Celso Ming - O Estado de S.Paulo
À medida que a crise global vai refluindo fica mais difícil encontrar utilidade para esses encontros do Grupo dos 20 (G-20). Não há acordo sobre nada. Será que para sair alguma coisa daí é preciso que tudo volte a piorar?
A ideia de reunir os maiorais do mundo para discutir os grandes problemas surgiu em 1975, quando Valery Giscard D"Estaing era presidente da França. A globalização já tinha avançado e os governos dos Estados nacionais já não conseguiam dar conta deles. Foi então que os dirigentes de Estados Unidos, Canadá, Japão, Inglaterra, Alemanha, França e Itália passaram a se encontrar em caráter informal no que passou a ser chamado de Grupo dos Sete (G-7), para avaliar em conjunto os problemas e coordenar políticas.
A partir de 1997, foi incorporada a Rússia, já transformada pela Perestroika e pela queda do Muro de Berlim, e, assim, o G-7 virou G-8. A partir de 1999, os próprios senhores do mundo sentiram a necessidade de incorporar os emergentes, porque não poderiam definir políticas conjuntas sem o compromisso de China, Índia, Brasil e Argentina.
Em novembro de 2010, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, passou a exercer a presidência rotativa do G-20. E é prerrogativa do presidente apresentar a pauta das discussões. Sarkozy sempre se mostrou impressionado com o que chamou de grandes desequilíbrios globais e com a necessidade de redesenhar o sistema financeiro mundial. Segunda-feira, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, sintetizou em entrevista as preocupações do seu governo: "A China poupa e exporta, a Europa consome, os Estados Unidos tomam dinheiro emprestado e consomem. Por acaso é este um modelo equilibrado?"
As propostas de Sarkozy pretenderam provocar uma revolução. Sugeriu a reforma do Sistema Monetário Internacional para que outras moedas, e não apenas o dólar, passassem à condição de reserva internacional de valor. Quis o nivelamento dos saldos em conta corrente dos principais países. Falou insistentemente em intervenção nos mercados internacionais de commodities para controlar o mercado de alimentos de modo a impedir disparadas de preços, como as de agora.
Desde logo se viu que não há consenso nem sequer em torno da identificação dos desequilíbrios globais e dos indicadores para medi-los. Despejo excessivo de moeda no mundo é uma fonte de desequilíbrios? Sim, claro que é. Mas os Estados Unidos não admitem que estejam emitindo moeda demais. Argumentam que assim agem para recolocar a locomotiva global em movimento e que os demais vagões terão tudo a ganhar quando isso acontecer.
Montanhas de reservas externas são, sim, um sinal de que há enormes superávits de um lado e gigantescos déficits de outro. Mas Japão, China e Brasil avisam que não tem cabimento limitar o volume de reservas, medida que seria outro jeito de exigir revalorização da própria moeda.
Os preços dos alimentos disparam e produzem distorções? Sim, mas Estados Unidos, Brasil e Argentina argumentam que não faz sentido controlar o mercado internacional de alimentos. E o que acabará sobrando será a proposta de dar mais transparência aos mercados internacionais de commodities, sem que se saiba o que fazer depois com essa transparência.
Enfim, o G-20, como fórum global para identificação de problemas e coordenação de políticas, vai fracassando.
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A escalada de preços atinge todas as matérias-primas e não apenas os alimentos. É o que mostra um dos mais respeitados indicadores de preços de commodities, o CRB.
Na contramão
O representante do Brasil e candidato ao cargo de diretor geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, defendeu ontem a proposta da França a favor da regulação do mercado de commodities alimentares. E, nessa defesa, assumiu posição contrária à do governo brasileiro.