terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cérebro de pipoca

08/7/2011 - 08h12



por Gilberto Dimenstein*
O Google anunciou, na semana passada, um projeto para enfrentar o Facebook, disposto a reinventar a mídia social. A notícia teve óbvio impacto mundial e despertou a curiosidade sobre mais uma rodada de inovações tecnológicas, capazes de nos fazer ainda mais conectados.
13 300x136 Cérebro de pipocaNo dia seguinte, porém, o Facebook reagiu e anunciou para esta semana uma novidade também de grande impacto, possivelmente em celulares. Para alguns psicólogos americanos, esse tipo de disputa produz um efeito colateral, um distúrbio já batizado de “cérebro de pipoca”.
Esse distúrbio é provocado pelo movimento caótico e constante de informações, exigindo que se executem simultaneamente várias tarefas. Por causa de alterações químicas cerebrais, a vítima passa a ter dificuldade de se concentrar em apenas um assunto e de lidar com coisas simples do cotidiano, como ler um livro, conversar com alguém sem interrupção ou dirigir sem falar ao celular. É como se as pessoas tivessem dentro da cabeça a agitação do milho explodindo no óleo quente.
A falta de foco gera entre os portadores do tal “cérebro de pipoca” um novo tipo de analfabetismo: o analfabetismo emocional, ou seja, a dificuldade de ler as emoções no rosto, na postura ou na voz dos indivíduos, o que torna complicado o relacionamento interpessoal.
Sou um tanto desconfiado de notícias alarmantes provocadas pelo surgimento de novas tecnologias. Toda ruptura desencadeia uma onda de nostalgia e de temores em relação ao futuro.
Mas algumas pesquisas em torno do “cérebro de pipoca” merecem atenção por afetar o processo de aprendizagem. Uma delas foi realizada em Stanford, a universidade que, por ajudar a criar o Vale do Silício, na Califórnia, impulsionou a tecnologia da informação.
Neste ano, Clifford Nass, professor de psicologia social na Universidade Stanford, apresentou, num seminário sobre tecnologia da informação, a pesquisa que fez com jovens que passam muitas horas por dia na internet, acostumados a tocar muitas tarefas ao mesmo tempo.
Ele mostrou fotos com diversas expressões e pediu que os jovens identificassem as emoções. Constatou a dificuldade dos entrevistados. “Relacionamento é algo que se aprende lendo as emoções dos outros”, afirma Nass.
O problema, segundo ele, está tanto na falta de contato cara a cara com as pessoas como na dificuldade de manter o foco e verificar o que é relevante, percebendo sutilezas, o que exige atenção.
Os pesquisadores estão detectando há tempos uma série de distorções, como a compulsão para se manter conectado, semelhante a um vício.
Trata-se de uma inquietude permanente, provocada pela sensação de que o outro, naquele momento, está fazendo algo mais interessante do que aquilo que se está fazendo. Tome o Facebook ou qualquer outra rede social.
Chegaram a desenvolver um programa que envia para o celular da pessoa um aviso sempre que um amigo dela está se aproximando de onde ela está.
O estímulo, porém, começa no mercado de trabalho. Vemos nos anúncios de emprego uma demanda por pessoas que façam muitas coisas ao mesmo tempo.
Mas o que Nass, o professor de Stanford, entre outros pesquisadores, defende é o contrário. Quem faz muitas tarefas ao mesmo tempo, condicionando seu cérebro, fica menos funcional. Não sabe perceber as emoções e trabalhar em equipe, não sabe focar o que é relevante e tem dificuldade de estabelecer um projeto que exige um mínimo de linearidade. Não sabe, em suma, diferenciar o valor das informações.
Não deixa de ser um pouco absurdo valorizar tanto os recursos tecnológicos que aproximam as pessoas virtualmente, mas que as afastam na vida real.
Daí se entende, em parte, segundo os pesquisadores, por que, em todo o mundo, está explodindo o consumo de remédios de tarja preta para tratar males como a ansiedade e a hiperatividade.
PS – Perto da minha casa, aqui em Cambridge, há uma padaria artesanal, com mesas comunitárias, que decidiu ir contra a corrente. Seus proprietários simplesmente proibiram que se usasse celular lá dentro para diminuir a poluição sonora e a agitação. Sucesso total. O efeito colateral: ficou difícil conseguir lugar.
* Gilberto Dimenstein é colunista e membro do Conselho Editorial da Folha de S.Paulo, comentarista da rádio CBN, e fundador da Associação Cidade Escola Aprendiz.
** Publicado originalmente no Portal Aprendiz.

