sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

no meio de tudo, um pouco de poesia

Porque Eu Sei Que É Amor

Titãs

Composição: Sérgio Britto e Paulo Miklos
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
E eu peço somente
O que eu puder dar
Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta
Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo
Porque eu sei que é amor

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Habituado pela mente


20 de janeiro de 2011 | 0h 00 


Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Imagine como seria a vida se você não fosse capaz de se acostumar. O décimo bombom seria tão saboroso quanto o primeiro. O calor sentido ao entrar em um local abafado continuaria a incomodar após horas de exposição. Isso só não ocorre porque nosso cérebro tem uma capacidade enorme de se acostumar. Os cientistas chamam esse processo de habituação.
Quando recebemos um estímulo de maneira repetitiva em um período curto, a resposta que ele provoca diminui: nos acostumamos. O processo de habituação ameniza sentimentos tão distintos quanto o prazer de ingerir alimentos ou a revolta com o baixo reajuste do nosso salário.
Até hoje se acreditava que a habituação dependia de o cérebro receber estímulos diretamente dos sentidos, sejam receptores gustativos ativados ao ingerirmos um bombom ou o sistema visual ao ver impresso o valor do salário. A novidade é que experimentos demonstraram que é possível obter a habituação sem que o cérebro receba estímulo dos sentidos. Basta que imaginemos diversas vezes o estímulo para que o cérebro diminua sua resposta.
O experimento foi feito com cerca de 50 voluntários e usando os doces M&Ms. Um grupo foi instruído a imaginar por 30 vezes o ato de retirar o doce de um frasco, colocar na boca, mastigar e engolir. Outro foi instruído a imaginar 27 vezes o ato de retirar uma moeda de um frasco e colocá-la em um caça-níquel e em seguida imaginar por 3 vezes que retirava uma bala de um frasco, colocava na boca, mastigava e engolia. O terceiro foi instruído a imaginar 30 vezes que retirava uma moeda de um frasco e a colocava em um caça-níquel.
Balança. Após os exercícios, todos eram postos frente a um pote de M&Ms e informados de que deveriam aguardar até serem chamados. Não era informado se deviam ou não comê-los. Os cientistas queriam saber quantos doces as pessoas de cada grupo comeriam. Isso era determinado quando os voluntários deixavam a sala e a quantidade de M&Ms consumida era determinada com uma balança. Os resultados mostram que os voluntários que imaginaram 30 vezes que estavam comendo M&Ms ingeriam em média 2,21 gramas, enquanto as que imaginaram que manipulavam moedas 30 vezes ou 27 vezes comeram 4,1 gramas. Isso mostra que imaginar que você come M&Ms é suficiente para provocar a habituação, ou seja, diminuir a vontade de ingeri-los.
O experimento foi repetido pedindo a outros voluntários que imaginassem estar trocando os M&Ms de um pote para outro sem levá-los à boca. Nesse caso, quando colocados na frente dos doces, todos (manipuladores de moedas ou doces) ingeriram por volta de 4 gramas.
Em um terceiro experimento, as pessoas eram estimuladas a se imaginar colocando M&Ms no caça-níquel e a ingerir queijo. Quando colocadas em frente ao queijo e aos M&Ms, a habituação ocorria somente em relação ao queijo. Diversas combinações foram testadas e em todos os casos a habituação só ocorria quando a pessoa imaginava o ato de comer.
O fenômeno de habituação, obtido com o ato de imaginar o consumo de alimentos diversas vezes, é o oposto do que ocorre quando se pede para a pessoa imaginar um alimento saboroso (poucas vezes e sem imaginar a ingestão). Nesse caso, ocorre o que os cientistas chamam de sensitização, um fenômeno que leva a um aumento no consumo dos alimentos. É o que ocorre quando observamos a foto de um alimento delicioso: nossa vontade de comer aumenta a ponto de salivarmos. A sensitização explica o sucesso das propagandas.
A descoberta de que a habituação pode ser induzida pela imaginação sugere novas estratégias para reduzir o apetite e permitir a perda de peso. Antes do jantar, vá à cozinha, veja o que vai ser servido, volte para a sala, imagine 30 vezes o ato de ingerir os alimentos, e só depois se sente para comer. O mais interessante é que a descoberta talvez ajude a explicar porque imaginar de maneira repetitiva um determinado comportamento pode reduzir nossa resposta quando nos defrontamos com ele.

