financistas de Wall Street dizem ser um país exótico...
* * * *
John Winthorp (1588-1649) chegou à América com a intenção de construir uma comunidade utópica - uma nova Jerusalém numa "nova" Inglaterra. Aprendi isso com o Robert Bellah do livro Habits of the Heart (Hábitos do Coração). Nele, há uma recapitulação desse messianismo fundado em princípios mais do que em santos e pessoas, como é o caso ibérico e brasileiro.
John Winthrop foi o primeiro governador eleito da Colônia da Baía de Massachusetts. Seu objetivo não era enriquecer, mas criar uma comunidade na qual a prosperidade sinalizasse aprovação divina e, por isso, o seu exemplo como homem público merece ser relembrado nestes tempos de Brasil que se torna uma sociedade de massa, mas que ainda tem uma vida pública entupida de leis, mas carente de ética.
Durante os seus 12 mandatos como governador, Winthrop foi exemplar e inovador. Moderação e um bom senso extraordinário caracterizam sua administração. Conta-se que durante um inverno particularmente longo e rigoroso a lenha de Winthrop era roubada por um vizinho pobre. O governador mandou chamá-lo e declarou que, devido à severidade do inverno e de suas necessidades, ele tinha permissão para apanhar toda a lenha que precisasse durante aquela temporada. Com isso, dizia Winthrop a seus amigos, ele havia curado o homem do roubo.
* * * * *
Alguns dos nossos políticos têm dupla personalidade, mas como eu tentei mostrar em Carnavais, Malandros e Heróis, o Brasil tem uma duplicidade de raiz. Ele é feito de leis universais (válidas para todos) mas, tal como o barqueiro napolitano de Max Weber, nós não podemos cobrar dos parentes, cobramos menos dos amigos, cobramos demasiado dos desconhecidos, e cobramos estupidamente (com a devida comissão para pessoas e partido) quando o passageiro é o governo. Dois pesos e medidas levados ao extremo acabam em despotismo (os nossos fazem apenas "malfeitos" e são blindados); destitui de ética a impessoalidade do que é público. Até hoje não admitimos que um "homem público" simplesmente não tenha "vida privada" porque ele não é gerente de coisas sem dono; é - isso sim - um administrador do que pertence à sua coletividade. É falsa essa apropriação do público pelo privado, porque os eleitos não são donos de coisa nenhuma; são simplesmente responsáveis pelo que é de todos. O problema é que vemos como anomalia um traço de um Brasil que até hoje não quer saber se é um país de família, um clube de compadres e amigos - ou um sistema de instituições públicas. O governador Winthrop não leu Hirschman, mas soube domar a paixão do roubo, transformando-a em interesse. Aceitou a necessidade e, regulando o furto, tornou o oculto em algo aberto, domesticável e virtuoso. Nós preferimos legislar negativamente e assim transformamos costumes em crime.
É impossível deter as Cachoeiras de desejos, sobretudo quando são proibidos por lei, mas aceitos placidamente pelos costumes da terra, como a amizade e a malandragem. Essas coisas que viciam, como disse um deputado mineiro que construiu um castelo feudal. E, mais que isso, a certeza de que o governo tem muito mais do que pode administrar. Principalmente quando se sabe que aquilo que é de todos (ainda) não é de ninguém. Como prender bandidos num país onde mentir em causa própria é um princípio constitutivo do sistema legal?

Alvo errado


CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Em sua viagem aos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff insistiu em que o governo dos Estados Unidos passasse a praticar políticas monetárias responsáveis e parasse de tomar decisões unilaterais que prejudicam o resto do mundo, especialmente os vizinhos mais próximos.
A crítica vem sendo repetida há alguns meses. Dilma se queixa de que os países de economia avançada, sobretudo os Estados Unidos e os da área do euro, emitem moeda aos trilhões e que parte dessa dinheirama provoca tsunamis monetários nos países emergentes, entre os quais o Brasil. Ou seja, a acusação é de que a enorme liquidez internacional causada por essas grandes emissões provoca afluxo de moeda estrangeira nos emergentes, o que, por sua vez, leva, pela lei da oferta e da procura de moeda, à baixa da cotação do dólar (valorização da moeda nacional) - fator que tira competitividade do setor produtivo brasileiro.
Há nessa atitude da presidente Dilma pelo menos três equívocos. O primeiro consiste em dirigir essas críticas a alvos errados: os governos dos países ricos. A política monetária (emissão de moeda) é de responsabilidade dos bancos centrais, não dos governos.
Não se pode exigir que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ou a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, respondam pelo efeito denunciado por Dilma. Seria como cobrar do governo americano sentenças eventualmente equivocadas pronunciadas pelo Judiciário dos Estados Unidos sobre imigração ou outros assuntos que direta ou indiretamente atingissem brasileiros.
Isto é, ainda que a influência dos chefes de governo seja forte, os bancos centrais são tão autônomos quanto o Poder Judiciário nas mais importantes democracias. Se alguém ou uma instituição deve ser responsabilizada, mais apropriado seria cobrar isso dos bancos centrais.
Em segundo lugar, não dá para exigir coordenação global de políticas monetárias. Presidentes dos grandes bancos centrais mal conseguem apagar os incêndios que tomaram suas economias. Não podem cuidar dos efeitos colaterais que extravasam para outros paralelos do mapa-múndi.
O próprio presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, já deu sua resposta técnica ao ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, que vinha se queixando, com outros argumentos (a tal guerra cambial), do mesmo efeito denunciado pela presidente Dilma. Bernanke avisou que a política monetária expansionista do Fed tem como objetivo neutralizar a crise e que, do ponto de vista do interesse dos emergentes, é melhor enfrentar um afluxo de capitais num mercado global com crise controlada do que enfrentar uma crise global mesmo sem afluxo de capitais.
A tentativa de levar queixas desse tipo ao Grupo dos 20 (G-20), cujos chefes de governo se reúnem novamente nos dias 18 e 19 de junho, no México, tem pouca probabilidade de ser acolhida.
Isso sugere que tanto a teoria do tsunami monetário como a da guerra cambial parecem usadas mais como justificativas para políticas tomadas internamente do que como molas propulsoras de mudanças na administração das grandes economias.