De novos ricos a novos pobres

01/8/2011 - 09h50



por Mario Queiroz, da IPS
7 De novos ricos a novos pobresLisboa, Portugal, 1/8/2011 – “A crise é só para alguns”. Esta é a frase mais ouvida e lida em Portugal após os ajustes impostos em maio pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para conceder um resgate financeiro de US$ 112 bilhões. De fato, enquanto os vendedores de automóveis esportivos de luxo se queixam de não poderem atender aos pedidos no prazo desejado pelos clientes, o Banco de Alimentação contra a Fome (BAF) enfrenta problema semelhante, por não poder realizar integralmente seu trabalho.
Até 2009, os usuários exclusivos do BAF eram as famílias mais pobres. Atualmente, no entanto, recebe pessoas da classe média que, rompendo a barreira da vergonha, pedem alimentos e apoios médico e espiritual. A organização Defesa do Consumidor (Deco) recebe diariamente pedidos de ajuda feito por pessoas incapacitadas de cumprirem suas obrigações junto a bancos e demais entidades financeiras que, somente em junho, retomaram por falta de pagamento as casas de aproximadamente três mil famílias.
A economia de Portugal, que nos últimos 25 anos conseguiu abandonar a sina de país periférico e apresentava um futuro promissor, caiu no fundo do poço da crise em 2009, com o inevitável aparecimento de milhares de novos pobres, antes membros da classe média, principal vítima dos aumentos de impostos, das reduções salariais e dos prêmios em dinheiro, bem como demissões de um dia para outro.
Desde sua entrada na UE, em 1986, Portugal registrou um claro avanço. Porém, todos os economistas hoje concordam que este êxito foi mais virtual do que real. O crédito fácil sustentado nos rios de dinheiro proveniente do bloco se refletiu na proliferação dos telefones celulares, canais de TV a cabo, rodovias, automóveis e casas adquiridas a prazo.
O consumo desenfreado sacrificou o desenvolvimento agrícola e industrial, para dar lugar a um vasto setor dos chamados “novos ricos”, orgulhosos do país com mais autopistas por quilômetro quadrado e os maiores centros comerciais da Europa, modernos estádios de futebol e ciclovias, entre outras melhorias idílicas.
Contudo, esta aparente riqueza era uma miragem. Não tinha relação alguma com a realidade econômica de Portugal, afirmam os analistas. Após três décadas vivendo muito acima de suas possibilidades, chegou a hora de pagar a conta do consumo desmedido e da falta de visão das classes política e empresarial sobre o desenvolvimento real do país.
A crise assumiu tal magnitude que o crédito oferecido até 2009 quase automaticamente, sem avaliação de risco, agora é negado sistematicamente às mesmas pessoas, pequenas empresas e minifúndios que, como denúncia a Deco, foram vítimas diante das incessantes campanhas dos bancos para convencer seus clientes a se endividarem sem limites.
As consequências não demoraram. Com os créditos cortados, centenas de empresas se declararam em bancarrota, arruinando os pequenos proprietários e jogando no desemprego milhares de trabalhadores. Portugal apresenta hoje indicadores negativos, com desemprego de 12,4% da população economicamente ativa, a mais alta dos últimos 30 anos, e inflação de 3,4% ao ano, a maior em duas décadas.
Ao mesmo tempo, paradoxalmente, a fortuna dos 25 portugueses mais ricos cresceu este ano 17,8%, chegando a US$ 25 bilhões, equivalentes a 10% do produto interno bruto deste país de 10,6 milhões de habitantes, dos quais 25% estão abaixo da linha de pobreza pelos padrões da União Europeia. Estes dados, segundo a escala do indicador norte-americano Misery Index, colocam Portugal em quinto lugar no mundo como país mais afetado pela deterioração de seu bem-estar econômico, atrás apenas de Egito, Nova Zelândia, Irlanda e Ucrânia.
