quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Julgamento no TSE pode antecipar transplante de cabeças do PT, FSP

Ameaça de veto a Lula na TV pode forçar aceleração de troca por Haddad

movimento da Justiça Eleitoral para acelerar a definição de limites à candidatura de Lula aproxima o PT de um beco sem saída. A ameaça de veto à participação do petista na propaganda de TV pode obrigar o partido a encarar a campanha de frente e antecipar o lançamento de Fernando Haddad.
O TSE quer julgar nesta sexta (31) se Lula tem direito a aparecer no horário eleitoral. A procuradora Raquel Dodge argumenta que o ex-presidente está inelegível e, portanto, deve ser impedido de usar um espaço financiado com dinheiro público. Para decidir a questão, a corte pode ser forçada a se debruçar sobre a validade da candidatura em si.
O PT sempre previu que o ex-presidente seria barrado. O partido arquitetou um encadeamento de recursos jurídicos para garantir ao menos sobrevida a esse projeto. Os atos finais seriam a estreia de Lula na televisão como candidato e a cena em que ele passaria o bastão a Haddad.
O risco de interdição do palanque eletrônico afeta os planos de transição. Se o TSE decidir que Lula não pode aparecer como candidato na TV, os caminhos do PT se estreitam: ou o partido boicota a propaganda, ou admite a candidatura de Haddad.
Nos dois casos, o movimento apressado dos tribunais se tornará peça de marketing para o partido. Os petistas darão ainda mais força ao discurso de que há uma conspiração, armada fora das regras tradicionais, para tirar Lula do jogo.
Há certo exagero nesse ponto. O ideal é que a Justiça defina logo quem pode concorrer para que o eleitor possa tomar sua decisão. De todo modo, o timing dos tribunais continua a transpirar casuísmo.
Embora permaneça escorado na narrativa de perseguição ao ex-presidente, o PT pode ser obrigado a enfrentar as implicações práticas do transplante de cabeças de sua chapa.
A sigla queria esticar a indefinição até 17 de setembro —limite para substituições na urna eletrônica. Caso a troca seja antecipada, Haddad entraria nos holofotes sem a rede de proteção da candidatura de Lula.

Antes os candidatos ofereceriam esperança, pelo menos de mentirinha, FSP

O pesquisador se aproxima do cidadão e lê o questionário: “Se as eleições fossem hoje e os candidatos fossem estes, para qual país o sr. gostaria de se mudar?”. A charge, um viral da internet criado a partir de desenho do gaúcho Kayser, é antiga. A piada está atualizadíssima.
Caso pudessem, 70 milhões dos 208 milhões de brasileiros iriam embora do país, como mostrou pesquisa recente do Datafolha. Entre os jovens, a proporção é de 2 a cada 3.
Os que tiveram chance já picaram a mula. As declarações de saída definitiva do país entregues à Receita Federal mais do que dobraram ao longo desta década. A desidratação escorre do topo da pirâmide: cerca de 12 mil brasileiros com mais de US$ 1 milhão se mudaram para o exterior nos últimos três anos, colocando o país entre os líderes da emigração de elite no mundo.
Charge de Kayser
Charge de Kayser - Kayser
Quem acredita que vai ligar a TV a partir desta sexta (31), início da campanha eleitoral, e ver as coisas clarearem está abusando do otimismo, para dizer o mínimo. Antigamente os candidatos apareciam na tela para oferecer esperança, mesmo que de mentirinha. Agora nem isso. 
Os presidenciáveis talvez nunca tenham sido tão entrevistados e sabatinados numa campanha, e isso só tem resultado em calor sem luz.
Do lado do eleitor, quem se entusiasma com a campanha e sai da toca não deixa a coisa mais bonita não. O debate na rua e nas redes rasteja no nível do chão. Discussões sobre propostas não duram três minutos. Em alguns círculos, a impressão que fica é que as pessoas simplesmente não estão mais nem aí. 
Enquanto isso, o governo fantasma coloca militares como policiais em diferentes cantos do país, sem que isso adiante de nada. Na fronteira de Roraima, os venezuelanos que fogem do péssimo para o ruim vão entrar num regime de senha para poderem ser atendidos. Quando chegarem aos postos de saúde, devem encontrar o Zé Gotinha redivivo lutando contra doenças que já não estavam mais por aqui.


Roberto Dias
Secretário de Redação da Folha.