segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Há mais petróleo, mas não se sabe quanto

ALBERTO TAMER - O Estado de S.Paulo
Notícias promissoras no pré-sal surgem quase todos os dias. Poços revelam maior potencial, novas reservas são descobertas, mais investimentos chegam do exterior, cresce a produção, que bate recordes. É uma série de informações isoladas que revelam um cenário petrolífero que jamais teria sido imaginado há alguns anos.
Atendendo à sugestão de leitores, muitos dos quais empresários, estudantes de economia, finanças e até mesmo de geologia, a coluna resume dados oficiais ou não, que revelam estarmos apenas no início de um processo que levará o Brasil, em dois ou três anos, à autossuficiência no abastecimento do petróleo e derivados, com a entrada em operação de novas refinarias.
São dados que a coluna promete ir atualizando à medida em que forem confirmados e permanece à disposição dos leitores para mais informações.
Pré-sal e pós sal. Com a produção do primeiro sistema definitivo, que começou no fim de 2010 com 15 mi barris por dia, a produção do pré-sal chegou a 65 mil barris diários, considerando a fase de testes de longa duração. Esse primeiro sistema vai atingir 100 mil barris por dia até o fim do ano.
Pelas descobertas feitas até hoje, as reservas recuperáveis em barris equivalentes de petróleo e gás, nessa área, estão estimadas em 16 bilhões de barris, o que significa dobrar as reservas atuais da Petrobrás. É o começo porque, da área total do pré-sal, de 149 mil km², apenas 28% estão sob concessão em fase de exploração. Pode-se projetar o que espera em termos de descobertas quando forem prospectados os 107 mil km² que ainda não estão sendo explorados. Provavelmente, serão muito mais de 50 bilhões de barris.
Autossuficiência parcial. Ela de fato não existe. O Brasil já é autossuficiente na extração de petróleo, produz 2 milhões de barris por dia e consome 1,9 milhão. Mesmo assim, hoje ainda precisa importar alguns derivados, como diesel, GLP e nafta química que as refinarias existentes no país não destilam. Foram construídas para refinar petróleo leve que só agora se descobriu na Bacia de Santos.
A autossuficiência deverá vir nos próximos dois anos, quando duas refinarias, uma no Rio de Janeiro (Comperj) e outra em Pernambuco (Abreu e Lima) começarão a produzir aqueles derivados que o País importa hoje.
Mais consumo e produção. Nas análises de mercado, que constam do Plano de Negócios, a Petrobrás prevê que o consumo interno de derivados deverá aumentar em torno de 5% ao ano. Isso significa uma demanda de 2.354.000 barris por dia em 2014 e 2.794.000 em 2020. Se for mantido o atual comportamento do mercado, que vai depender das taxas de crescimento do PIB, esse consumo será atendido pela produção da Petrobrás de 2.980.000 barris por dia em 2014. É importante assinalar que, desse total, 241 mil barris por dia virão da exploração inicial do pré-sal.
Dependendo de ajustes técnicos, condições do mercado petrolífero internacional e da evolução da produção interna - que pode surpreender positivamente -, o Brasil poderá aumentar as suas exportações de petróleo ao mesmo tempo em que reduz a de derivados.
Será um resultado altamente positivo, principalmente porque está sendo conquistado em apenas 5 anos. Isso tem levado o presidente da empresa, Sergio Gabrielli, a dizer que a Petrobrás está fazendo em 5 anos o que não pode fazer em 56 de existência em produção e reservas. Isso decorre de uma nova estratégia dos investimentos.
O que mudou? Tudo. Absolutamente tudo, com destaque especial aos investimentos. Uma quase revolução. Vejamos.
Em 1997, quando se quebrou o monopólio, a empresa investiu R$ 4 bilhões. Em 2010, foram quase R$ 90 bilhões e, até 2014, serão mais de R$ 400 bilhões. Em 2010, nada menos que R$ 244 bilhões. Mais da metade dos investimentos por parte desses novos investimentos está se concentrando em exploração e produção. Como resultado, houve o aumento da produção e foram descobertas novas reservas que compensam o aumento do consumo sem onerá-las. É uma situação especial no cenário petrolífero mundial, no qual a maioria das grandes empresas privadas ou de capital aberto vem sofrendo queda de produção e reservas.
Tributos, R$ 600 bilhões. O desenvolvimento do setor nos últimos anos, após o período de mercado aberto, elevou em 100% o pagamento de tributos da estatal para a União. Proporcionou um aumento superior a 100% no pagamento de tributos, entre 1998 e 2010. Excluindo os encargos sociais, foram arrecadados pela União, Estados e municípios, nesse período, cerca de R$ 600 bilhões. Soma-se a este valor a distribuição de royalties sobre a produção aos Estados e municípios, que superou os R$ 100 bilhões, desde 1998. Vai ser mais, muito mais, quando o pré-sal aumentar sua produção.
Desafios? Os tecnológicos estão sendo bem enfrentados de forma a reduzir os custos e riscos ambientais. Os financeiros, também. Se existe um desafio é o de persistir nessa linha, que o novo governo já aprovou. Antes de só pensar, como no passado, em vender derivados porque dá lucro e não apresenta risco, é investir em pesquisa, tecnologia e produção. É o que está dando certo. É só fazer mais porque ninguém sabe quanto há de petróleo ainda por descobrir nas costa do Brasil. Um segredo que só se desvenda investindo intensamente. A Petrobrás e as empresas privadas já estão fazendo isso, com sucesso. Mas é só o começo. 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Consumo de combustíveis no país cresce 8,4% em 2010



QUARTA, 16 FEVEREIRO 2011 . AGÊNCIA ESTADO   
A Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou ontem que o mercado brasileiro de combustíveis cresceu 8,4% em 2010 sobre o ano anterior. Os destaques do ano, segundo o diretor da ANP, Alan Kardec, foram o crescimento do consumo de diesel (11,2%) e do querosene de aviação (QAV), de 15,3%. Também cresceu acima da média o consumo de gasolina de aviação (11,3%).