No primeiro trimestre deste ano, 3.104 empresas declararam insolvência, segundo foi divulgado no dia 29 pela sede portuguesa da Companhia Francesa de Seguro para Comércio Exterior (Coface). O governo do primeiro-ministro socialista José Sócrates (2005-junho de 2011) impôs medidas drásticas para conter o alto déficit, redobradas agora por seu sucessor, o conservador Pedro Passos Coelho, que dessa forma responde com um brutal pacote de austeridade. A isto se soma a eliminação dos estímulos fiscais para aumento da demanda, o que pressupõe que será o setor privado que deverá fornecê-los.
“Esta é uma teoria econômica simples, uma visão monetarista, de deixar que o dinheiro vá para quem sabe usar, ou seja, empresários e bancos”, disse à IPS o professor de economia Mario Gomes, da Universidade de Lisboa. A direita agora no poder “começou em curto tempo a mostrar suas intenções profundas: eliminar radicalmente parte do Estado Social, baixar os salários e desarmar as empresas estatais vitais que dão estabilidade à economia”, acrescentou.
Um modelo semelhante ao colocado em prática na Grã-Bretanha por Margaret Thatcher (1979-1990), baseado nas teorias da escola de Chicago de Milton Friedman, perguntou Gomes, respondendo que se trata de “um projeto ultraliberal, equivalente ao conjunto de reformas que algumas ditaduras sul-americanas fizeram nos anos 1970 e 1980, mas aqui de forma gradual”.
Portugal, que após quase dez anos de crescimento econômico muito baixo entrou em recessão este ano, e assim estará até 2012, segundo as projeções, “esgotou o ciclo de desenvolvimento que começou com a integração europeia, em 1986, e que estendeu o comércio externo aproveitando o diferencial dos salários”, afirmou o catedrático.
Com os fundos da UE, “Portugal modernizou e ampliou a infraestrutura, conseguiu resolver o problema da moradia e viu dobrar o setor turístico”, disse Gomes. “Porém, apesar de ter contado com recursos importantes para modernizar o setor produtivo, sacrificou a indústria, a agricultura e a pesca, em um processo de desindustrialização”, acrescentou.
As análises da maioria dos economistas coincidem. Afirmam que não basta economizar nos gastos do Estado para encontrar soluções para a deterioração econômica do país, que precisa urgentemente encontrar formas de expansão industrial, desenvolvimento dos serviços e racionalização da agricultura. As duas poderosas centrais sindicais anunciam protestos e greves, enquanto os movimentos autônomos asseguram que não darão descanso ao governo de Passos Coelho.
O jovem ativista João Martins, do movimento Geração em Apertos, recordou à IPS que os “indignados” espanhóis tiveram sua origem “com nossa organização, que nasceu espontaneamente em Portugal dois meses antes deles na Espanha”. Este movimento conseguiu reunir, no dia 12 de março, milhares de jovens por meio das redes sociais e dos telefones celulares, aos quais rapidamente uniram-se mães, país, avós e avôs.
Em poucas horas, fizeram com que cerca de 300 mil pessoas ocupassem o centro de Lisboa, Porto e outras seis cidades do país com o lema “a rua é nossa”. Martins prevê que “a crueldade, a cegueira e a insensibilidade das medidas tomadas por este governo, inevitavelmente provocarão um novo 12 de março e a rua voltará a ser nossa”. Envolverde/IPS
(IPS)