BIÓLOGO
MAIS INFORMAÇÕES: THOUGHT FOR FOOD: IMAGINED CONSUMPTION REDUCES ACTUAL CONSUMPTION. SCIENCE, VOL. 330 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Em redor do Amor


19 de janeiro de 2011 | 0h 0

Roberto Damatta - O Estado de S.Paulo
Faz tempo. Depois num baile, um rapazinho tímido e elegante foi agraciado com uma promessa maravilhosa. A mocinha que ele amava com um amor de fazer doer o coração perguntou depois de um longo e delicioso beijo: o que você quer de mim? "Queria que você gostasse de mim para sempre!", disse o moço encostando a perna no muro cúmplice do apoio que precisava para outros abraços. Selaram o juramento com um segundo e um terceiro beijo. Uma estrela cadente confirmou a eternidade da promessa.
Naqueles tempos antigos, a gente não dizia que amava. A gente dizia que gostava. O amor era uma palavra muito forte e tão removida das coisas do mundo diário que requeria controle e dava vergonha. Escrevíamos sobre o amor, mas usávamos o gostar nas nossas declarações. O amor era para os deuses, para as igrejas cheirando a vela e incenso e para as telas dos cinemas. O gostar era para aqueles rostos deliciosamente humanos, vermelhinhos de tesão e vergonha. Nas telas chatas dos cinemas, eles falavam um trivial "I love you"; nós falávamos tremendo: "Eu gosto muito de você!" Uma outra coisa: só víamos o rosto das nossas namoradas. Quando sentíamos seus corpos, era um atrapalho. A pressão dos seios, o arredondado das coxas e o sentimento do monte que margeava o vale e a fonte que desconhecíamos eram intrusos a serem imediatamente agasalhados nos abraços reveladores do maravilhoso desejo de se confundir com o outro.
É possível um amor eterno? Um amor infinito? Um gostar com perenidade inabalável pelo tempo cujo papel é desmascarar a nossa transitoriedade e a nossa finitude? Quantas vezes me fiz essa pergunta e quantas vezes eu me achei abençoado pelo amor? Um lado meu que, como dizia Shakespeare, eu não sei se é o lado que pergunta ou o que pretende ter uma resposta, diz: o amor eterno dribla a nossa mortalidade. Somos enterrados, mas o amor triunfa nos seus impulsos que tocaram os que conhecemos. Neles fica essa memória do amor que trás de volta um encontro precioso da alma com o corpo (jamais contra ele), tornando essa convivência uma bênção porque, finalmente, eles não estão mais em guerra ou negociação. No amor, um precisa do outro e um se realiza por meio do outro.
O que esperamos do amor e no amor? No amor físico há uma etiqueta e por isso ele seria, digamos, cordial na sua grata selvageria e milagrosa avidez. Todos experimentamos, como indicam os melhores pesquisadores dessa área - os grandes poetas e cantores -, uma coercitiva curiosidade própria do amor erótico. Esse amor que se prova a si mesmo na medida em que se vai realizando. Daí o sentimento que ele é, simultaneamente, céu e terra; fogo e água; pele e coração; suspiro e estertor. No amor eterno, que nada pede porque simplesmente deseja ter tudo, não há limite nem etiqueta. O outro é tudo e nele estamos perdidos com a intensidade do desejo que uma criança tem por um sorvete ou um político, por um cargo. Como regular um amor que sempre leva a perda e a resignação porque não pode se concretizar em rotinas? Pois a prova do amor não é o clímax, mas o dia a dia que transforma o beijo sequioso no beijinho suave com o qual o marido e a esposa dizem "boa noite" um para o outro. Esses beijinhos dados na porta do supermercado ou na hora de ir para o trabalho são o fim ou são a prova de um elo amoroso?
No recalque do amor pelos códigos morais e religiosos, há uma disputa entre o amor incondicional devido ao Criador, ao Partido ou ao Mantenedor da Vida, e o amor pronto a ser vivido na carne. Esse amor personificado em uma criatura. Dir-se-ia que a segunda forma é uma deformação da primeira, mas pode-se perfeitamente inverter o argumento. O amor a Deus é um substituto do amor sensual que estamos sempre dispostos a sentir, mas que passa muito depressa. A teoria de um amor eterno (ausente em muitas sociedades, diga-se logo) compensa essa velocidade dos encontros com o ser amado, sempre fugazes e muito breves porque o corpo limita e aprofunda aquilo que a mente estende aos céus e às estrelas.
Fly me to the moon - canta o poeta.
Leve-me para a lua e deixe-me "tocar" entre as estrelas.
Eis, na simplicidade enganadora da música popular, a fórmula que meus pais e tios usavam, quando falavam da visita a um dantesco "sétimo céu". Essa subida aos céus usando o próprio corpo e não a alma ou uma nave espacial sem morrer e, muito pelo contrário, sentindo o coração pulsar com intensidade inusitada, compete com os deveres coletivos, sobretudo com as tarefas mais duras que os cotidianos requerem. Amar ou cortar lenha? Beijar na boca ou estudar? Escrever ou sentir o corpo do outro junto ao nosso? Que relação pode haver entre prazer e dever, senão o do conflito, do recalque e do combate?
Uma última pergunta: por que raios estou eu a escrever estas mal traçadas, quando todo mundo fala de política e de economia, dizendo sempre o mesmo do mesmo? Não sei. Só sei que essas questões fazem de mim um "homem humano", como dizia Setembrini, aquele habitante de uma certa montanha mágica inventada por Thomas Mann.