O consumo de combustíveis no Brasil foi de 117,9 bilhões de litros no ano passado. O consumo de gasolina C (com acréscimo de etanol) atingiu 29,8 bilhões de litros, aumento de 17,5% sobre 2009. Já o consumo de álcool hidratado caiu 8,5% no mesmo período.

Considerando que nos três primeiros meses de 2010 o porcentual de álcool adicionado à gasolina era maior (25% ante 20% nos outros meses do ano), a ANP detectou aumento maior no consumo de gasolina A em 2010 sobre 2009, de 19,4%. Já o álcool anidro (que é adicionado à gasolina) teve crescimento de 11,6% puxado pelas vendas da gasolina. Se considerado anidro e hidratado, o combustível derivado da cana teve queda de 2,9%.

Ainda segundo a ANP, o consumo de gás liquefeito de petróleo (GLP) cresceu 3,7%, para 12,558 bilhões de litros, e o de óleo combustível caiu 2%, para 4,9 bilhões de litros, por conta da sua substituição por gás natural em térmicas e indústrias. O consumo de biodiesel cresceu 58,8%, para 2,425 bilhões de litros. Em contrapartida, o consumo de GNV caiu 4,8%.

O diretor da ANP afirmou que a expectativa da agência é de que o consumo de combustíveis cresça em torno de 7% em 2011 em relação ao ano passado.

— O ritmo deve ser alto no consumo de diesel e isso deve puxar o consumo geral deste ano para a casa próxima a 7% sobre 2010 — avaliou. 

Cientistas da USP produzem biodiesel da borra de café



QUINTA, 17 FEVEREIRO 2011 . AGÊNCIA USP - INOVAÇÃO TECNOLÓGICA   
Cientistas da USP demonstraram que é possível usar a borra de café - o que resta do café em pó depois que ele é coado - para a produção de biodiesel.

O processo consiste em extrair um óleo essencial da borra de café. Este óleo mostrou ser uma matéria-prima viável para a produção do biodiesel.

A produção do biocombustível a partir do resíduo foi testada pela química Denise Moreira dos Santos, em escala laboratorial.

O estudo concluiu que a técnica é adequada para a produção do biodiesel em pequenas comunidades, para o abastecimento de tratores e máquinas agrícolas, por exemplo.

"No Brasil, há um grande consumo de café, calculado em 2 a 3 xícaras diárias por habitante, por isso a produção de resíduo é intensa em bares, restaurantes, casas comerciais e residências

Óleo essencial
"O óleo essencial, responsável pelo aroma do café, já é utilizado em química fina, mas sua extração diretamente de grãos de alta qualidade é muito cara", conta a professora.

A borra do café também contém óleos essenciais, que podem contaminar o solo quando o resíduo é descartado no meio ambiente.

O processo de obtenção do biodiesel é o mesmo adotado com outras matérias-primas.

"O óleo essencial é extraído da borra de café por meio da utilização de etanol como solvente," conta Denise. "Após a extração, o óleo é posto em contato com um catalisador alcalino, que realiza uma reação de tranesterificação com a qual se obtém o biodiesel."

As características dos ácidos graxos do óleo essencial do café são semelhantes aos da soja, embora estejam presentes em menor quantidade.

A partir de um quilo de borra de café é possível extrair até 100 mililitros de óleo, o que geraria cerca de 12 mililitros de biodiesel.

"No Brasil são consumidas aproximadamente 18 milhões de sacas de 60 quilos de café, num total de 1,08 milhões de toneladas, o que irá gerar uma quantidade considerável de resíduos," aponta a professora.

Pesquisa e educação
"Todo o experimento para obtenção de biodiesel foi realizado em escala laboratorial", explica Denise, que é professora do curso técnico de Química do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETPS), em São Paulo. "O objetivo da pesquisa é mostrar aos alunos que é possível aproveitar um resíduo que é descartado no ambiente para a produção de energia".

Segundo a professora, a implantação do processo de produção do biocombustível em escala industrial dependeria de um trabalho de conscientização da população para não jogar fora a borra de café, que seria recolhida para extração do óleo.

"Sua utilização é indicada para pequenas comunidades agrícolas, que produziriam seu próprio biodiesel para movimentar máquinas", sugere.

Denise lembra que em algumas fazendas de café, a borra é armazenada no refrigerador para ser usada como fertilizante. "Entretanto, seu uso frequente pode fazer com que os óleos essenciais contaminem o solo", alerta. "O aproveitamento desse resíduo para gerar energia pode não ser uma solução mundial, mas está ao alcance de pequenas localidades".