    A nova política industrial


    Coluna Econômica - 02/08/2011
    Primeira observação sobre a nova política industrial, a ser anunciada hoje pela presidente Dilma Rousseff: não há medida administrativa, fiscal ou financeira com o alcance da política cambial.
    Quando uma moeda está muito valorizada (caso do real) toda a economia local fica mais cara em relação a países com moeda menos valorizada. No caso brasileiro, a extraordinária apreciação do real ocorre em um momento em que a China investe em praticamente toda a cadeia de manufaturados, dos produtos de baixa complexidade aos de alta tecnologia. A ameaça chinesa não é apenas para os produtos brasileiros de exportação, mas também para inúmeros setores que produzem para o mercado interno.
    ***
    O câmbio impacta o preço final do produto. No preço entram insumos, salários, custo do capital, logística, tributação etc. Se o preço é 100, 15% de apreciação joga o preço para 115 – na lata. Uma desoneração fiscal pega apenas a parte do preço referente aos tributos, por exemplo. Portanto, as compensações sempre serão parciais.
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    Dito isso, algumas observações sobre o setor de manufaturados de exportação.
    Trata-se do setor com maior impacto sobre a economia como um todo. De um lado porque, brigando no mercado internacional, as empresas são muito mais suscetíveis de investir em inovação, de acompanhar as mudanças tecnológicas e de mercado, de demandar serviços e melhorar nível do emprego.
    Em qualquer país, é o setor de ponta na modernização da economia e na melhoria do perfil de emprego.
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    O pacote industrial a ser anunciado contempla expressamente os setores exportadores de manufaturados.
    Criará estímulos fiscais, creditícios e gerenciais.
    No plano fiscal, haverá a desoneração dos impostos e a agilização na devolução do ICMS cobrado ao longo da cadeia de produção. Para setores mais intensivos em mão-de-obra, pretende-se a desoneração da folha de salários. Aliviará o setor e servirá de piloto para futuras mudanças no financiamento da Previdência.
    Aparentemente haverá um impacto fiscal relevante, já que ocorreram impasses entre os ministérios "desenvolvimentistas" - MDIC do Ministro Fernando Pimentel e MCT do Ministro Aloizio Mercadante - com o Ministério fiscalista - a Fazenda, de Guido Mantega.
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    Em princípio, uma reforma tributária racional deveria se basear nos seguintes princípios.
    Hoje em dia, a folha banca não apenas os benefícios da Previdência Urbana como de um sem-número de incentivos fiscais, como aposentadoria rural, isenção a clubes esportivos e entidades beneficentes.
    No modelo atual, todos os setores intensivos em mão-de-obra pagam a conta, em benefício dos setores maiores, mais fortes e mais dinâmicos - intensivos em capital.
    Ainda não se sabe como o pacote compensará a queda de arrecadação, com a desoneração dos setores exportadores intensivos em mão-de-obra.
    O pacote ainda deverá conter estímulos à aquisição de conteúdo nacional e inovação em projetos incentivados.
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    Ainda não se sabe como protegerá empresas de dezenas de setores ameaçados pelos produtos importados.
    IPC-S termina julho com deflação de -0,04%
    O IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor Semanal) referente a última semana de julho apresentou uma variação de -0,04%, ante -0,11% no período anterior, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com isso, o indicador acumula alta de 3,75% no ano. As principais contribuições para o acréscimo da taxa partiram dos grupos Alimentação (de -0,88% para -0,67%) e Transportes (de 0,14% para 0,33%), seguidos por Vestuário (de 0,38% para0,42%) e Despesas Diversas (de 0,02% para 0,06%).
    Mercado mantém IPCA estável
    Os agentes do mercado financeiro mantiveram os prognósticos para o fechamento da taxa oficial de inflação em 2011, segundo o relatório Focus, elaborado semanalmente pelo Banco Central. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) estimado para este ano permaneceu em 6,31% pela terceira semana consecutiva, pouco abaixo do teto previsto pelas autoridades. Para 2012, os números foram ajustados pela segunda semana, de 5,28% para 5,30%.
    Superávit comercial atinge US$ 3,135 bilhões em julho
    O superávit comercial apurado durante o mês de julho apresentou um superávit de US$ 3,135 bilhões (média diária de US$ 149,3 milhões), segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). As exportações no período somaram US$ 22,252 bilhões (média diária de US$ 1,059 bilhão), enquanto as importações ficaram em US$ 19,117 bilhões (média diária de US$ 910,3 milhões). No ano, o saldo comercial foi positivo em US$ 16,101 bilhões (média diária de US$ 111 milhões).
    Mercado eleva projeção para PIB em 2011
    A expectativa dos analistas para o ritmo de crescimento da economia em 2011 apresentou um leve crescimento: segundo o relatório Focus, do Banco Central, a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) ao fim deste ano subiu de 3,94% para 3,96%, enquanto os números de 2012 foram mantidos em 4% pela segunda semana. A projeção para o crescimento da produção industrial caiu 3,24% para 3,21%, e a estimativa para o superávit comercial foi alterada de US$ 20,90 bilhões para US$ 21 bilhões.
    Metade das empresas exportadoras perdeu mercado em 2010
    Praticamente metade das empresas que atuam com exportação no Brasil reduziu sua participação no mercado em 2010, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ao longo do período, 48% das companhias sofreram redução no mercado externo e deixaram de exportar em 2010. Nas pequenas empresas, tal índice chegou a 55%. A pesquisa apontou ainda redução das vendas externas no faturamento das companhias exportadoras.
    Para 2011, setor não espera grandes mudanças
    Quanto aos dados para o próximo ano, a indústria não aguarda grande mudança na participação das exportações em seu faturamento. De acordo com a CNI, 47% das empresas que pretendem exportar prevêem que a situação se mantenha estável. Para 29%, a expectativa é de aumento, enquanto que para 24% a participação das exportações no faturamento deve cair. Apesar disso, 66,3% das empresas que exportaram em junho pretendem investir para negociar no mercado internacional.