QUARTA, 16 FEVEREIRO 2011 . AGÊNCIA ESTADO | |
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou ontem que o mercado brasileiro de combustíveis cresceu 8,4% em 2010 sobre o ano anterior. Os destaques do ano, segundo o diretor da ANP, Alan Kardec, foram o crescimento do consumo de diesel (11,2%) e do querosene de aviação (QAV), de 15,3%. Também cresceu acima da média o consumo de gasolina de aviação (11,3%). O consumo de combustíveis no Brasil foi de 117,9 bilhões de litros no ano passado. O consumo de gasolina C (com acréscimo de etanol) atingiu 29,8 bilhões de litros, aumento de 17,5% sobre 2009. Já o consumo de álcool hidratado caiu 8,5% no mesmo período. Considerando que nos três primeiros meses de 2010 o porcentual de álcool adicionado à gasolina era maior (25% ante 20% nos outros meses do ano), a ANP detectou aumento maior no consumo de gasolina A em 2010 sobre 2009, de 19,4%. Já o álcool anidro (que é adicionado à gasolina) teve crescimento de 11,6% puxado pelas vendas da gasolina. Se considerado anidro e hidratado, o combustível derivado da cana teve queda de 2,9%. Ainda segundo a ANP, o consumo de gás liquefeito de petróleo (GLP) cresceu 3,7%, para 12,558 bilhões de litros, e o de óleo combustível caiu 2%, para 4,9 bilhões de litros, por conta da sua substituição por gás natural em térmicas e indústrias. O consumo de biodiesel cresceu 58,8%, para 2,425 bilhões de litros. Em contrapartida, o consumo de GNV caiu 4,8%. O diretor da ANP afirmou que a expectativa da agência é de que o consumo de combustíveis cresça em torno de 7% em 2011 em relação ao ano passado. — O ritmo deve ser alto no consumo de diesel e isso deve puxar o consumo geral deste ano para a casa próxima a 7% sobre 2010 — avaliou. |
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Consumo de combustíveis no país cresce 8,4% em 2010
Cientistas da USP produzem biodiesel da borra de café
QUINTA, 17 FEVEREIRO 2011 . AGÊNCIA USP - INOVAÇÃO TECNOLÓGICA | |
Cientistas da USP demonstraram que é possível usar a borra de café - o que resta do café em pó depois que ele é coado - para a produção de biodiesel. O processo consiste em extrair um óleo essencial da borra de café. Este óleo mostrou ser uma matéria-prima viável para a produção do biodiesel. A produção do biocombustível a partir do resíduo foi testada pela química Denise Moreira dos Santos, em escala laboratorial. O estudo concluiu que a técnica é adequada para a produção do biodiesel em pequenas comunidades, para o abastecimento de tratores e máquinas agrícolas, por exemplo. "No Brasil, há um grande consumo de café, calculado em 2 a 3 xícaras diárias por habitante, por isso a produção de resíduo é intensa em bares, restaurantes, casas comerciais e residências Óleo essencial "O óleo essencial, responsável pelo aroma do café, já é utilizado em química fina, mas sua extração diretamente de grãos de alta qualidade é muito cara", conta a professora. A borra do café também contém óleos essenciais, que podem contaminar o solo quando o resíduo é descartado no meio ambiente. O processo de obtenção do biodiesel é o mesmo adotado com outras matérias-primas. "O óleo essencial é extraído da borra de café por meio da utilização de etanol como solvente," conta Denise. "Após a extração, o óleo é posto em contato com um catalisador alcalino, que realiza uma reação de tranesterificação com a qual se obtém o biodiesel." As características dos ácidos graxos do óleo essencial do café são semelhantes aos da soja, embora estejam presentes em menor quantidade. A partir de um quilo de borra de café é possível extrair até 100 mililitros de óleo, o que geraria cerca de 12 mililitros de biodiesel. "No Brasil são consumidas aproximadamente 18 milhões de sacas de 60 quilos de café, num total de 1,08 milhões de toneladas, o que irá gerar uma quantidade considerável de resíduos," aponta a professora. Pesquisa e educação "Todo o experimento para obtenção de biodiesel foi realizado em escala laboratorial", explica Denise, que é professora do curso técnico de Química do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETPS), em São Paulo. "O objetivo da pesquisa é mostrar aos alunos que é possível aproveitar um resíduo que é descartado no ambiente para a produção de energia". Segundo a professora, a implantação do processo de produção do biocombustível em escala industrial dependeria de um trabalho de conscientização da população para não jogar fora a borra de café, que seria recolhida para extração do óleo. "Sua utilização é indicada para pequenas comunidades agrícolas, que produziriam seu próprio biodiesel para movimentar máquinas", sugere. Denise lembra que em algumas fazendas de café, a borra é armazenada no refrigerador para ser usada como fertilizante. "Entretanto, seu uso frequente pode fazer com que os óleos essenciais contaminem o solo", alerta. "O aproveitamento desse resíduo para gerar energia pode não ser uma solução mundial, mas está ao alcance de pequenas localidades". |
Comida ou biocombustível
QUINTA, 17 FEVEREIRO 2011 . CELSO MING - O ESTADO DE S.PAULO | |
A escalada dos preços da comida está aumentando a fervura política. O Banco Mundial já avisou que a escassez de alimentos empurrou 44 milhões de pessoas para abaixo da linha de pobreza. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na condição de presidente rotativo do Grupo dos 20 (G-20) países mais ricos do mundo, quer intervenção para garantir a segurança alimentar. Por enquanto, Sarkozy e os críticos ainda vêm pondo força no diagnóstico errado, o de que a disparada dos preços está sendo provocada preponderantemente pela ação dos especuladores financeiros. Mas à medida que esse argumento vai sendo rebatido - até mesmo pelo governo brasileiro - duas consequências parecem inevitáveis. A primeira delas é a maior flexibilização para desenvolvimento e produção de culturas geneticamente modificadas (transgênicas), que ainda hoje encontram fortes resistências na Europa e também aqui no Brasil. A outra é o crescimento das pressões para proibir o desvio de grãos e de outros alimentos para a produção de biocombustíveis. Os Estados Unidos, por exemplo, canalizam mais de 100 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol, o suficiente para alimentar 240 milhões de pessoas, nos cálculos do professor Kenneth Cassmann, da Universidade de Nebraska, citado em outra matéria do New York Times. A própria União Europeia usa óleos vegetais (especialmente de canola e girassol) para a produção de biodiesel. E o Brasil também tem lá seus fortes programas de etanol e biodiesel. No ano passado cerca de 335 milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram usadas para a produção de etanol e mais não foram porque os próprios usineiros puxaram mais matéria-prima para suas fábricas de açúcar, cujos preços saltaram 72% no mercado internacional. Também por aqui 1,9 milhão de toneladas de óleo de soja deixaram de ser utilizadas na alimentação e foram empregadas na produção de 2,5 bilhões de litros de biodiesel. Por enquanto, o Brasil vem defendendo a produção de biocombustíveis a partir de matéria-prima alimentar com o argumento de que há espaço para os dois segmentos. Mas à medida que crescer a escassez de alimentos, maiores serão as pressões e mais vulnerável ficará o governo brasileiro. O crescimento da procura de proteína tanto vegetal como animal parece inexorável à medida que cresce a população dos países emergentes que ascendem à condição de consumidores. Desapareceram as montanhas de trigo e de manteiga nos países ricos que caracterizaram os anos de pós-guerra. Esta é uma extraordinária oportunidade para o Brasil. No entanto, um após o outro, os governos brasileiros renunciaram a ter uma política agrícola. A produção vai crescendo, sim, mas na base da inércia, estimulada apenas pelo que Deus manda, enfrentando custos predatórios e uma infraestrutura precária e desestimuladora. |
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